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08 de Novembro de 2007 às 13:59

O poder corrompe

Pervez Musharraf, que chegou ao poder em 1999, depois de ter prometido aos paquistaneses instaurar no país uma verdadeira democracia e livrar-se dos extremistas islâmicos, numa cruzada santa contra o terrorismo, e ainda, de se candidatar como civil nas pr

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Pervez Musharraf, que chegou ao poder em 1999, depois de ter prometido aos paquistaneses instaurar no país uma verdadeira democracia e livrar-se dos extremistas islâmicos, numa cruzada santa contra o terrorismo, e ainda, de se candidatar como civil nas próximas eleições, faz tábua rasa das suas promessas e, no sentido de ganhar a todo o custo as próximas eleições, instaura a lei marcial, num eufemismo chamado estado de emergência.

Ou seja, não só não despe a farda como suspende a Constituição, encarcera os seus oponentes, designadamente advogados e magistrados, mandando mesmo prender o presidente do Supremo Tribunal de Justiça, enquanto tenta amordaçar a imprensa, na tentativa de se perpetuar no poder, já que as sondagens não lhe previam exactamente a vitória no início do próximo ano.

A presidência portuguesa, em nome da União Europeia, mostrou-se profundamente preocupada, afirmando num comunicado a necessidade de realizar, dentro do calendário previsto, eleições livres e justas, com respeito pelos direitos humanos, pela independência do poder judicial e da liberdade de imprensa, instando à libertação dos presos políticos e à renúncia do presidente ao cargo de Chefe de Estado-Maior do Exército.

A questão é que Musharraf depois de se ter arvorado em paladino da estabilidade, segurança e crescimento do seu país, que conta com cento e sessenta milhões de paquistaneses, não cumpriu uma única promessa.

Com efeito, apesar da sua posição de aliado na luta contra o terrorismo, em especial contra a Al-Qaida, para a qual recebeu ajudas financeiras, só dos Estados Unidos num valor estimado de onze milhões de dólares, não só não conseguiu debelar as tendências extremistas, mas antes e, pelo contrário, os islamistas parecem estar muito mais poderosos, com os serviços secretos a jogar, perigosamente para o Ocidente, um papel duplo e dúbio.

Este dinheiro que foi literalmente despejado em cima do Paquistão, nem sequer esteve ao serviço do desenvolvimento do país, onde pelo contrário a pobreza se agrava e a dádiva apenas aproveitou a uma parte ínfima da população.

Por seu turno, os Estados Unidos fizeram, uma vez mais, um mau investimento e uma opção desastrosa porque o Paquistão, potência nuclear, que era suposto ser um aliado naquela zona do globo, pode transformar-se, de repente, ele próprio numa bomba atómica e degenerar num conflito interno de guerra civil.

A União Europeia, os Estados Unidos e o Mundo estão pendentes dos próximos acontecimentos e sobretudo na expectativa da realização de eleições livres que tragam uma alternativa ao país e que o livre de um homem que chegou ao poder através de um golpe de Estado e se quer perpetuar através de um outro golpe, desta vez nas liberdades e direitos fundamentais, em suma na própria democracia.

Benazir Bhuto, antiga primeira-ministra e líder do Partido do Povo, foi, estranhamente, ou nem por isso, ela própria alvo em Outubro passado de um ataque suicida e, tem uma margem de manobra limitada nesta alternância política devida à sua entente cordiale com Musharraf para se exilar, não tendo até ao momento liderado nenhum protesto consistente que está, por ora, apenas nas mãos dos advogados e juízes.

A Europa, por seu turno, limita-se em relação ao Paquistão que com esta crise acrescenta uma nota mais de instabilidade no complexo e precário puzzle da paz mundial, a fazer declarações óbvias que pouco adiantam, uma vez que não as consegue suportar em termos efectivos de poderio bélico.

São panoramas como este que nos levam a pensar que as soberanias isoladamente em cenários de conflito, quiçá nuclear, não valem por si sós e que se devem unir numa força comum militar dissuasora e repressiva deste tipo de situações.

É que há que armar para preparar a paz e só o soft power europeu começa, a ser, só por si, insuficiente e muito pouco eficaz.

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