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Virgolino Faneca faz um "pitch" a Anita sobre o Web Summit

Virgolino desafia Anita a uma nova aventura literária, e elabora sobre as semelhanças entre o Web Summit e Benidorm os "brainstormings" noctívagos e as consequentes "stormings" matinais.

10 de Novembro de 2017 às 17:00
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Cara Anita

Sendo tu uma especialista em "best-sellers", venho por este meio sugerir-te uma nova aventura literária que reputo de grande coturno e interesse para os leitores em geral, nomeadamente para aqueles que ainda hoje guardam memória de êxitos como "Anita na Festa das Flores" (o preferido de António Costa), "Anita e o Baile de Máscaras" (Marcelo Rebelo de Sousa já o leu um cento de vezes), "Anita e o Pardalito" (que Santana Lopes ofereceu a Rui Rio) ou "Anita Dona de Casa" (já só há um exemplar porque as Capazes queimaram tudo).

E não, não quero a tua prima Martine, que armada em sonsa te substituiu nas aventuras. Quero-te a ti, Anita, a original, a única capaz de superar o desafio que te coloco, o de escreveres um "Anita foi ao Web Summit".

À primeira vista, o tema pode parecer-te árido, mas essa é apenas uma ilusão. Na realidade, trata-se de um mundo encantado, onde toda a gente faz de conta e existem vendedores de banha da cobra pós-modernistas, que em vez de fazerem arengas nas feiras com vozes fanhosas projectadas através de microfones enrolados em lenços (esta manta não custa nem 40, nem 30, nem 20, mas apenas 10 euros e com esta manta leva ainda um estojo de pedicure para cortar as unhas ao seu marido de modo que ele não a arranhe na cama), fazem "pitches" anunciando que têm uma ideia genial e que precisam de massa para a implementar (nem sequer prometem um xaile) e depois vai-se a ver e aquilo não vale um caracol.

E depois há a malta estrangeira para quem ao Web Summit é uma espécie de viagem de finalistas a Benidorm destinada aos mais crescidos, aproveitando a oportunidade para se enfrascarem à noite com o pretexto de estar a fazer "get together" e "brainstormings". Claro que, de manhã, muitas deles acordam com uma enorme "storming" na cabeça, o que atribuem ao gigantesco fluxo de ideias brilhantes que os assaltou na noite anterior.

Imagina qualquer coisa deste género, Anita.

O Pedro, desde muita tenra idade, tinha o sonho de ter uma start-up. Quando a Anita queria brincar com ele aos médicos, à doente e aos dói-dói, dói aqui, mais abaixo, mais acima, mais ao lado, o Pedro dizia sempre, se eu tivesse uma start-up não te doía nada, desapercebendo-se de que o dói-dói da Anita era um pretexto para ele lhe tocar. Até o cão, o Pantufa, fiel amigo de ambos, se cansava da conversa do Pedro sobre as start-ups, a um ponto tal que latia compungidamente como é hábito desta espécie por altura da Lua cheia. Mal sabia o Pedro que, muitos anos mais tarde, iria existir um Web Summit onde ele iria poder exibir a sua start-up e deixar o Pantufa em casa a ver as aventuras do Noddy. O que leva a crer que o Pedro já era uma pessoa muito evoluída para a idade.

E por aí adiante…

Na verdade, Anita, ao Web Summit não esconde nada quando diz que promove a inteligência artificial, porque ali tudo é artificial. É neste contexto que se impõe um livro teu. A coisa é tão infantil que faz lembrar a expressão que o Alfredo, afamado carteirista do 28, usa depois de surripiar um camone: "É como limpar o rabinho a meninos pequeninos." Por isso, um livro infantil é um fato à medida e um êxito editorial garantido. Cá para mim, estou convencido que muitos deles disseram aos pais que iam ao Web Summit, mas não saíram dos Pub Crawls.

Dá-lhes com força que eles merecem um livro teu.


Deste que te admira,


Virgolino Faneca



Quem é Virgolino Faneca

Virgolino Faneca é filho de peixeiro (Faneca é alcunha e não apelido) e de uma mulher apaixonada pelos segredos da semiótica textual. Tem 48 anos e é licenciado em Filologia pela Universidade de Paris, pequena localidade no Texas, onde Wim Wenders filmou. É um "vasco pulidiano" assumido e baseia as suas análises no azedo sofisma: se é bom, não existe ou nunca deveria ter existido. Dele disse, embora sem o ler, Pacheco Pereira: "É dotado de um pensamento estruturante e uma só opinião sua vale mais do que a obra completa de Nuno Rogeiro". É presença constante nos "Prós e Contras" da RTP1. Fica na última fila para lhe ser mais fácil ir à rua fumar e meditar. Sobre o quê? Boa pergunta, a que nem o próprio sabe responder. Só sabe que os seus escritos vão mudar a política em Portugal. Provavelmente para o rés-do-chão esquerdo, onde vive a menina Clotilde, a sua grande paixão. O seu propósito é informar epistolarmente familiares, amigos, emigrantes, imigrantes, desconhecidos e extraterrestres, do que se passa em Portugal e no mundo. Coisa pouca, portanto.

 

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