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Virgolino Faneca foi comer ao cemitério dos Prazeres e ninguém se indignou

Virgolino Faneca, depois do que se passou com o repasto à luz das velas no Panteão Nacional, avança com propostas realmente espectaculares para tomar as rédeas da indignação viral.

17 de Novembro de 2017 às 17:00
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Prezado Fernando

Pois que te escrevo a solicitar que te juntes à minha causa, a de fazedor de indignações de natureza viral 4.0. Tu tens muita experiência porque eras a boca de trapos lá do bairro e eu não me fico atrás, sendo referenciado na Venda Nova como o "merdas" que só sabe dizer mal dos outros.

Esta ideia ocorreu-me no decurso de um prazenteiro almoço com a Deolinda (a pedicure, lembras-te dela, maroto!) no cemitério dos Prazeres. Estávamos nós a deliciar-nos com um osso buco magnificamente estufado e já a salivar com os papos de anjo que tínhamos levado para sobremesa, quando me dei conta de que havia uns tipos que nos tinham imitado na ideia de comer rodeados de defuntos.

Mais zangado fiquei quando percebi que esses gajos, ligados à porra do Web Summit, estavam a ser alvos de uma supimpa indignação e nós nada. Eu e a Deolinda, que todas as semanas comemos em cemitérios, do Alto de São à Ajuda, passando pelo Lumiar, não merecemos uma única referência. Porquê?! Somos menos do que esses tipos só por sermos portugueses?

Para combater este ostracismo, resolvi tomar a iniciativa e criar uma série de factos que me permitam atingir o zénite da indignação, seja como seu promotor ou mesmo como o seu rosto. Até porque, neste momento, quem não é alvo de uma indignação é tão-só uma inexistência.

Neste quadro, tenho umas ideias para indignar as pessoas que gostaria de cotejar contigo, estando também totalmente disponível para receber as tuas propostas que serão certamente excelsas.

1. Promover uma indignação resultante do facto de continuar a fazer sol em Portugal quando as pessoas estão mortinhas por usar roupa de Inverno.

2. Promover uma indignação contra CR7 por ele ter escolhido um nome estrangeiro para a filha, colocando em causa o seu patriotismo.

3. Promover uma indignação derivada de o líder da Fenprof ter deixado crescer a barba, o que obriga a comunicação social a rever os seus arquivos fotográficos.

4. Promover uma indignação contra Madonna. Para ter cantoras americanas cá, preferimos a Taylor Swift.

5. Promover uma indignação contra a Gio por ter afastado a mãe Dolores.

6. Promover uma indignação contra os políticos, sem excepção, que disserem alguma coisa de que não gostamos.

7. Promover uma indignação contra José Sócrates (se calhar, não é necessário).

8. Promover uma indignação contra os carapaus de corrida de Bruxelas que nos querem impedir de comer sardinhas.

9. Promover uma indignação contra a marca automóvel que permitiu que David Carreira tivesse um acidente de carro.

10. Promover uma indignação pelo facto de a indignação do pénis do Pequeno Pónei ter sido relegada para segundo plano por causa da indignação do jantar no Panteão.

Mais ou menos, são estas as minhas propostas, Fernando. Aguardo os teus prestimosos contributos. Despeço-me com um: indignados de todo o mundo, uni-vos, porque com vocês a nossa causa será imbatível.


Um abraço fraterno deste teu,


Virgolino Faneca



Quem é Virgolino Faneca

Virgolino Faneca é filho de peixeiro (Faneca é alcunha e não apelido) e de uma mulher apaixonada pelos segredos da semiótica textual. Tem 48 anos e é licenciado em Filologia pela Universidade de Paris, pequena localidade no Texas, onde Wim Wenders filmou. É um "vasco pulidiano" assumido e baseia as suas análises no azedo sofisma: se é bom, não existe ou nunca deveria ter existido. Dele disse, embora sem o ler, Pacheco Pereira: "É dotado de um pensamento estruturante e uma só opinião sua vale mais do que a obra completa de Nuno Rogeiro". É presença constante nos "Prós e Contras" da RTP1. Fica na última fila para lhe ser mais fácil ir à rua fumar e meditar. Sobre o quê? Boa pergunta, a que nem o próprio sabe responder. Só sabe que os seus escritos vão mudar a política em Portugal. Provavelmente para o rés-do-chão esquerdo, onde vive a menina Clotilde, a sua grande paixão. O seu propósito é informar epistolarmente familiares, amigos, emigrantes, imigrantes, desconhecidos e extraterrestres, do que se passa em Portugal e no mundo. Coisa pouca, portanto.



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