Notícia
História dos que ainda partem
Jorge Silva Melo traz um albergue para o palco. Nestas mantas há passado e presente. Já o futuro, parece sempre demasiado longínquo. É um refúgio sem porta de entrada.
Faz frio. Há mantas cobrindo os corpos ou espalhadas pelo chão e camas deste albergue. O abrigo possível, numa Rússia de dificuldades e contenções, dá-se a ver em plano geral. "Somos os que não contam."
Em "O Grande Dia da Batalha", Jorge Silva Melo e os Artistas Unidos partem de "Albergue Nocturno" de Máximo Gorki e, deliberadamente, desdobram-no em dois tempos.
Neles há em comum as histórias dos que lutam pela sobrevivência, que persistem na indigência. Não há uma acção principal além da intriga entre duas irmãs tão diferentes entre si. Importa mais o que está para lá dessa trama.
Mesmo que não se saia do quotidiano e da sua banalidade. Para quem não nasceu do lado certo da sorte, é dessas tricas que se faz a vida. Um ou outro lema lá se vai soltando entre os risos e as zangas.
Apesar das pistas, só quando o palco gira é que a atenção é realmente captada. Uma multidão, para não lhe chamarmos de coro, toma a dianteira. Em tom confessional, o tema retratado ganha uma componente de actualidade. As personagens do século passado têm agora outro nome: refugiados.
É o traço mais interessante deste trabalho de Jorge Silva Melo, pela ideia de permanência das questões que realmente nos deviam preocupar enquanto seres humanos. São os que ainda partem, são os que morrem pelo caminho. São eles. E ganham voz ali mesmo à nossa frente.
Contudo, esta ferida colectiva continua a parecer-nos ainda demasiado longínqua. A "variação" de Jorge Silva Melo é particularmente feliz num espectáculo onde se pode ter a sensação de que não se avança para lá das pequenas disputas entre personagens e das constantes trocas de roupa em cena.
"O Grande Dia da Batalha" é, também ele, um espectáculo longo na sua hora e meia - porque a urgência do momento contemporâneo não chega para compensar tudo o resto.
Louve-se sim a empreitada, cada vez mais rara, de Jorge Silva Melo em ter em palco duas dezenas de actores. Vale pela clareza (e o conhecimento) de como orientar tanta gente em palco.
E pela possibilidade de reflectir, nem que seja por um momento: depois desta vida, no céu ou no que realmente existir, também vamos sofrer?
Em "O Grande Dia da Batalha", Jorge Silva Melo e os Artistas Unidos partem de "Albergue Nocturno" de Máximo Gorki e, deliberadamente, desdobram-no em dois tempos.
Mesmo que não se saia do quotidiano e da sua banalidade. Para quem não nasceu do lado certo da sorte, é dessas tricas que se faz a vida. Um ou outro lema lá se vai soltando entre os risos e as zangas.
Apesar das pistas, só quando o palco gira é que a atenção é realmente captada. Uma multidão, para não lhe chamarmos de coro, toma a dianteira. Em tom confessional, o tema retratado ganha uma componente de actualidade. As personagens do século passado têm agora outro nome: refugiados.
É o traço mais interessante deste trabalho de Jorge Silva Melo, pela ideia de permanência das questões que realmente nos deviam preocupar enquanto seres humanos. São os que ainda partem, são os que morrem pelo caminho. São eles. E ganham voz ali mesmo à nossa frente.
Contudo, esta ferida colectiva continua a parecer-nos ainda demasiado longínqua. A "variação" de Jorge Silva Melo é particularmente feliz num espectáculo onde se pode ter a sensação de que não se avança para lá das pequenas disputas entre personagens e das constantes trocas de roupa em cena.
"O Grande Dia da Batalha" é, também ele, um espectáculo longo na sua hora e meia - porque a urgência do momento contemporâneo não chega para compensar tudo o resto.
Louve-se sim a empreitada, cada vez mais rara, de Jorge Silva Melo em ter em palco duas dezenas de actores. Vale pela clareza (e o conhecimento) de como orientar tanta gente em palco.
E pela possibilidade de reflectir, nem que seja por um momento: depois desta vida, no céu ou no que realmente existir, também vamos sofrer?