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Virgolino Faneca vai fazer do Alentejo a região mais poderosa da Europa e arredores

Cabeça Gorda, Mulinheta, São Manços e Venda da Porca vão transformar-se em centros lobistas de excelência. Com a ajuda da cebola, da consultoria do doutor Rui Moreira e dos estudos da Associação Comercial do Porto. Mãos à obra.

24 de Novembro de 2017 às 17:00
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Cara Capitolina

Venho pela presente desafiar-te a criar um movimento que transforme o nosso querido Alentejo na região mais poderosa da Europa e arredores, sobretudo arredores. Inspiro-me na candidatura derrotada do Porto a sede da Agência Europeia do Medicamento (tanto choraram que tiveram um prémio de consolação, o Infarmed), para mostrar que somos capazes de fazer muito melhor. Na realidade, temos imensas valências para jogar no tabuleiro dos lóbis, casos da sopa de beldroegas, das migas, do Alqueva, do Trio Odemira e do aeroporto de Beja, sendo que temos de aprender a chorar, a choramingar e a indignarmo-nos como outras regiões, para atingirmos o nosso desiderato. E até já comprei uma saca de cebolas para treinar o primeiro dos quesitos.

Em minha opinião, a nossa estratégia tem de ser múltipla. Por isso, aqui vai uma proposta de ataque:

1. Candidatamos Cabeça Gorda a receber a sede do Banco Central Europeu, com os seguintes e imbatíveis argumentos: a) existe muito espaço para montar uma fábrica de notas; b) Vítor Constâncio fica mais perto de casa; c) não existem problemas de trânsito porque a freguesia tem pouco mais de mil habitantes; d) há um aeroporto internacional prontinho a ser usado. Se perdermos, temos sempre possibilidade de conseguir a fábrica de notas do Banco de Portugal, como prémio de consolação.

2. Candidatamos Mulinheta a receber a Agência Europeia do Ambiente com os seguintes argumentos: a) a zona tem um ar do melhor; b) existe bom ambiente entre vizinhos; c) fica perto da estrada, o que dá para testar os níveis de dióxido de carbono, embora só passe um carro de hora a hora; d) transforma-se uma periferia numa centralidade; e) a praia fica perto. Para o caso de perdermos, recorremos ao truque da cebola e pode ser que transfiram o Instituto do Mar e da Atmosfera.

3. Candidatamos São Manços para receber a Agência de Segurança Marítima, apresentando argumentos irrebatíveis, tais como: a) a terra fica no interior e por isso a segurança é inquestionável; b) uma visão distante de um determinado tema é cientificamente mais eficiente; c) podemos ir ao Alqueva fazer exercícios práticos; d) fica perto de Évora, que tem restaurantes supimpas. Para o caso de eles torcerem o nariz, pomos o Emplastro atrás do António Costa e podemos ficar com o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, até porque, para todos os efeitos, já temos experiência com os mouros.

4. Candidatamos Venda da Porca a receber o Instituto Comunitário das Variedades Vegetais, apresentando os seguintes predicados: a) trata-se de uma terra com conhecimentos vastos na área dos vegetais, derivado do facto de estar habituada a alimentar suínos com os ditos; b) há muita variedade de coisas para fazer na localidade, em particular nada, o que casa com os hábitos dos amanuenses comunitários; c) fica perto de São Bento do Ameixial, podendo assim o instituto ampliar a sua actividade para a área das frutícolas. Caso a nossa candidatura seja derrotada, podemos sempre, através de musculadas manifestações, obter o Instituto Camões. Afinal, em terra de cegos, quem tem um olho é rei.

Caso deparemos com dificuldades inusitadas para atingir estes desideratos, podemos sempre contratar o doutor Rui Moreira como consultor e encomendar uns estudos à Associação Comercial do Porto para que conclua, sem margem para equívocos, sobre as vantagens destas localizações.


Um bem-haja para ti também deste teu,


Virgolino Faneca



Quem é Virgolino Faneca

Virgolino Faneca é filho de peixeiro (Faneca é alcunha e não apelido) e de uma mulher apaixonada pelos segredos da semiótica textual. Tem 48 anos e é licenciado em Filologia pela Universidade de Paris, pequena localidade no Texas, onde Wim Wenders filmou. É um "vasco pulidiano" assumido e baseia as suas análises no azedo sofisma: se é bom, não existe ou nunca deveria ter existido. Dele disse, embora sem o ler, Pacheco Pereira: "É dotado de um pensamento estruturante e uma só opinião sua vale mais do que a obra completa de Nuno Rogeiro". É presença constante nos "Prós e Contras" da RTP1. Fica na última fila para lhe ser mais fácil ir à rua fumar e meditar. Sobre o quê? Boa pergunta, a que nem o próprio sabe responder. Só sabe que os seus escritos vão mudar a política em Portugal. Provavelmente para o rés-do-chão esquerdo, onde vive a menina Clotilde, a sua grande paixão. O seu propósito é informar epistolarmente familiares, amigos, emigrantes, imigrantes, desconhecidos e extraterrestres, do que se passa em Portugal e no mundo. Coisa pouca, portanto.



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