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Virgolino Faneca analisa o fenómeno zoológico que tomou conta do Benfica
Virgolino Faneca desconfia que existem na PJ um ou mais zoólogos e nota que depois de escrever sobre o futebol fora das quatro linhas parece que a sala fica cheia de gambás.
Escreves a pedir que te diga qual vai ser o futuro do Benfica, mas eu nestas coisas do futebol sigo o princípio do João Pinto, "prognósticos só depois do jogo", pelo que sugiro que tentes entrar em contacto com o bruxo Nhaga, ou, na impossibilidade, com o Francisco J. Marques, cujos dotes de pitonisa são sobejamente conhecidos.
O que posso é interpretar a realidade tal como ela se apresenta. Dito de outra forma, o doutor Paulo Gonçalves foi detido na sequência da operação e-toupeira e isso faz todo sentido. Basta observar uma fotografia do doutor Paulo Gonçalves para concluir que o nome dado pela Polícia Judiciária à referida operação não foi fruto do acaso. Leia-se, pois, a descrição do referido bicho que consta do site Covão da Ponte. "A toupeira tem o corpo em forma de cilindro sem pescoço e com um focinho pontiagudo e móvel. Os olhos quase não se vêem, pois estão escondidos debaixo da pele e do pêlo. A pelagem é curta, aveludada e lustrosa, de cor geralmente negra ou acinzentada."
Por exemplo, a PJ tem também uma investigação a correr sobre Luís Filipe Vieira e já escolheu o nome de código da operação: e-urso-pardo. E vê lá se não bate certo. Segundo a Wikipédia, o urso-pardo "é um animal solitário, sabe conviver pacificamente quando existe abundância de alimento. Durante o Inverno, procura covas e cavernas para entrar num estado de letargia, que pode durar até sete meses." E acrescenta o site do Jardim Zoológico: "Territorial, faz demarcação visual e olfactiva com as marcas das garras nos troncos das árvores e esfregando-se nestes."
Estas coincidências permitem-me concluir que nas equipas de investigação da PJ devem existir um ou mais zoólogos, os quais praticam uma espécie de taxinomia científica nas operações policiais.
Dito isto, caro Anselmo, possa garantir-te que o Benfica vai descer de divisão derivado do facto de ter em cativeiro animais que, por lei, deviam encontrar-se em liberdade. Além da já mencionada toupeira e do referido urso-pardo, o Benfica tem uma morsa emprestada à TVI e um lêmure da espécie aye-aye (que os habitantes de Madagáscar dizem dar má sorte) cedido à SIC. Isto só para dar alguns exemplos.
Agora, certamente, estarás amargurado com a descida de divisão. Não fiques, porque havendo a garantia de que o Benfica será despromovido, também há a evidência de que não se sabe quando isso acontecerá, devido à complexidade das galerias que as toupeiras constroem. E embora a justiça seja cega e por vezes subterrânea, a realidade é que não está familiarizada com os processos arquitectónicos das toupeiras.
No entanto, é de bom senso que o Benfica comece a construir uma equipa para jogar na segunda divisão procurando jogadores com as seguintes características: um avançado furão, um centro-campista que tenha a força de um bisonte, e um guarda-redes com características felinas, sendo que para a defesa já tem uma girafa.
Também não é má ideia que mude de presidente, até porque Luís Filipe Vieira tem o dever histórico de empreender uma outra missão timorata, a de devolver o Alverca à glória desportiva, levando Paulo Gonçalves como fiel escudeiro.
Não sei porquê, mas um tipo põe-se a escrever sobre o futebol fora das quatro linhas e parece que a sala fica cheia de gambás.
Nesta medida, vou ali apanhar ar e já não volto.
Um amplexo deste teu,
Virgolino Faneca
Quem é Virgolino Faneca
Virgolino Faneca é filho de peixeiro (Faneca é alcunha e não apelido) e de uma mulher apaixonada pelos segredos da semiótica textual. Tem 48 anos e é licenciado em Filologia pela Universidade de Paris, pequena localidade no Texas, onde Wim Wenders filmou. É um "vasco pulidiano" assumido e baseia as suas análises no azedo sofisma: se é bom, não existe ou nunca deveria ter existido. Dele disse, embora sem o ler, Pacheco Pereira: "É dotado de um pensamento estruturante e uma só opinião sua vale mais do que a obra completa de Nuno Rogeiro". É presença constante nos "Prós e Contras" da RTP1. Fica na última fila para lhe ser mais fácil ir à rua fumar e meditar. Sobre o quê? Boa pergunta, a que nem o próprio sabe responder. Só sabe que os seus escritos vão mudar a política em Portugal. Provavelmente para o rés-do-chão esquerdo, onde vive a menina Clotilde, a sua grande paixão. O seu propósito é informar epistolarmente familiares, amigos, emigrantes, imigrantes, desconhecidos e extraterrestres, do que se passa em Portugal e no mundo. Coisa pouca, portanto.