Notícia
Virgolino Faneca revela quem é o pai de todos os branqueamentos de capitais
Isto anda tudo ligado. A teia de branqueamento de capitais foi urdida por um génio do crime que se tem mantido na sombra. Até agora. Virgolino Faneca, um génio da investigação, revela a sua identidade.
Venho por este meio comunicar-vos quem é o cérebro de todos os casos de tráfico de influências, branqueamento de capitais, recebimento indevido e quejandos que têm envolvido ilustres figuras da nossa praça (e não só) que vocês, no estrito cumprimento do dever, investigam com um louvável denodo. E faço-o para perceberem que por trás da cortina está um indivíduo que pede meças a Moriarty (piscadela de olho aos leitores de Sherlock Holmes) enquanto génio do crime. Antes de revelar a sua identidade, acrescento que aprendeu muito das suas artes com o polvo Paul, o cefalópode que manipulou os resultados do Mundial de futebol da África do Sul, sob o pretexto de ter dotes mediúnicos. E tem também uns pozinhos de Ponzi pela forma como cria factos em cascata, onde todos parecem que estão a ganhar até ficarem irremediavelmente sem nada.
... (as reticências são, neste caso, um rufar de tambores literário que precede o revelar do segredo).
… (as reticências, são, neste caso, uma forma de encher espaço, porque me pagam ao caracter).
E eis, meus senhores, a identidade do vilão: PARAGRAFINO PESCADA. Assim mesmo, em maiúsculas, dada a enormidade dos crimes que cometeu.
Para que não julguem tratar-se de uma denúncia sem fundamento, revelo aqui alguns dos detalhes do seu "modus operandi" e da forma como isto anda tudo ligado: Paragrafino começou por comprar uns livros em nome de um ex-secretário de Estado de Sócrates, José Condes Rodrigues, recorrendo a uma agente infiltrada que surripiou um cartão de crédito da carteira do governante aproveitando uma ocasião em que este lhe ajeitava o rabo-de-cavalo. Num momento posterior falcatruou a factura de aquisição, introduzindo o nome e as quantidades da obra comprada: "A Tortura de Democracia", 50 exemplares, e deixou-a cair junto de uns senhores do Ministério do Público que costumam ir almoçar a um restaurante na avenida de Berna. Posteriormente fez uma denúncia anónima que foi parar ao juiz Rui Rangel. Este, que andava a adquirir umas moradias com o senhor Sobrinho, não fez caso do caso, e o Paragrafino, remeteu a dita para o doutor Souto Moura, insinuando que o juiz não só tinha fechado os olhos à sua informação como também, além de ver casas com o Sobrinho, assistia a jogos de futebol do Benfica na companhia do ministro Centeno e no intervalo distribuía os livros comprados pelo Conde Rodrigues, que, como já se viu, eram os escritos por Sócrates. Entretanto, andava o doutor Orlando Figueira pela floresta, quando o Paragrafino percebeu que havia uma oportunidade para meter o lobo na história. Vai daí, arranjou uma máscara do Manuel Vicente, mas em vez de o comer, seduziu-o com uma maçã, porque sempre confundiu as histórias e meteu a bela adormecida no enredo do lobo mau. Enquanto ele ressonava hipnotizado, soprou-lhe ao ouvido o nome de Carlos Silva e mostrou-lhe (porque as pessoas hipnotizadas vêem) umas fotografias do Mussulo, inculcando no dito o desejo de ir vivendo para Angola.
Depois disto e muito mais, bastou a Paragrafino aplicar a táctica de Tulius Detritus (dizendo a um o que o outro tinha feito e assim sucessivamente), para arranjar este belo caldinho, pôr meio mundo de pantanas, outro meio mundo a comprar software para despistar escutas nos telemóveis e o terceiro mundo a gozar o pagode do primeiro mundo.
É claro que podes dizer que isto não faz sentido nenhum. Sendo isso uma probabilidade, existe também a hipótese de não o ser. O melhor é perguntares ao Paragrafino, se o encontrares.
Um amplexo deste teu,
Virgolino Faneca
Quem é Virgolino Faneca
Virgolino Faneca é filho de peixeiro (Faneca é alcunha e não apelido) e de uma mulher apaixonada pelos segredos da semiótica textual. Tem 48 anos e é licenciado em Filologia pela Universidade de Paris, pequena localidade no Texas, onde Wim Wenders filmou. É um "vasco pulidiano" assumido e baseia as suas análises no azedo sofisma: se é bom, não existe ou nunca deveria ter existido. Dele disse, embora sem o ler, Pacheco Pereira: "É dotado de um pensamento estruturante e uma só opinião sua vale mais do que a obra completa de Nuno Rogeiro". É presença constante nos "Prós e Contras" da RTP1. Fica na última fila para lhe ser mais fácil ir à rua fumar e meditar. Sobre o quê? Boa pergunta, a que nem o próprio sabe responder. Só sabe que os seus escritos vão mudar a política em Portugal. Provavelmente para o rés-do-chão esquerdo, onde vive a menina Clotilde, a sua grande paixão. O seu propósito é informar epistolarmente familiares, amigos, emigrantes, imigrantes, desconhecidos e extraterrestres, do que se passa em Portugal e no mundo. Coisa pouca, portanto.