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Investidores reconsideram peso das tarifas e Europa avança. Setor automóvel em risco
Acompanhe aqui, minuto a minuto, o desempenho dos mercados desta quinta-feira.
Investidores reconsideram peso das tarifas de Trump e Europa avança. Setor automóvel em risco
As principais bolsas europeias estão a negociar maioritariamente em alta, à exceção das praças alemã e italiana, num momento em que os investidores parecem estar a dar "um passo atrás" para reavaliar as implicações dos anúncios constantes sobre as tarifas do Presidente dos EUA, Donald Trump, nas relações comerciais por todo o mundo.
Esta quarta-feira, o republicano ameaçou retaliar as contra medidas já impostas pela União Europeia às tarifas iniciais dos EUA. O intensificar da guerra comercial têm vindo a pôr um travão nos mercados acionistas, já que as perspetivas económicas para ambos os lados do Atlântico se esmorecem à medida que se antecipa uma subida da inflação com estas medidas.
A dar ímpeto às ações europeias está ainda a esperança por um acordo de cessar-fogo entre a Ucrânia e a Rússia, que o Kremlin está a analisar. Kiev já aceitou a proposta dos EUA.
O foco do mercado está ainda na Alemanha. A maior economia do mundo deve hoje debater o plano orçamental do país, e em cima da mesa está o investimento de 500 mil milhões de euros em defesa e infraestruturas militares. Tanto os analistas como os investidores esperam por um acordo entre a CDU e Os Verdes, mas há ainda alguma hesitação e incerteza quanto ao desfecho do debate no Parlamento.
"Parece que o mercado não consegue manter nenhum ganho neste momento, o que deveria ser um grande sinal de alerta para qualquer potencial comprador", considerou à Reuters Michael Brown, da Pepperstone.
O "benchmark" para a negociação europeia, o Stoxx 600, avança 0,3% para 542,87 pontos, impulsionado por quase todos os setores que registam ganhos a esta hora. Ainda assim, há quem perca, como o setor automóvel, muito exposto a barreiras comerciais. Aliás, o Deutsche Bank afirmou que este era um setor com "riscos crescentes", já que enfrenta agora ainda mais pressões por parte das tarifas dos EUA sobre aço e alumínio e impostos separados sobre produtos de países nos quais várias fabricantes têm linhas de produção. O setor cai mais de 1%.
Entre os principais movimentos de mercado, a alemã Energiekontor subiu 3,3% depois de ter elevado a previsão de lucros de 2024 acima das expectativas do mercado.
As ações da Deliveroo caíram 6,9% para mínimos de um ano, depois de a empresa ter decidido encerrar a atividade em Hong Kong, devido às fracas vendas e crescente concorrência na cidade.
O Goldman Sachs espera que o desempenho superior das ações europeias e internacionais persista, por enquanto, em relação a Wall Street.
Entre as principais praças europeias, o alemão Dax cede 0,2% e o italiano FTSEMIB a recuar 0,26%. Já o francês CAC-40 soma 0,07%, o britânico FTSE 100 0,33% e o holandês AEX ganha 0,22%. Também o espanhol IBEX 35 valoriza 0,13%.
Dólar "frágil" e "exposto" negoceia inalterado. Iene ganha
O iene está a liderar os ganhos em relação aos pares, isto depois de o governador do Banco do Japão, Kazuo Ueda, ter dito que espera que os salários subam e as despesas de consumo melhorem à medida que a inflação das importações recua.
Este cenário abre a porta a mais descidas das taxas de juro por parte do banco central japonês. Assim, o dólar cede 0,3% para 147,82 ienes, e chegou mesmo a cair para os 147,58 ienes. O euro perde 0,4% para 160,76 ienes.
Já o dólar continua a negociar sem rumo definido. Esta manhã, o euro perde 0,13% para 1,0874 dólares, enquanto o índice de força da nota verde da Bloomberg ganha modestos 0,04% para 103,654 pontos. Face à divisa do Canadá, e depois de uma série de avanços e recuso de tarifas entre os dois países, a moeda dos EUA ganha 0,12% para 1,4387 dólares canadianos.
