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Até onde irá a escalada da guerra no Médio Oriente?

Era só uma questão de tempo. Depois do ataque a Gaza para destruir o Hamas, a mira de Israel apontou ao território de outro inimigo histórico - o Hezbollah. A incursão terrestre no Líbano por parte do exército israelita era temida por muitos analistas que, ainda assim, acreditavam numa contenção. Enganaram-se. Netanyahu chama-lhe uma operação “limitada”, mas o Irão já ripostou e poderemos assistir nos próximos dias a uma escalada da guerra com consequências imprevisíveis. O primeiro-ministro israelita avisou que “o Irão cometeu um grande erro e vai pagar por isso”. Se assim for, o impacto deste conflito não ficará restrito ao Médio Oriente. Terá repercussões também no Ocidente. A começar nas eleições nos EUA.
Filipa Lino 11:00

Em março, quando esteve em reportagem no Líbano, o jornalista Francisco Serrano encontrou um país empobrecido, com infraestruturas públicas a funcionar mal e cuidados de saúde débeis. Mas, sobretudo, deu conta de uma população revoltada com a corrupção no Estado, que a deixa desprotegida e na miséria. 

 

"O Líbano é um país que não tem um Estado funcional há quatro anos" e é "uma economia completamente em pedaços", explica. A crise política e financeira que se arrasta desde 2019 fez com que a lira libanesa tenha desvalorizado 97% face ao dólar, o que deixou três quartos da população na pobreza. Os salários e as pensões "encolheram" brutalmente. Viver naquele país é cada vez mais difícil.

 

"Quando lá estive, a companhia elétrica do Estado não conseguia fornecer mais do que três horas de eletricidade por dia", o que faz com que as pessoas estejam dependentes de geradores. E a água também só corre nos canos algumas horas por dia, recorda o autor do livro "As Ruínas da Década: o Médio Oriente depois das Revoltas", publicado pelas Edições 70.  

 

Nas conversas que foi tendo por lá, percebeu que "já se esperava um agravamento da guerra", porque havia trocas de fogo entre o Hezbollah [que é apoiado e financiado pelo Irão] e Israel, no Sul, muito perto da fronteira. Desde 7 de outubro do ano passado que o movimento xiita libanês se solidarizou com o Hamas e atacou Israel de forma constante. 

Benjamin Netanyahu precisa da guerra "quente" para se manter no poder. Essa cortina de fumo permite-lhe desviar as atenções dos processos judiciais que tem pendentes em Israel. Quanto mais escalar o conflito, melhor para a sua sobrevivência política.


Se a população já antevia este agudizar do conflito na região, os analistas foram apanhados de surpresa pela incursão terrestre de Israel no sul do Líbano no início desta semana e ainda menos esperavam a resposta pronta do Irão, que até agora tinha tido uma atuação contida. Este ataque por terra já levou um milhão de libaneses a deslocarem-se para o norte do país para procurarem um lugar seguro.

 

A ONU fala numa crise humanitária e o secretário-geral da organização, António Guterres, pediu um cessar-fogo imediato, afirmando que uma guerra total na região deve ser evitada a todo custo. Esta posição levou Israel a considerá-lo "persona non grata" e a impedi-lo de entrar em território israelita.

 

"Este é um secretário-geral que ainda não denunciou o massacre e as atrocidades sexuais cometidas pelos assassinos do Hamas em 7 de outubro, nem liderou quaisquer esforços para declará-los uma organização terrorista", escreveu o ministro israelita dos Negócios Estrangeiros, Israel Katz, na rede social X. Por isso, acrescentou, será lembrado "como uma mancha na história da ONU".   

 

Rumo ao norte

 

Nesse movimento migratório de libaneses, para Beirute e para outras zonas mais a norte, "as pessoas não têm onde ficar", refere Francisco Serrano. Sendo uma população muito empobrecida, "a maior parte das pessoas não tem dinheiro para arrendar uma casa por um tempo para se afastar dos bombardeamentos". Há muita gente a viver nas ruas, sem qualquer tipo de condições. E "os hospitais estão cheios com feridos, já desde o ataque dos ‘pagers’", a 17 de setembro. Agora, com os bombardeamentos israelitas, "ainda há mais feridos e os hospitais não têm capacidade para lidar com isso", diz o jornalista.

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