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Virgolino Faneca faz o balanço de 2018 (não é gralha)

O resto do ano vai ser uma pasmaceira ou mais do mesmo. Por tudo isso e também para evitar ser ultrapassado pela concorrência, Virgolino Faneca faz o balanço do ano de 2018. Imperdível, porque a modéstia ficou lá atrás, em 2017.

26 de Janeiro de 2018 às 17:00
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Dilecta Josefina

Não sei porquê, quando te escrevo emergem na minha pessoa ímpetos napoleónicos, mas acabo sempre por sucumbir a um qualquer Waterloo e condeno-me ao degredo na ilha de Santa Helena, que no meu caso assume a forma de um livro do José Rodrigues dos Santos, o que, convenha-se, é uma punição deveras substantiva.

Pois que é o seguinte, Josefina, em 2017 fui completamente ultrapassado no meu desiderato de fazer o balanço do ano, na medida em que, pelos idos de Outubro e Novembro, já havia jornais, televisões e rádios a fazer o dito, num frenesim de antecipação que até parecia que Dezembro não existia.

Para evitar ser ultrapassado de novo, resolvi fazer o balanço de 2018 já em Janeiro. Claro que podes aduzir que, nos 11 meses que faltam para chegarmos ao final do ano, ainda irão acontecer muitas coisas diversas, mas considero que este mês é de tal forma esmagador, e, nesta medida, mais do que suficiente para justificar esta empreitada.

Após os acontecimentos que vou enumerar, tu, Josefina, que és uma céptica empedernida, irás dar-me razão. E com jeitinho ainda acabas por ir ter comigo a Santa Helena, sendo que neste particular a dificuldade é cabermos os dois num livro do Zé, embora tenha a percepção de que "As Flores de Lótus" será concomitantemente aconchegante e apropriado para o efeito.

Vamos então aos factos, personagens e acontecimentos de 2018.

1. A lesão de Cristiano Ronaldo. Depois de uma lesão gravíssima que o obrigou a ser suturado com três pontos no sobrolho, o jogador do Real Madrid passou o resto do ano de cenho franzido, circunstância que obstaculizou a uma boa presença de Portugal no Mundial da Rússia.
2. A afirmação do novo Ronaldo. Formado na cantera de Portimão, o novo Ronaldo destacou-se pelas reviengas no Eurogrupo, as quais lhe permitiram escapar aos "tackles" assassinos de alguns jogadores do PS. A vírgula que fez a Dijsselbloem, aprendida na bancada central do Estádio da Luz, ficará na história do euro. É credor do prémio ripa na rapaqueca.
3. O surgimento da Supernanny. A Supernanny, que podia ser uma supertia supimpa, mas não é, marcou indelevelmente o ano, proporcionando extraordinários momentos de indignação colectiva. Entra na categoria de ignomínia, mas também nas de que se lixe o resto, o que importa são as audiências e como vender um filho e a dignidade por mil euros.
4. Marcelo Rebelo de Sousa. Porque sim.
5. A maternidade de Carolina Patrocínio. Descobriu que a forma de se manter entre os famosos é ser mãe. Merece destaque pelo modo como se empenha no combate ao envelhecimento da população e também por ter aprendido a tirar as grainhas das uvas. Afinal, a futilidade é uma arte.
6. As relações Portugal-Angola. Os dois países destacaram-se em matéria desportiva, exibindo ambos excelsos predicados de mesa-tenistas: zangam-se-fazem as pazes-zangam-se-fazem as pazes-zangam-se-fazem as pazes. A assistência, por sua vez, foi afectada por torcicolos derivados deste pingue-pongue.
7. Rui Rio. Porque mostrou que não é só Santana Lopes que sabe andar por aí. Não lê romances, mas conseguiu meter-se num grande enredo.
8. Francisco J. Marques. É uma figura que entra na categoria efeitos especiais pela sua espectacularidade performativa. Sem ele, o futebol seria apenas um desporto, ou seja, uma grande chatice.
9. A figura internacional é, naturalmente, Donald Trump. Mais que não seja para evitar um tweet dele a questionar os meus critérios #badchoicevirgolinofanecafakenews.

E pronto, Josefina. Espero-te em Santa Helena. Traz uma escalfeta se faz favor, porque estou a sofrer muito de frio nos pés.


Um ósculo deste teu,


Virgolino Faneca



Quem é Virgolino Faneca

Virgolino Faneca é filho de peixeiro (Faneca é alcunha e não apelido) e de uma mulher apaixonada pelos segredos da semiótica textual. Tem 48 anos e é licenciado em Filologia pela Universidade de Paris, pequena localidade no Texas, onde Wim Wenders filmou. É um "vasco pulidiano" assumido e baseia as suas análises no azedo sofisma: se é bom, não existe ou nunca deveria ter existido. Dele disse, embora sem o ler, Pacheco Pereira: "É dotado de um pensamento estruturante e uma só opinião sua vale mais do que a obra completa de Nuno Rogeiro". É presença constante nos "Prós e Contras" da RTP1. Fica na última fila para lhe ser mais fácil ir à rua fumar e meditar. Sobre o quê? Boa pergunta, a que nem o próprio sabe responder. Só sabe que os seus escritos vão mudar a política em Portugal. Provavelmente para o rés-do-chão esquerdo, onde vive a menina Clotilde, a sua grande paixão. O seu propósito é informar epistolarmente familiares, amigos, emigrantes, imigrantes, desconhecidos e extraterrestres, do que se passa em Portugal e no mundo. Coisa pouca, portanto.

 

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