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17 de Julho de 2008 às 14:00

O inevitável Bloco Central

Anda no ar uma sensação de fim de época. Onde antes se ouviam algumas vozes pessimistas, ou apenas mais prudentes, passou a haver um clamor generalizado. A conjuntura internacional desfavorável, onde se conjugam os problemas do sistema financeiro com a alta de preços das matérias primas alimentares e energéticas,...

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A conjuntura internacional desfavorável, onde se conjugam os problemas do sistema financeiro com a alta de preços das matérias primas alimentares e energéticas, o abrandamento das economias desenvolvidas e a grande dependência da economia portuguesa desses mercados confirmam que, quando um grande se constipa, Portugal apanha uma gripe. Ou uma pneumonia.

Os portugueses são os mais pessimistas da Europa e têm razões para isso. Desde 2000 que vêem mais longe o sonho de aproximação aos níveis de riqueza da Europa, que sempre foi o grande motivador para a adesão europeia. Que teve razões políticas, mas o que vendeu a ideia aos cidadãos foram os milhões de Bruxelas, as auto-estradas, os automóveis e os televisores. É duro perceber que o futuro não vai ser uma escalada triunfal e que pode até ser uma descida de fim imprevisível.

Às notícias da frente económica somam-se outros sinais inquietantes de falência do Estado. Portugal ainda é percepcionado como um dos países mais seguros para viver, mas os casos de "carjacking" ou os tiroteios na via pública criam uma sensação subjectiva de insegurança crescente.

Há quem diga que é excessiva mediatização. É o argumento de quem confunde a mensagem com o mensageiro.

Da insegurança para a falência da justiça, o histórico recente é trágico. As mega investigações, que nunca são concluídas, e das quais raramente resultam condenações, os falhanços dos grandes casos mediáticos, as disputas entre titulares de órgãos judiciais e agora o clima de dissolução da Ordem dos Advogados levam o pacato cidadão a desconfiar do sistema de justiça que, além lento e complexo, se revela pouco fiável. Sem esquecer o impacto ruinoso na economia, gerando desconfiança nos investidores e nas empresas.

O Governo tenta minimizar os danos da actual conjuntura económica, para gerir o ciclo eleitoral e garantir a vitória eleitoral do PS em Outubro do próximo ano. O que pode significar algumas medidas com impacto na despesa pública. E pagamento diferido.

O primeiro mês da liderança de Ferreira Leite no PSD tem um balanço misto. Surgiu com um novo estilo de fazer política, mas, nem o estado de graça, nem o desgaste do Governo trouxeram de imediato um disparo de popularidade da nova líder ou das intenções de voto no partido. À distância de um ano, o PS parece em condições de ganhar mas sem maioria absoluta.

O que colocará ao país sérios problemas de governabilidade. Nessas circunstâncias, alguns olham para Belém e defendem que Cavaco Silva se aproxime mais do estilo presidencial de Eanes. Outros começam a falar do Bloco Central.

O cúmulo do politicamente incorrecto é defender o Bloco Central, suspeito de no passado ter perpetuado uma cedência aos interesses. Mas também é justo reconhecer o legado positivo: a adesão europeia, o equilíbrio das contas externas e abertura da banca ao sector privado, que abriu caminho às privatizações.

Face à dimensão dos problemas da sociedade portuguesa não se percebe que alternativa pode existir caso o PS ganhe sem maioria absoluta - a menos que se defendam alianças à esquerda. Aliás, o mesmo acabou por fazer Angela Merkel. Podem Sócrates e Ferreira Leite rejeitar à partida qualquer entendimento ou até algum deles ter de sair der cena, como fez Gerhard Schroeder. Mas a hipótese politicamente incorrecta pode mesmo ser a mais adequada às dificuldades que o país atravessa.

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