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05 de Maio de 2008 às 13:59

Virar a página, virar mesmo!

A ideia que hoje existe do PSD é facilmente sintetizável. Se uma foto vale mais do que mil palavras, um “cartoon” bem conseguido vale mais do que muitas mais. O PSD era recentemente retratado como uma seta que podia vir de uma lâmpada de Aladino, seta cin

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A verdade é que o caminho inclinado começou há 10 anos. Chegado aqui, aos dias de hoje, no estado em que está, não é só o partido que tem a existência amargurada é, também, e como corolário do pilar essencial que representa, o próprio regime que sofre com a maleita de um dos seus. Desde há 10 anos que o PSD deixou de pensar a política e as políticas. Passou a depender de um protagonista, cada um no seu tempo, cada um fazendo seu o tempo político. Foi tratado como um objecto que se usa e se descarta, que é incómodo para outros voos e que se tem de passar para outras mãos. Passou a ser palco de guerras, intermináveis guerras, entre facções, grupos, grupúsculos e afins, cada um mais importante do que o outro na indigência que, na realidade, são. Passou, ainda, a ser palco de guerras pessoais, algumas com mais de 30 anos. O partido transformou-se numa eira que assistiu a todo o tipo de facadas, atrocidades e quejandas fruto de ódios pessoais provindos das guerras das “jotas” e que permaneceram vida fora, até pela falta de ocupação profissional dos seus figurantes. Andam há 30 anos a dizer mal uns dos outros, vão morrer a dizer mal uns dos outros, sendo que os uns e os outros são, há 30 anos, os mesmos. Dizem ser um “partido sem assunto”, o que perfaz o começo do caminho no qual é ignorado. A verdade é que todos os que, de forma cíclica, tiveram responsabilidades no partido nos últimos 10 anos não podem assobiar para o lado como se nada lhes dissesse respeito. Não podem refugiar-se no silêncio, na esperança de que os dias passem depressa e a eleição venha a correr. Não podem fingir que o tempo não passou, por eles e por todos, o que teve o lado imensamente positivo de fazer nascer uma nova geração de portugueses, de cidadãos e de eleitores. Aqui reside um dos pontos essenciais. Os portugueses, etariamente situados entre a casa dos 20 anos e a casa dos 40, são imprescindíveis a qualquer partido. São muito mais bem preparados, pela informação que têm, do que as mesmas faixas, há 30 anos. Querem saber o que os partidos pensam de vertentes estruturantes do Estado. Querem ver discutir ideias, propostas, políticas. Querem conhecer um pensamento estratégico para o País, querem que se lhes diga como se redefine o papel do Estado. Como se faz um Estado mais magro e ao mesmo tempo mais ágil e mais forte. Numa palavra, como se olha o Estado, a sociedade e as pessoas, em Portugal, em 2008. Repito: em 2008. Com olhos do século XXI e não com óculos do século passado. Isso pressupõe duas coisas, por esta ordem. Primeira: cortar com o passado e cortar com o passado optando pelas pessoas do passado é tão estimulante para as novas gerações como ouvir música num disco de “vinyl”. Segunda: voltar a sincronizar o partido com o eleitorado, surpreendendo-o, com audácia mas propósito, com inovação mas sustentação, com alegria mas bom senso. Estas coordenadas ocorrem um pouco por toda a Europa. E elas passam pela entrega do poder, seja nos partidos que suportam os respectivos governos, seja nas oposições, a líderes com menos de 50 anos, dos quais se conhece o pensamento político porque não o calaram e porque não se refugiaram na omissão táctica para evitar incómodos. Virar a página no PSD, virá-la mesmo, é ter ideias políticas para cada sector-chave, é mudar de caras, é mudar de vida. A questão que se coloca é muito simples: vem a ser a de saber se os militantes o fazem já ou se vão esperar mais um ano para depois o fazerem. É só uma questão de tempo. Se o fizerem já, tanto melhor. Poupar-se-ia tempo, dinheiro e paciência. Sim, paciência, porque as novas gerações sabem que há mais vida para lá de estatísticas, orçamentos e raízes quadradas e que a raiz da vida está antes disso e passa muito para além disso.
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