Notícia
Virgolino Faneca disseca o monólogo do presidente Bruno
Recorrendo a ferramentas semióticas de alta precisão, Virgolino Faneca revela o verdadeiro significado (e também o significante) do monólogo encantado de Bruno de Carvalho.
Acuso a recepção da missiva na qual solicitas os meus bons ofícios, isto é, os conhecimentos que possuo em matéria de decifração de mensagens, para que te elucide sobre o real significado do monólogo produzido pelo ilustre presidente do Sporting, Bruno de Carvalho.
Por isso, foi com denodo que me lancei nessa intricada tarefa, da qual agora te apresento os resultados, esperando que os mesmos te satisfaçam. Eis as frases e a sua descodificação.
"Eu não durmo com um olho aberto, durmo com os três fechados."
Eis a prova provada de que Bruno de Carvalho (BdC) dorme com o livro de Michel Foucault, "Vigiar e Punir", à cabeceira. Nesta obra, o filósofo francês aborda a mudança histórica do poder que abandonou a punição em troca da vigilância constante e reguladora, patente, por exemplo, no conceito do panóptico, que no fundo é o tipo que se encontra numa posição em que vigia todos sem ser visto. Ao fechar os olhos, a mensagem que BdC pretende transmitir é a de que não pretende vigiar e se recusa a ser vigiado. A outra possibilidade de interpretação deste pensamento é demasiado bardajona para o nível intelectual de BdC. Afinal, ele tem um "de" entre o Bruno e o Carvalho, que também é uma espécie de terceiro olho.
"Instabilidade afecta a equipa? Não, porque eu também já não era convocado por Jorge Jesus."
A desconstrução desta mensagem permite chegar à conclusão de que BdC está efectivamente descontente com o treinador Jorge Jesus (JJ) devido ao facto de não ser convocado pelo mister. O que acaba por amenizar a dor de BdC, jogador com a morfologia de um número 10, é o facto do Wendel, que custou seis milhões de euros, também não calçar as botas. Nesta medida, BdC tem pensamentos contraditórios e vai acalentando a esperança de que JJ está a guardar os melhores, ele e o Wendel, para a recta final do campeonato.
"Estou a ser completamente humilhado, difamado e maltratado por sportinguistas há sete anos."
BdC aprendeu nos melhores manuais de psicologia e sabe que a estratégia de vitimização pode ser muito vantajosa, na medida em que emergindo como vítima uma pessoa acaba por ser poupada das críticas dos outros. Além disso, passa a contar com a compreensão e compaixão de quem o rodeia, independentemente do que tenha feito. Sendo que esta coisa dura há sete anos, é ainda admissível que BdC tenha tendências masoquistas, o que explicaria o seu sportinguismo. Também é possível que BdC acredite mesmo no que diz, circunstância que remete para uma patologia muito complicada.
"O Facebook tanto tem mudado no futebol, se não fossem os meus 'posts', tinham o VAR no raio que os parta."
Com esta frase, BdC está a tentar promover de forma subliminar uma revolução no futebol nacional. Para quem não percebeu (porque deve estar entretido a humilhar e a maltratar o senhor), o presidente do Sporting está a propor que Mark Zuckerberg substitua José Fontelas Gomes como presidente do conselho de arbitragem. Os VAR, naturalmente, passam a ser todos os cidadãos maiores e vacinados com conta no Facebook há pelo menos cinco anos e que não passem o tempo a difamar BdC.
"Tem sido um forrobodó no telemóvel da minha mulher. Não ligo o caraças. Um dia vamos ver beu-beu, foi..."
A semiótica mostrou-se manifestamente incapaz de decifrar o significante da expressão "beu-beu, foi…". Já quanto ao forrobodó no telemóvel da mulher é cristalino que se trata de uma metáfora que pisca o olho ao Carnaval e às matrafonas de Torres Vedras. E quando enfatiza que não liga o caraças está a declarar que não vai à bola com esta época de folia e exageros porque a encara como uma ameaça. Afinal, BdC não gosta de concorrência neste tipo de matérias e o Carnaval é quando ele quiser, ou seja, quando faz um "post" no Facebook ou manda o Nuno Saraiva fazer, por estar ocupado com outro forrobodó.
Pronto. Depois disto, acho que ficarás com a cátedra Cavaco Silva - Nunca me engano e raramente tenho dúvidas.
Um abraço deste que te estima,
Virgolino Faneca
Quem é Virgolino Faneca
Virgolino Faneca é filho de peixeiro (Faneca é alcunha e não apelido) e de uma mulher apaixonada pelos segredos da semiótica textual. Tem 48 anos e é licenciado em Filologia pela Universidade de Paris, pequena localidade no Texas, onde Wim Wenders filmou. É um "vasco pulidiano" assumido e baseia as suas análises no azedo sofisma: se é bom, não existe ou nunca deveria ter existido. Dele disse, embora sem o ler, Pacheco Pereira: "É dotado de um pensamento estruturante e uma só opinião sua vale mais do que a obra completa de Nuno Rogeiro". É presença constante nos "Prós e Contras" da RTP1. Fica na última fila para lhe ser mais fácil ir à rua fumar e meditar. Sobre o quê? Boa pergunta, a que nem o próprio sabe responder. Só sabe que os seus escritos vão mudar a política em Portugal. Provavelmente para o rés-do-chão esquerdo, onde vive a menina Clotilde, a sua grande paixão. O seu propósito é informar epistolarmente familiares, amigos, emigrantes, imigrantes, desconhecidos e extraterrestres, do que se passa em Portugal e no mundo. Coisa pouca, portanto.