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Virgolino Faneca ouviu Jeroen Dijsselbloem cantar a Mula da Cooperativa. Saiba porquê

Mário Centeno celebrou a eleição como presidente do Eurogrupo com moules e água com gás. Jeroen Dijsselbloem afagou as mágoas em Old Parr e consta que quer vir morar para o Sul.

Reuters
07 de Dezembro de 2017 às 17:00
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Amiga Clara

Antes de mais, um pedido de desculpa por ter faltado ao nosso jogo semanal de strip poker, mas a verdade é que já estou farto de ver as banhas do Casimiro, o qual perde de propósito só para te tentar seduzir. Como se meio quilo de carne flácida pendurada na barriga fosse capaz de provocar frémitos em alguém. Tenho para mim que até mesmo um leão esfomeado pensaria duas ou três vezes antes de se atirar a ele, com receio dos efeitos perniciosos da gordura. Mas vamos ao que interessa.

Pois que me ausentei do país, imbuído da tarefa de relatar para o jornal A Sentinela, com sede na Sonega, a eleição de Mário Centeno como presidente do Eurogrupo. Trata-se de um órgão de comunicação social prestigiado, com leitores num raio de acção entre Sines e o Cercal do Alentejo, sendo muito respeitado, sobretudo pelo Zacarias, dono da tipografia lá do sítio, para o qual o dito é por estes dias o seu único cliente.

Portanto, tomei um avião para Bruxelas, não sem antes ter ligado para a Josefina que já lá vive há uma catrefada de anos, de modo que arranjei alojamento à borla na capital da União Europeia e ainda mantive os pés e outras partes da anatomia humana quentes durante a noite (escrevo isto só para que tu realizes o que estás a perder, Clara), sentindo-me assim tonificado para levar a bom porto a tarefa de que fui incumbido.

E foi assim que consegui uma cacha mundial, que te revelo em primeira mão e peço que mantenhas em segredo visto que, infelizmente, o Sentinela é uma publicação mensal.

Ora acontece que estava a passear na Grand Place, a fazer tempo para assistir à consumação da vitória do nosso Ronaldo do Ecofin, quando uma grande algazarra proveniente de um dos restaurantes da praça, apropriadamente chamado La Chaloupe d'Or, captou a minha atenção. Como coscuvilheiro que sou, aproximei-me e deparei com espectáculo inesperado: um tipo de óculos, nariz afilado e caracoizinhos conseguidos à custa da aplicação de gel, cantava "A Mula da Cooperativa" em holandês. Perguntas, como é que eu o identifiquei. Fácil. Tive uma namorada deste país que, além de me ter ensinado umas boas três dúzias de palavras, também tinha óptimos dotes como escalfeta humana. O gajo cantava "a mula da cooperativa/deu dois coices no telhado/ai és tão linda não acho nada", pedia um brinde com aquelas canecas gigantescas de cerveja, depois continuava, "por causa do zé da adega/ sempre por causa dele/ por causa do zé da adega /não saber cantar o fado" e vai de emborcar mais. Sabes quem era? Pois que era o Jeroen Dijsselbloem, que nos intervalos da cantoria questionava um senhor em cadeira de rodas (fácil, era o Schäuble ): chefe, como é que o senhor permitiu que o nosso lindo Eurogrupo seja liderado por um ministro de um daqueles países onde se gasta muito dinheiro em bebidas e mulheres? E o Jeroen estava tão desiludido que começou a afagar as mágoas em bebidas brancas, primeiro gin (que é mesmo branco, ou melhor, incolor) e depois em uísque, Old Parr, que não é propriamente branco. E foi quando passou para o Old Parr que voltei a ficar incrédulo, porque o tipo começou a dizer para o Wolfgang que aquela marca lhe fazia lembrar as distintas casas que ostentam uma luzinha vermelha na ombreira da porta, onde só se entra com o assentimento de uma matrona qualquer, e que nessa noite iria visitar uma delas, o que não acontecia há muito tempo, para aí uma semana.

Via-se que o Wolfgang estava embaraçado com o Jeroen, a tal ponto que alertou o outro para uma singularidade qualquer no outro extremo da sala e pirou-se enquanto o outro tentava arduamente focar o olhar.

Para terminar esta coisa e concluir que, de facto, o Eurogrupo está a mudar, no dia a seguir fui ao mesmo La Chaloupe d'Or e deparei-me com o nosso Mário e comitiva a celebrarem a vitória com umas moules (não havia choquinhos com tinta) e água, com e sem gás. E eis que chega o Jeroen, com ar abatido, a pedir: Ó Mário, não te importas de me emprestar 100 euros, é que ontem um fulano do Sul - sei que era do Sul porque tinha bigode - roubou-me a carteira e não tenho dinheiro para voltar para casa. Claro, Jeroen, disse o Mário, acrescentando delicadamente: queres beber alguma coisa? Pode ser um Old Parr. E foi.

Um abraço saudoso deste que te quer em todos os sentidos,


Virgolino Faneca



Quem é Virgolino Faneca

Virgolino Faneca é filho de peixeiro (Faneca é alcunha e não apelido) e de uma mulher apaixonada pelos segredos da semiótica textual. Tem 48 anos e é licenciado em Filologia pela Universidade de Paris, pequena localidade no Texas, onde Wim Wenders filmou. É um "vasco pulidiano" assumido e baseia as suas análises no azedo sofisma: se é bom, não existe ou nunca deveria ter existido. Dele disse, embora sem o ler, Pacheco Pereira: "É dotado de um pensamento estruturante e uma só opinião sua vale mais do que a obra completa de Nuno Rogeiro". É presença constante nos "Prós e Contras" da RTP1. Fica na última fila para lhe ser mais fácil ir à rua fumar e meditar. Sobre o quê? Boa pergunta, a que nem o próprio sabe responder. Só sabe que os seus escritos vão mudar a política em Portugal. Provavelmente para o rés-do-chão esquerdo, onde vive a menina Clotilde, a sua grande paixão. O seu propósito é informar epistolarmente familiares, amigos, emigrantes, imigrantes, desconhecidos e extraterrestres, do que se passa em Portugal e no mundo. Coisa pouca, portanto.

 


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