A incerteza sobre as previsões económicas para os EUA, assim como as preocupações dos consumidores em relação às tarifas tem agitado os mercados. Aliás, os dados do índice de preços no consumidor (IPC) norte-americano, esta quarta-feira divulgado, mostraram que, em fevereiro, os preços subiram ao ritmo mais lento em quatro meses.
"Os dados do IPC sugerem que o dólar norte-americano continua frágil", considerou Sean Callow, analista da ITC Markets, à Bloomberg. O dólar ficou ainda mais "exposto" depois de a União Europeia retaliar as tarifas dos EUA, que "deu uma razão para apostar no euro", acrescentou.
Juros da Zona Euro agravam-se. Foco dos investidores vira-se para o Bundestag e para Portugal
Os juros das dívidas soberanas da Zona Euro estão a agravar-se esta quinta-feira, e em foco estará a sessão especial no Parlamento alemão e o Conselho de Estado em Portugal, para decidir o calendário das novas eleições legislativas.
Esta manhã, os juros das "bunds" alemãs, referência para a região, agravam-se em 1,8 pontos base para 2,892%, antes de uma sessão especial no Parlamento, o Bundestag, para debater a legislação necessária para as profundas reformas fiscais do novo chanceler, Friedrich Merz, da direita conservadora CDU.
Em cima da mesa está ainda o controverso "cheque" para a defesa, que exigirá mais empréstimos por parte do Estado. Os investidores e os analistas acreditam que o plano será aprovado. A UBS diz, ainda assim, que é um "blind spot" para o mercado de obrigações, caso o partido Os Verdes votem contra.
A rendibilidade da dívida francesa cresce 3,2 pontos base para 3,582%. Ontem, o Banco de França reduziu a sua previsão de crescimento para 2025 para apenas 0,7%, contra os 0,9% anteriores, o que significa que a economia está a caminho da subida mais fraca desde a pandemia.
Por cá, os juros da dívida portuguesa, com maturidade a dez anos, sobem 2,5 pontos base para 3,379%, após a queda do Governo de Luís Montenegro e em antecipação ao Conselho de Estado presidido por Marcelo Rebelo de Sousa desta quinta-feira.
Isto ainda depois de Portugal ter voltado ao mercado da dívida esta quarta-feira, com a Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública – IGCP a emitirem 563 milhões em obrigações a 10 anos e 537 milhões em títulos que vencem dentro de 13 anos, com um cupão de 3,381% e de 3,633%, respetivamente.
Em Espanha, a "yield" da dívida com o mesmo vencimento soma 2,3 pontos para 3,516%. Em Itália, o agravamento é de 2,8 pontos para 4,016%
Fora da Zona Euro, os juros das "gilts" britânicas, também a dez anos, seguem a mesma tendência e agravam-se em 0,3 pontos base para 4,727%.
Incerteza com tarifas e inflação nos EUA dão força ao ouro
Os preços do ouro estão a ganhar terreno esta quinta-feira, com a incerteza persistente sobre as tarifas dos EUA e, agora, da União Europeia, a dar impulso à procura por ativos-refúgio, como o metal amarelo, ao mesmo tempo que o abrandamento da inflação nos EUA - mais do que o esperado -, pressionou o dólar, já que as apostas num cortes nas taxas de juro pela Reserva Federal foram reforçadas.
O metal amarelo ganha 0,33%, com a onça a valer 2.944,4 dólares, menos 12 dólares do que o recorde atingido em fevereiro.
Com a escalada de tensões da guerra comercial, os analistas começam a antecipar um futuro brilhante para o ouro. O BNP Paribas acredita que as consequências económicas das tarifas de Donald Trump levem o metal aos 3.100 dólares no segundo trimestre deste ano. A média, diz o banco, deverá rondar os 3.070 dólares de abril a junho, descendo ligeiramente para os 3.015 dólares nos três meses seguintes.
No segundo semestre, se a tensão comercial diminuir, o BNP Paribas acredita que o ouro terá dificuldades em manter o ímpeto.
