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Virgolino Faneca revela que Lili Caneças está a caminho do circo de Monte de Carlo

Virgolino Faneca explica que a selfie que Mário Centeno tirou com Lili Caneças é o passaporte para a internacionalização da imorredoura socialite portuguesa. Mas não só. É ler que está tudo bem explicadinho.

05 de Janeiro de 2018 às 17:00
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Cara Júlia

Espero que esta te encontre bem neste início de ano que começou de forma auspiciosa, materializado numa selfie que a imorredoura Lili Caneças tirou com Mário Centeno no Casino do Estoril.

Escrevo-te porque tu torceste o nariz a esta dupla, considerando que não é bom para a imagem de um senhor sério e vetusto surgir ao lado de uma senhora que é famosa porque aparece nas revistas e nas televisões, sendo que a explicação para surgir nos ditos órgãos de comunicação social é a de que é famosa. Acho, Júlia, que não estás a ver bem a coisa.

Na verdade, os dois têm muito em comum. Mário faz prestidigitação com o Orçamento e Lili, magia com a sua idade. Além desta evidência, há uma mensagem subliminar na referida selfie que escapou a toda a gente, menos à minha pessoa, profundo conhecedor da teoria do "punctum" fotográfico de Roland Barthes. Tratou-se de uma resposta por antecipação ao Presidente Marcelo, o qual na sua mensagem de fim de ano pediu a reinvenção do futuro. Lili e Mário reinventaram o futuro nesta selfie. Lili tornando o ministro das Finanças numa figura da socialite, habilitado a correr nos circuitos dos canapés quando deixar o cargo; Mário preparando Lili para a tornar na organizadora de eventos do Eurogrupo, contribuindo assim para a manutenção de um espírito saudável no seio desta instituição. Imagine-se ela a dizer ao Jeroen Dijsselbloem, "ainda consigo usar um triquíni sem parecer ridícula"; o holandês a questioná-la, "minha senhora, o que tem isso a ver com as contas públicas e a política económica da Zona Euro"; e ela, condescendente, a retorquir, "meu querido Jeroen, as contas públicas devem ser como os triquínis, ousadas. E se experimentar um triquíni triangular, sem aro, com espuma extraível e costas abertas, verá que não há política económica que resista."

Ou seja, o ministro Centeno revelou, neste caso em particular, uma extraordinária sensibilidade para preparar o futuro, embora a oposição, maldizente como sempre, tenha insinuado que acedeu à selfie como a senhora dona Caneças para disputar com Marcelo o território dos afectos.

Seja como for o que importa é o resultado, neste caso extremamente favorável a ambos. Não apenas pelas razões que já enumerei, mas também por dar um contributo inestimável para a construção de uma narrativa de posteridade pós-moderna, através da qual se pode insinuar que os políticos desta era precisam sempre do apoio de mulheres mais velhas, vide o caso de Macron e da senhora dona Brigitte. Já Trump preferiu os conselhos de uma mulher mais nova e deu no que deu, anda agora a discutir o tamanho do seu botão com o do botão de Kim Jong-Un.

Portanto, esta selfie do dealbar de 2018 tem um alcance infinitamente superior ao de uma mera imagem de circunstância para uso interno. Daí, Lili a ter feito acompanhar da seguinte legenda: "Selfie by Mário Centeno, o CR7 das Finanças, um orgulho para Portugal". E aqui o "punctum" está no "by". Utilizando esta singela palavra inglesa, Lili abre caminho para se internacionalizar enquanto socialite. No final deste 2018 vamos vê-la, com toda a certeza, ao lado do Alberto e da Carolina, no circo internacional de Monte Carlo (se não estiver ao lado estará na pista a manejar malabares), ou no palácio de Westminster a participar num chá de bonecas com as netas da rainha da Inglaterra.

Quanto a Mário, "by the way", já combinou, para o mesmo dia e a mesma uma hora uma selfie com o CR7 do futebol. Não estando este disponível poderá fotografar-se com a Paula Bobone, até porque uma pessoa sem maneiras não se pode sentar à mesa do Eurogrupo.

Um ano cheio de selfies para ti e um ósculo repenicado deste que te estima,


Virgolino Faneca



Quem é Virgolino Faneca

Virgolino Faneca é filho de peixeiro (Faneca é alcunha e não apelido) e de uma mulher apaixonada pelos segredos da semiótica textual. Tem 48 anos e é licenciado em Filologia pela Universidade de Paris, pequena localidade no Texas, onde Wim Wenders filmou. É um "vasco pulidiano" assumido e baseia as suas análises no azedo sofisma: se é bom, não existe ou nunca deveria ter existido. Dele disse, embora sem o ler, Pacheco Pereira: "É dotado de um pensamento estruturante e uma só opinião sua vale mais do que a obra completa de Nuno Rogeiro". É presença constante nos "Prós e Contras" da RTP1. Fica na última fila para lhe ser mais fácil ir à rua fumar e meditar. Sobre o quê? Boa pergunta, a que nem o próprio sabe responder. Só sabe que os seus escritos vão mudar a política em Portugal. Provavelmente para o rés-do-chão esquerdo, onde vive a menina Clotilde, a sua grande paixão. O seu propósito é informar epistolarmente familiares, amigos, emigrantes, imigrantes, desconhecidos e extraterrestres, do que se passa em Portugal e no mundo. Coisa pouca, portanto.

 
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