Opinião
“The end”
No BCP, a guerra sobe de tom mas desce de nível. Começou pelo que parecia um confronto entre dois homens, o que cedeu o poder e o que o recebeu. O embate entre o jovem lobo e o velho leão ainda dava argumento para uma tragédia. Agora nem isso.
Passou-se depois para uma disputa de interesses dos accionistas. Que já estava presente na primeira batalha mas que se tornou mais clara na segunda. Os accionistas pagam, têm direito a ver o seu investimento remunerado e a fazer as alterações que se impõem quando tal não acontece. A sua legitimidade não se discute embora não faltem exemplos de comportamentos duvidosos, de quem esteja disposto a contribuir para o caos em nome dos seus objectivos.
Entrou-se agora no terceiro nível da batalha: a divulgação de procedimentos menos claros na relação do banco com os seus clientes, sejam eles um filho de Jardim Gonçalves ou um accionista que é também fornecedor de serviços do BCP.
A gravidade dos últimos factos divulgados é de tal monta que até o sempre circunspecto Banco de Portugal teve necessidade de vir a público esclarecer que os bancos estão proibidos por lei de conceder crédito a familiares dos seus administradores ou a sociedades controladas por eles, situação que parece corresponder às das empresas de Filipe Jardim Gonçalves.
O Banco de Portugal sabe que este tipo de episódios põe em causa a credibilidade do BCP mas, no limite, também prejudica a imagem do sistema bancário.
O financiamento do BCP a um filho de Jardim Gonçalves e o subsequente “perdão” das dívidas é um caso que só chega a público em situação de violação do sigilo bancário. No BCP, a relação de confiança entre o banco e um cliente encontra-se a saque. E como a confiança está no centro do negócio bancário, percebe-se o que tal significa. Por muito que se seja do interesse público esclarecer estas notícias.
A leitura da questão não pode limitar-se ao PREC do BCP. Há implicações legais, que têm de ser apuradas pelas autoridades competentes, mas há também implicações éticas. Se a lei foi violada – o que deve ser apurado até às últimas consequências –, há gestores que podem e devem ser punidos. Mas nem tudo o que não é ilegal é moral. Não é só à mulher de César que não basta ser séria.
Os episódios dos últimos dias fazem parte do cerco a Jardim Gonçalves. Que parece autista à pressão crescente para sair de cena e reduzir a sua participação na vida do banco.
Quando parecia ter recuperado o controle da situação, torna-se evidente que esse controlo é aparente. Na estrutura accionista do BCP assistiu-se a um realinhamento de posições. A saída do Fortis, parcialmente substituído pelo BPI, pode não representar um reforço do apoio a Jardim Gonçalves. E é bem provável que os casos não fiquem por aqui.
Torna-se cada vez mais claro que o futuro do BCP não passa pelos actuais protagonistas. Algo tem que mudar. Seja uma actuação cirúrgica das autoridades, uma recomposição da estrutura accionista, passe ela pela concentração com o BPI, pela OPA de um grande banco internacional – leia-se BBVA ou Barclays –, ou pelo cisão, à semelhança do que se passou com o grupo Champalimaud. Mas, assim, tal como está, “this is the end”.