Opinião
Portugal no divã
José Sócrates enfrenta hoje o seu quarto debate do Estado da Nação, no momento de maior fragilidade desde que é primeiro-ministro. E, no entanto, é a primeira vez que não tem como adversário directo no debate o líder da oposição - nos anteriores estava Marques Mendes na bancada do PSD.
José Sócrates enfrenta hoje o seu quarto debate do Estado da Nação, no momento de maior fragilidade desde que é primeiro-ministro. E, no entanto, é a primeira vez que não tem como adversário directo no debate o líder da oposição - nos anteriores estava Marques Mendes na bancada do PSD.
E acabou por escapar ao frente-a-frente com Santana Lopes naquele que é o principal confronto directo entre o Governo e a oposição no hemiciclo parlamentar. A conjuntura económica, a clarificação no PSD e o papel mais activo do Presidente da República conjugam-se para lhe tornar as coisas mais difíceis.
A eleição da nova liderança do PSD, que está a apresentar bons resultados nas sondagens - a beneficiar do estado de graça ou do desgaste do Governo? -, não é sequer o principal problema de Sócrates, que já vai preparado para responder às críticas de falta de informação sobre os grandes projectos de investimento público e para desenvolver as medidas para atenuar o impacto da crise. A menos que o PSD, que reintroduziu o tema na agenda, lhe troque as voltas. Se não o fizer, o debate arrisca-se a ser uma espécie de segunda parte das duas entrevistas da semana passada, apenas com Paulo Rangel no lugar de Manuela Ferreira Leite e direito a contraditório.
As verdadeiras dificuldades do Governo vêm da economia, com o acumular de sinais de que a crise está para ficar e não são de prever melhorias nos próximos meses nem sequer no próximo ano - opinião em que coincidem três institutos europeus e a Comissão Europeia. E quando se preparava para anunciar que a retoma estava aí, anúncio que teve como prólogo a polémica redução da taxa do IVA, as condições objectivas tornam-se insustentáveis para manter o discurso. E tem que se preocupar com o agravamento das condições sociais, que alastram à classe média que é essencial na aritmética eleitoral.
Ferreira Leite já demonstrou que é para levar a sério a mensagem da mudança de estilo na liderança do partido. O frenesim e a marcação a todas as iniciativas do Governo, que fez Marques Mendes e tentou fazer Luís Filipe Menezes, cedeu lugar a uma estratégia menos influenciada pela necessidade de estar sempre na primeira linha, na abertura dos telejornais e na guerra dos "sound bytes". Mas Ferreira Leite tem contra si o facto de ainda não ter apresentado a sua alternativa aos portugueses. Pelas primeiras declarações públicas após ter sido eleita não ficou muito claro o sentido das suas opções, descontando o enfoque nas políticas sociais e a descolagem das obras públicas. É pouco. Mas ainda é cedo.
Há muito tempo que o problema em Portugal já não é de diagnóstico. Os diagnósticos estão todos feitos, chegou o momento de agir. Até porque o mesmo diagnóstico admite diversas terapêuticas e são as medidas e os seus resultados que os eleitores podem julgar.
E nem a sociedade civil consegue escapar a essa tendência de um país eternamente no divã, como se pode ver pelos últimos documentos do Compromisso Portugal e da SEDES. Os dois convergiram no tempo para avaliar o estado do Governo e a nota final de um e outro não vai além de suficiente mais. E se têm o mérito de demonstrar que a participação cívica não se esgota nos partidos, avançam relativamente pouco em propostas alternativas. E é disso que Portugal precisa.
E acabou por escapar ao frente-a-frente com Santana Lopes naquele que é o principal confronto directo entre o Governo e a oposição no hemiciclo parlamentar. A conjuntura económica, a clarificação no PSD e o papel mais activo do Presidente da República conjugam-se para lhe tornar as coisas mais difíceis.
As verdadeiras dificuldades do Governo vêm da economia, com o acumular de sinais de que a crise está para ficar e não são de prever melhorias nos próximos meses nem sequer no próximo ano - opinião em que coincidem três institutos europeus e a Comissão Europeia. E quando se preparava para anunciar que a retoma estava aí, anúncio que teve como prólogo a polémica redução da taxa do IVA, as condições objectivas tornam-se insustentáveis para manter o discurso. E tem que se preocupar com o agravamento das condições sociais, que alastram à classe média que é essencial na aritmética eleitoral.
Ferreira Leite já demonstrou que é para levar a sério a mensagem da mudança de estilo na liderança do partido. O frenesim e a marcação a todas as iniciativas do Governo, que fez Marques Mendes e tentou fazer Luís Filipe Menezes, cedeu lugar a uma estratégia menos influenciada pela necessidade de estar sempre na primeira linha, na abertura dos telejornais e na guerra dos "sound bytes". Mas Ferreira Leite tem contra si o facto de ainda não ter apresentado a sua alternativa aos portugueses. Pelas primeiras declarações públicas após ter sido eleita não ficou muito claro o sentido das suas opções, descontando o enfoque nas políticas sociais e a descolagem das obras públicas. É pouco. Mas ainda é cedo.
Há muito tempo que o problema em Portugal já não é de diagnóstico. Os diagnósticos estão todos feitos, chegou o momento de agir. Até porque o mesmo diagnóstico admite diversas terapêuticas e são as medidas e os seus resultados que os eleitores podem julgar.
E nem a sociedade civil consegue escapar a essa tendência de um país eternamente no divã, como se pode ver pelos últimos documentos do Compromisso Portugal e da SEDES. Os dois convergiram no tempo para avaliar o estado do Governo e a nota final de um e outro não vai além de suficiente mais. E se têm o mérito de demonstrar que a participação cívica não se esgota nos partidos, avançam relativamente pouco em propostas alternativas. E é disso que Portugal precisa.
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