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12 de Novembro de 2007 às 13:59

Tudo mudado

Jorge Figueiredo Dias, conhecido Professor da Faculdade de Direito de Coimbra, profere, no próximo dia 21, a sua última lição. Refiro-o por várias razões. Por ter sido meu professor, por ter sido, a par de Rui de Alarcão, Carlos Mota Pinto e Rogério Soare

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E ainda por um outro motivo que merece o maior destaque e por isso a ele venho: por ter sido pioneiro, numa Faculdade fechada, bizonha e conservadora, na prática de um ensino vivo, dinâmico e participativo. Ele anteviu o que aí estava para vir e já chegou.

É claro que os investigadores continuam a partir para fora, apesar de existirem já centros de excelência no país. Como se notava num excelente trabalho que este jornal produziu recentemente são variadíssimas as razões para um não regresso a curto prazo: por falta de oportunidades no mesmo plano cá dentro, pelo desejo de prolongar a investigação fora de portas, porque a progressão na carreira é mais difícil em Portugal, pelo estilo de vida que encontraram e de que gostam. Por estas e por outras razões. O mesmo se pode dizer, em diversas áreas (porque elas são obviamente dissemelhantes) no sentido inverso – o dos cérebros que aportam vindos de fora. Mas esta realidade nada tem a ver com a vertente pedagógica e com a prática do ensino. São realidades totalmente diferentes, que deveriam ser totalmente separadas para efeitos da sua avaliação e que não se regem pelo princípio dos vasos comunicantes ou equiparado. Um bom investigador pode ser um péssimo pedagogo como um bom pedagogo pode ser um mau investigador. Aliás, à partida, comunicar e investigar derivam de conceitos de vida com raízes profundamente diferentes. E não é líquido que eles se venham a encontrar à chegada. Também é verdade que se discute, neste momento, o modelo fundacional para as Universidades portuguesas. Há quem o defenda elencando vantagens na flexibilidade da gestão, com a facilidade na contratação de pessoal docente e não docente fora da função pública e com o facto da figura da fundação não estar sujeita à lei do equilíbrio orçamental e há, pelo contrário, quem o critique pelo facto de os curadores serem nomeados pelo governo sob proposta da instituição (com os perigos de mais “boys”) e pela inexistência jurídica esclarecedora da figura da “fundação pública com regime de direito privado”. Independentemente da valia dos argumentos de um lado e do outro, parece evidente que a opção pelo caminho está dependente de se conseguir ou não vencer a força da inércia. A verdade, outra vez, é que esta questão nada tem a ver, ao menos directamente, com a vertente pedagógica e com a prática do ensino.  

E quanto a esta vertente, não há volta a dar-lhe. O modelo assente num ensino à moda antiga, ministrado por professores à moda antiga, em si mesmos antigos porque fechados ao mundo e que o mundo não sabe quem são, dedicados por inteiro à pequenez das respectivas coutadas que julgam ser o centro do universo, está completamente desfasado e esgotado. O mérito deve ser dado a quem, nas diversas áreas interage com a sociedade envolvente e contribui com o seu saber científico para o progresso dessa sociedade que está ao lado da Universidade. De que a Universidade se serve e deve servir. Este modelo, teoricamente sólido mas também contributivo para a resolução das coisas práticas, interactivo e participativo, que pode admitir aulas em português e em inglês, é o modelo pedagógico correcto para o início do século XXI. Porque, em relação há vinte e cinco anos, está tudo mudado. Jorge Figueiredo Dias percebeu-o já na altura e, também por isso, devem-lhe ser rendidas as devidas saudações. Académicas, certamente, mas modernas.

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