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Imparidade atira Impresa para prejuízos de 66 milhões de euros
Houve uma forte redução no valor do goodwill da dona da SIC e do Expresso, a que se juntou uma provisão avultada. As receitas subiram, os custos encolheram, mas a fatura com os juros continua elevada. Vai arrancar um plano para poupar 16 milhões de euros.
A Impresa registou um resultado líquido negativo de 66 milhões de euros no exercício do ano passado. É um prejuízo avultado que reflete, em grande medida, a revisão do valor do goodwill, perante a evolução da atividade do grupo que detém, entre outros, a SIC e o Expresso. É uma imparidade a que se junta uma provisão para processos judiciais, num ano em que em termos operacionais as receitas até subiram.
"Durante o exercício de 2024, face à evolução de determinadas atividades nos segmentos de televisão e da Infoportugal, bem como à tendência perspetivada dos principais mercados onde estas se enquadram, foram revistos os pressupostos-chave utilizados nos testes de imparidade destes negócios", refere a Impresa no comunicado de resultados enviado à CMVM.
CEO da Impresa
Francisco Pedro Balsemão, CEO da Impresa, explica ao Negócios que, "tendo em conta o histórico recente e as tendências do mercado, há sempre, todos os anos, conversas com os auditores". Este ano, foi feito este "ajuste muito expressivo" que se traduziu numa perda por imparidade de goodwill no montante de 60,7 milhões de euros. "É um ajuste que foi considerado necessário, portanto, pelo grupo, em conjunto com os auditores", diz.
A empresa liderada por Francisco Pedro Balsemão salienta, contudo, "que, pela sua natureza, estas imparidades não têm impacto na atividade operacional do grupo, nem comprometem a sua tesouraria". Esse impacto existe, no entanto, através da provisão realizada, no valor de 5,3 milhões de euros, para "processos judiciais em curso intentados contra o grupo".
No global, sem contar com a imparidade, a Impresa fechou as contas de 2024 com um resultado negativo no valor de 5,5 milhões de euros. Em termos operacionais, as receitas registaram um acréscimo de 0,2%, para 182,3 milhões de euros, enquanto os custos "diminuíram pelo segundo ano consecutivo para 163,8 milhões de euros, menos 1,6% face ao valor registado em 2023".
Mas se a parte operacional demonstrou resiliência, o lado financeiro degradou-se: "o agravamento dos resultados financeiros decorre, não apenas da subida das taxas de juro, mas também dos custos de lançamento das Obrigações SIC 2025-2028", refere a Impresa, que fechou o ano com uma dívida de 130,9 milhões de euros.
Novo ciclo após "tempestade perfeita"
"Temos essa consciência de que houve aqui um triângulo que, posso dizer, acho que foi quase uma tempestade perfeita", diz Francisco Pedro Balsemão, referindo-se à pandemia, à guerra e, mais recentemente, à inflação. Assumida a imparidade, Francisco Pedro Balsemão diz que "estamos agora num ciclo em que queremos virar a página".
"Estamos a entrar num novo ciclo, num novo triénio", salienta. "Somos uma empresa familiar que preza muita sustentabilidade financeira, acima de tudo, mas também a sustentabilidade daquilo que é um negócio. Olhamos, obviamente, para o curto prazo, porque precisamos necessariamente do lucro para podermos reinvestir e, assim, garantir o médio e longo prazo", diz.
CEO da Impresa
Lembrando que "já passámos por vários momentos difíceis ao longo da história da Impresa", Francisco Pedro Balsemão quer "abrir um ciclo novo", mais positivo, mas que obrigará a dona da SIC e do Expresso a avançar com um plano estratégico que passa pela otimização de toda a estrutura.
Corte de 16 milhões nos custos
A Impresa vai avançar com a implementação de um plano para redefinir e reduzir a base de custos em cerca de 10% no horizonte 2025-2028. "Queremos reduzir os custos em 10% em quatro anos. Isto corresponde a pouco mais de 16 milhões de euros", disse o CEO da Impresa ao Negócios.
Será feita uma "otimização das operações, através de uma maior eficiência tecnológica e da estrutura organizacional", diz a Impresa. Este é um trabalho abrangente, que envolve "toda a empresa. Não é necessariamente sobre as redações", diz Francisco Pedro Balsemão.
Neste processo, haverá saídas de pessoas do grupo, mas "não é uma questão de headcount, é uma questão de euros", salienta. Questionado sobre que trabalhadores poderiam sair, o CEO diz que é dada "sempre prioridade às pessoas que querem sair, e que a empresa quer que essas pessoas saiam, e obviamente, associado a isso também pessoas que saiam para reforma ou reformas antecipadas".