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Jesus, Vitória e Conceição deram uma conferência conjunta. Virgolino Faneca conta como foi

Jorge Jesus, Sérgio Conceição e Rui Vitória juntaram-se para dar uma conferência de imprensa a que (inexplicavelmente) só Virgolino Faneca assistiu. O futebol português está bem e recomenda-se, como adiante se lerá.

12 de Janeiro de 2018 às 17:00
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Caro Morris

Sei que és um amante do futebol e que andas muito desiludido com o que se está a passar aí em Inglaterra, mormente a discussão entre um treinador italiano, Antonio Conte, e um português, José Mourinho. Como decerto já percebeste, bastaram dois latinos para pôr o futebol inglês num virote. Mas, em abono do meu querido Portugal, deixa-me dizer que os treinadores de futebol no nosso país se comportam exemplarmente, pelo que o problema deve estar relacionado com o clima daí ou com a alimentação. E, para que não restem dúvidas deste espírito, envio-te um elucidativo trecho da conferência de imprensa concedida em simultâneo pelos treinadores do Sporting, Benfica e Porto.

Jorge Jesus (JJ): Sporting: Então vamos a isso!

Rui Vitória (RV): Benfica: Vamos.

Sérgio Conceição (SC): Porto: Esperem só um bocadinho que vou só ali buscar o boneco do meu filho.

JJ e RV: Para quê?

SC: Para carregar no botão e ficar em modo padre.

JJ: Isso é uma boa ideia. Também vou ali buscar um boneco.

RV e SC: Para quê?

JJ: É uma coisa táctica que inventei. Vocês ficam a olhar para o boneco que ponho no meio campo e, entretanto, meto o Podence, que é pequenino e custa-se a ver, e zás, o miúdo faz golo.

SC: Mas isto é uma conferência de imprensa!

RV: E eu fico a fazer o quê aqui, a olhar para o boneco?

JJ: Olha que isso não seria diferente do que fazes quando estás num jogo.

RV: Nós viemos aqui para dar um exemplo de fair-play. Eu tenho muito fair­-play. Até meto o Filipe Augusto a jogar para que as outras equipas possam ganhar, ou, no mínimo, empatar.

SC: Eu também tenho imenso fair-play. Só o perco quando não ganho ou as coisas estão a correr mal.

JJ: Eu também, mas não o uso porque ganho sempre. E quando não ganho a culpa não é do fair-play, é do árbitro.

RV: Eu não sou nenhuma criança nem sou tonto. Quando tenho uma conversa, é a pensar que estamos a falar todos a um nível de inteligência relativamente elevado, como quando faço chás com a minha filha e as bonecas dela. Falamos sobre tudo e, embora não vá muito à bola com a Barbie, aceito o que ela diz.

SC: Olhe este! Deves pensar que as bonecas da tua filha são melhores do que o boneco do meu filho. O boneco do meu filho também tem um botão com o modo agressivo. Deves estar a querer que eu o use.

RV: Deixem-me ser claro.

JJ: Eu deixo, desde que me deixem dizer que sou o melhor treinador do mundo e, quiçá, da Europa.

SC: Mas o mundo é maior do que a Europa.

RV: Por exemplo, eu tenho um defesa­-direito que é o melhor do mundo, o Douglas, mas na Europa não presta para nada.

SC: Pfff… Eu consegui pôr o Marega a marcar golos e a parecer um jogador do outro mundo.

JJ: E eu! Fui eu que descobri o Douglas e o Marega e deixei que fossem para os vossos clubes.

RV: Na realidade, tens muito fair-play.

SC: Não tem mais do que eu. Por exemplo, na Bélgica, até ofereci uma camisola a um árbitro e fui mal interpretado. Toda a gente pensou que aquilo era uma agressão e eu estava só a ser generoso.

RV: Eu gostava de oferecer camisolas aos árbitros, mas o meu presidente diz que o "stock" do Eusébio já se esgotou. É uma pena.

JJ: Eu acho que o campeonato vai ser disputado jogo a jogo e no fim ganhará a equipa que tiver mais pontos.

RV: Eu também acho. E digo mais. O campeonato vai ser disputado até às últimas jornadas.

SC: Eu vou ali buscar a Maria Leal, porque o boneco do meu filho não tem o modo conversa parva.

Maria Leal (ML): Como é que eu vim parar a esta conversa?

JJ, RV e SC: É para nos ensinares o dialecto da ternura.

ML: Estão muito atrevidotes os meninos. Não têm bolas suficientes para brincar?

SC: A mim, no Natal, só me ofereceram um VAR!

RV: A mim, deram-me um equipamento da Macron!

JJ: E a mim deram-me um comboio para eu ir com o Pai Natal comprar jogadores.

E pronto, Morris, é isto. Como vês, respira-se saúde no futebol português. Rói­-te de inveja.

Este teu,


Virgolino Faneca



Quem é Virgolino Faneca

Virgolino Faneca é filho de peixeiro (Faneca é alcunha e não apelido) e de uma mulher apaixonada pelos segredos da semiótica textual. Tem 48 anos e é licenciado em Filologia pela Universidade de Paris, pequena localidade no Texas, onde Wim Wenders filmou. É um "vasco pulidiano" assumido e baseia as suas análises no azedo sofisma: se é bom, não existe ou nunca deveria ter existido. Dele disse, embora sem o ler, Pacheco Pereira: "É dotado de um pensamento estruturante e uma só opinião sua vale mais do que a obra completa de Nuno Rogeiro". É presença constante nos "Prós e Contras" da RTP1. Fica na última fila para lhe ser mais fácil ir à rua fumar e meditar. Sobre o quê? Boa pergunta, a que nem o próprio sabe responder. Só sabe que os seus escritos vão mudar a política em Portugal. Provavelmente para o rés-do-chão esquerdo, onde vive a menina Clotilde, a sua grande paixão. O seu propósito é informar epistolarmente familiares, amigos, emigrantes, imigrantes, desconhecidos e extraterrestres, do que se passa em Portugal e no mundo. Coisa pouca, portanto.



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