O Macquarie vai mais longe e aponta mesmo que o ouro toque nos 3.500 dólares no terceiro trimestre, com os valores médios a rondar os 3.150 dólares. A razão é a mesma do que o BNP: tarifas de Trump e as consequências que trará para a maior economia do mundo, como a escalada da inflação e uma possível contração.
A incerteza económica e política fazem subir, normalmente, o apetite pelo ouro, que atua como um ativo "porto seguro" para os investidores. Desde o início do ano, o ouro já subiu 12%.
Petróleo na linha d'água. Investidores pesam tarifas, inflação e "stocks"
Os preços do petróleo estão a negociar em níveis estáveis esta quinta-feira, após ontem terem registado o maior ganho em duas semanas, impulsionado pelo abrandamento da inflação dos EUA.
O Brent – de referência para o mercado europeu – avança apenas 0,03% para 70,97 dólares, ap]os ter saltado 2% na última sessão. Por sua vez, o West Texas Intermediate (WTI) - de referência para os EUA – desvaloriza modestos 0,03% para 67,66 dólares.
Em fevereiro, os preços no consumidor norte-americano subiram ao ritmo mais lento em quatro meses, embora os economistas antecipem que a escalada de tensões comerciais com a imposição de tarifas por parte dos EUA e, agora, da União Europeia, fará subir os preços de bens, como a alimentação, nos próximos meses.
"Os preços do petróleo beneficiaram do sentimento de risco nos mercados", afirmou Charu Chanana, da Saxo Markets, à Bloomberg. "No entanto, os riscos persistem, com as preocupações com o crescimento e as tarifas a pairarem como uma nuvem negra", acrescentou.
Alguns dos maiores "traders" do "ouro negro" estão mais pessimistas quanto às perspetivas de preços, num momento em que a oferta começa a ultrapassar a procura. A Agência Internacional de Energia vai hoje publicar o relatório mensal, dois dias depois de os EUA terem reduzido as previsões de procura e de excesso de crude no mercado em 2025 e 2026.
A travar maiores perdas estão ainda os últimos dados dos "stocks" dos EUA, que registaram um aumento das reservas muito abaixo do esperado.
Tarifas de Trump continuam a travar subida das bolsas asiáticas e europeias
As bolsas asiáticas fecharam mais uma sessão maioritariamente com perdas, à boleia de mais tarifas dos EUA impostas por Donald Trump. À escalada de tensões comerciais junta-se ainda o facto de o Governador do Banco do Japão, Kazuo Ueda, ter dito no Parlamento que espera que os salários subam e as despesas dos consumidores melhorem à medida que a inflação das importações diminui, o que dá mais espaço ao banco central para aumentar as taxas de juro.
O comentário fez com que os futuros das obrigações do Japão caíssem para o seu nível mais baixo desde novembro de 2009.
"A curto prazo, dependerá muito das perspetivas dos EUA. Não sei se os receios com as tarifas estão a diminuir. Ainda parece haver muitas incertezas", disse Frank Benzimra, diretor de estratégia para as ações da Ásia na Societe Generale SA, à Bloomberg.
Alguns analistas acreditam que "o fundo do poço" para as ações em Wall Street está "provavelmente aqui". O pior da correção pode já ter passado, de acordo com o JP Morgan.
Ainda assim, as ações negociadas em Hong Kong foram das maiores vencedoras dos "caóticos" primeiros 50 dias de Trump na Casa Branca. O índice de referência, o Hang Seng, subiu 20% desde que o republicano voltou à presidência, registando o melhor desempenho do mundo. Esta quinta-feira, encerrou a perder 0,9%.
O Shanghai Composite perdeu 0,4%. No Japão, o Nikkei perdeu modestos 0,07% enquanto o Topix avançou 0,13%. Na Coreia do Sul, o Kospi recuou ligeiros 0,046%.
A Europa aponta também para perdas, com o Euro Stoxx 50 a cair 0,5%. Os investidores continuam apreensivos com a guerra comercial que se está a materializar entre os norte-americanos e a União Europeia, depois de Bruxelas ter respondido às tarifas de Donald Trump com taxas alfandegárias no valor de 26 mil milhões de euros.