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Virgolino Faneca disseca o monólogo do presidente Bruno

Recorrendo a ferramentas semióticas de alta precisão, Virgolino Faneca revela o verdadeiro significado (e também o significante) do monólogo encantado de Bruno de Carvalho.

09 de Fevereiro de 2018 às 17:00
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Caro Amílcar

Acuso a recepção da missiva na qual solicitas os meus bons ofícios, isto é, os conhecimentos que possuo em matéria de decifração de mensagens, para que te elucide sobre o real significado do monólogo produzido pelo ilustre presidente do Sporting, Bruno de Carvalho.

Antes de mais, regozijo-me por reconheceres as capacidades que fazem de mim um superlativo semiólogo, com provas dadas nos quatro cantos do mundo e noutras figuras geométricas como o círculo polar árctico.

Por isso, foi com denodo que me lancei nessa intricada tarefa, da qual agora te apresento os resultados, esperando que os mesmos te satisfaçam. Eis as frases e a sua descodificação.

"Eu não durmo com um olho aberto, durmo com os três fechados."
Eis a prova provada de que Bruno de Carvalho (BdC) dorme com o livro de Michel Foucault, "Vigiar e Punir", à cabeceira. Nesta obra, o filósofo francês aborda a mudança histórica do poder que abandonou a punição em troca da vigilância constante e reguladora, patente, por exemplo, no conceito do panóptico, que no fundo é o tipo que se encontra numa posição em que vigia todos sem ser visto. Ao fechar os olhos, a mensagem que BdC pretende transmitir é a de que não pretende vigiar e se recusa a ser vigiado. A outra possibilidade de interpretação deste pensamento é demasiado bardajona para o nível intelectual de BdC. Afinal, ele tem um "de" entre o Bruno e o Carvalho, que também é uma espécie de terceiro olho.

"Instabilidade afecta a equipa? Não, porque eu também já não era convocado por Jorge Jesus."
A desconstrução desta mensagem permite chegar à conclusão de que BdC está efectivamente descontente com o treinador Jorge Jesus (JJ) devido ao facto de não ser convocado pelo mister. O que acaba por amenizar a dor de BdC, jogador com a morfologia de um número 10, é o facto do Wendel, que custou seis milhões de euros, também não calçar as botas. Nesta medida, BdC tem pensamentos contraditórios e vai acalentando a esperança de que JJ está a guardar os melhores, ele e o Wendel, para a recta final do campeonato.

"Estou a ser completamente humilhado, difamado e maltratado por sportinguistas há sete anos."
BdC aprendeu nos melhores manuais de psicologia e sabe que a estratégia de vitimização pode ser muito vantajosa, na medida em que emergindo como vítima uma pessoa acaba por ser poupada das críticas dos outros. Além disso, passa a contar com a compreensão e compaixão de quem o rodeia, independentemente do que tenha feito. Sendo que esta coisa dura há sete anos, é ainda admissível que BdC tenha tendências masoquistas, o que explicaria o seu sportinguismo. Também é possível que BdC acredite mesmo no que diz, circunstância que remete para uma patologia muito complicada.

"O Facebook tanto tem mudado no futebol, se não fossem os meus 'posts', tinham o VAR no raio que os parta."
Com esta frase, BdC está a tentar promover de forma subliminar uma revolução no futebol nacional. Para quem não percebeu (porque deve estar entretido a humilhar e a maltratar o senhor), o presidente do Sporting está a propor que Mark Zuckerberg substitua José Fontelas Gomes como presidente do conselho de arbitragem. Os VAR, naturalmente, passam a ser todos os cidadãos maiores e vacinados com conta no Facebook há pelo menos cinco anos e que não passem o tempo a difamar BdC.

"Tem sido um forrobodó no telemóvel da minha mulher. Não ligo o caraças. Um dia vamos ver beu-beu, foi..."
A semiótica mostrou-se manifestamente incapaz de decifrar o significante da expressão "beu-beu, foi…". Já quanto ao forrobodó no telemóvel da mulher é cristalino que se trata de uma metáfora que pisca o olho ao Carnaval e às matrafonas de Torres Vedras. E quando enfatiza que não liga o caraças está a declarar que não vai à bola com esta época de folia e exageros porque a encara como uma ameaça. Afinal, BdC não gosta de concorrência neste tipo de matérias e o Carnaval é quando ele quiser, ou seja, quando faz um "post" no Facebook ou manda o Nuno Saraiva fazer, por estar ocupado com outro forrobodó.

Pronto. Depois disto, acho que ficarás com a cátedra Cavaco Silva - Nunca me engano e raramente tenho dúvidas.


Um abraço deste que te estima,


Virgolino Faneca



Quem é Virgolino Faneca

Virgolino Faneca é filho de peixeiro (Faneca é alcunha e não apelido) e de uma mulher apaixonada pelos segredos da semiótica textual. Tem 48 anos e é licenciado em Filologia pela Universidade de Paris, pequena localidade no Texas, onde Wim Wenders filmou. É um "vasco pulidiano" assumido e baseia as suas análises no azedo sofisma: se é bom, não existe ou nunca deveria ter existido. Dele disse, embora sem o ler, Pacheco Pereira: "É dotado de um pensamento estruturante e uma só opinião sua vale mais do que a obra completa de Nuno Rogeiro". É presença constante nos "Prós e Contras" da RTP1. Fica na última fila para lhe ser mais fácil ir à rua fumar e meditar. Sobre o quê? Boa pergunta, a que nem o próprio sabe responder. Só sabe que os seus escritos vão mudar a política em Portugal. Provavelmente para o rés-do-chão esquerdo, onde vive a menina Clotilde, a sua grande paixão. O seu propósito é informar epistolarmente familiares, amigos, emigrantes, imigrantes, desconhecidos e extraterrestres, do que se passa em Portugal e no mundo. Coisa pouca, portanto.



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