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Virgolino Faneca perora sobre Carvalho, Althusser, Wittgenstein e os is com bolinha

De como o presidente do Sporting ensaia um corte epistemológico capaz de fazer negaças a Althusser e incorpora no seu raciocínio discursivo a metodologia de Wittengstein, dando uma nova dimensão à problemática dos is com bolinha.

Celso Filipe cfilipe@negocios.pt 23 de Fevereiro de 2018 às 17:00
Dilectos leitores

Desta vez, dirijo-me a todos os leitores sem excepção, derivado do facto de o tema em análise ser de natureza fracturante porque envolve um grande vulto da nossa nação, Bruno de Carvalho.

Assim sendo, venho por este meio colocar os pontos nos is, embora nos meus idos escolares houvesse quem substituísse o ponto nos is por uma bolinha juvenil. Portanto, neste caso, é preferível lerem o is com uma bolinha porque é de futebol.

Como certamente terão reparado, este primeiro parágrafo encerra, desde logo, uma contradição. Primeiro, refere-se a pontos nos is e depois pula para as bolinhas nos is. Tal facto, numa análise inicial, pode parecer uma incongruência, mas na verdade trata-se de incorporar mais uma característica da bolinha, i.e., do futebol, a incoerência, palavra que como sabemos é sinónimo da precedente.

Na verdade, do que aqui se vai falar é de um dono da bolinha e da sua fértil capacidade para surpreender o mundo dos is, ou seja, do senhor Bruno de Carvalho. Ao longo do seu consulado, o presidente do Sporting tem revelado qualidades superlativas na produção de verborreia, circunstância que lhe permite produzir dislates e fazer trocadilhos básicos como "paineleiros".

Contudo, agora, o senhor Bruno de Carvalho ousou um corte epistemológico (conceito que como se sabe designa e explica as rupturas ou as mudanças súbitas que acontecem ao longo do processo de evolução do conhecimento científico na busca de uma crescente objectividade), o qual irá ficar na história dos is com bolinha. Atentemos no pensamento produzido por Bruno de Carvalho, capaz de fazer negaças a Louis Althusser e outros marmanjos com manias de grandes pensadores e generosamente partilhado com os sócios do clube.

"Ponto 1: a partir de hoje, não comprem nenhum jornal desportivo nem aquele outro que vocês sabem. Ponto 2: não vejam nenhum canal português de televisão a não ser a Sporting TV. No dia em que fizermos isto, vão começar a olhar e a respeitar o Sporting de outra forma. Já não vai ser preciso ser o presidente do Sporting a atacar A, B ou C porque há 3,5 milhões de pessoas que não lhe vão ligar pevides. Para mim, é muito mais pornográfico eu chegar aos Núcleos e ver alguns jornais em instituições ligadas ao nosso clube. Ponto 3: que todos, mas todos, os comentadores afectos ao Sporting abandonem de imediato os programas e que mais nenhum sportinguista aceite porque não podemos estar ao lado daquela gente. Chega de programas que é só difamar e caluniar. Só assim podemos ser diferentes daquela vergonha de 'cartilheiros' e 'paineleiros'".

Primeiro facto a ter em conta. Bruno de Carvalho adopta uma estratégia discursiva compartimentada e identificada por pontos, o que mostra os seus vastos conhecimentos do método de Ludwig Wittgenstein.

Segundo facto a ter em conta. De forma sub-reptícia, Bruno faz uma análise dos impactos que a compra da TVI pela Altice poderia ter no panorama televisivo nacional, colocando a Sporting TV como aliada dos franceses. Daí o apelo a que não liguem aos canais portugueses. Entretanto, segundo foi possível apurar, Carlos Dolbeth, Jorge Jesus, Fernando Correia e o próprio líder leonino já estão a ter aulas da língua de Balzac, sendo que a primeira frase que aprenderam envolve a palavra futre.

O terceiro facto a ter em conta deriva do segundo e remete para o feudalismo, na medida em que estabelece uma organização em que os sportinguistas se assumem os senhores feudais e os outros, além de "cartilheiros" e "paineleiros", são também servos e devem vassalagem ao suserano, que por acaso pode até ser Bruno de Carvalho. Além disso, socializar com esta gente vai contra os princípios de estratificação que o feudalismo estabelece e pode até criar peçonha ao nível da epiderme.

Como vêem dilectos leitores, estamos perante um naco de pensamento que vai entrar nos manuais de Filosofia do 12.º ano, talvez substituindo Descartes, que só produziu banalidades como "penso logo existo".


Uma vénia reverencial deste vosso,


Virgolino Faneca



Quem é Virgolino Faneca

Virgolino Faneca é filho de peixeiro (Faneca é alcunha e não apelido) e de uma mulher apaixonada pelos segredos da semiótica textual. Tem 48 anos e é licenciado em Filologia pela Universidade de Paris, pequena localidade no Texas, onde Wim Wenders filmou. É um "vasco pulidiano" assumido e baseia as suas análises no azedo sofisma: se é bom, não existe ou nunca deveria ter existido. Dele disse, embora sem o ler, Pacheco Pereira: "É dotado de um pensamento estruturante e uma só opinião sua vale mais do que a obra completa de Nuno Rogeiro". É presença constante nos "Prós e Contras" da RTP1. Fica na última fila para lhe ser mais fácil ir à rua fumar e meditar. Sobre o quê? Boa pergunta, a que nem o próprio sabe responder. Só sabe que os seus escritos vão mudar a política em Portugal. Provavelmente para o rés-do-chão esquerdo, onde vive a menina Clotilde, a sua grande paixão. O seu propósito é informar epistolarmente familiares, amigos, emigrantes, imigrantes, desconhecidos e extraterrestres, do que se passa em Portugal e no mundo. Coisa pouca, portanto.



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