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O grande túnel

Numa garagem de um subúrbio lisboeta entra, agarrada pela cintura e de cara manchada de sangue, a esperança de um novo percurso. As noites vão continuar a suceder-se com pouca novidade. Até que o teatro e o cinema se juntem para mudar esse fado.

31 de Dezembro de 2017 às 11:30
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"Noite Viva" - A peça encenada por João Lourenço está em cena no Teatro Aberto, em Lisboa. Com Anna Eremin, Bruno Bernardo, Filipe Vargas, Rui Mendes e Vítor Norte.

A experiência que se propõe em "Noite Viva" é diferente. Não se trata só teatro nem de cinema. Os dois partilham o mesmo espaço do Teatro Aberto, em Lisboa. Pode parecer novidade mas, de facto, não o é. Basta olhar para os últimos trabalhos do encenador João Lourenço (e do próprio Teatro Aberto) para perceber que a inclusão de vídeo é uma constante.

Em "Noite Viva", o que muda é a sua frequência e a sua cadência: o que o cinema permite é sair do palco e ir atrás das personagens para o mundo em que elas vivem. Esta é a história de Tomás (Vítor Norte), um homem de meia-idade que, certa noite, se cruza com Ana (Anna Eremin). Ela traz consigo uma vida marcada pelos vícios da noite, pela prostituição. E, já se esperava, uma réstia de esperança para que a vida deste homem possa mudar.


Falamos de uma vida passada numa garagem da casa do tio (Rui Mendes), sem objectivos, depois de uma família que falhou. "Noite Viva" é, deliberadamente, um texto sobre a solidão: três homens sozinhos partilham o mesmo espaço de um subúrbio lisboeta onde o quotidiano se limita a multiplicar-se sem novidade.

Não fosse o escape permitido pela componente cinematográfica - com a assinatura também de Nuno Neves e da Other Features - e "Noite Viva" corria o risco de ver essa repetição dos dias ser ainda mais pesada, com reflexo no (des)interesse do espectador, mesmo com o trabalho de adaptação ao contexto português.

Porque a narrativa, em si, não se desafia a ir além do banal que pretende retratar. É desse comum, com contornos de telenovela, que o texto do irlandês Conor McPherson se alimenta. Qualquer tentativa de maior densidade na interpretação roça, de imediato, o "overacting". Destaque, pela positiva, para Filipe Vargas, nesta sua estreia em teatro. O actor interpreta Doc, o melhor amigo de Tomás, com problemas de integração social. Talvez pelo seu carácter amistoso, essa identificação com o público seja mais imediata.

Em palco, a noite é descrita como um grande túnel. Percorremo-lo sem espanto, sem novidade. Até que, nos últimos minutos, o tempo do teatro e o tempo do cinema se sobrepõem em palco. Tudo está onde devia. E a espera, mais ou menos expectável, valeu a pena.



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