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"O Parque Cidades do Tejo vai precisar de vários mentores"
O megaprojeto do Parque Cidades do Tejo é, para António Ramalho e Gonçalo Moura Martins, "uma oportunidade única" para a Área Metropolitana de Lisboa, mas não está isenta de riscos. Novo episódio do podcast Partida de Xadrez vai para o ar esta segunda-feira.
"Tínhamos uma cidade de mar - porque o estuário era o mar - e vamos passar a ter uma cidade de duas margens de rio", sublinha António Ramalho no 29.º episódio do podcast Partida de Xadrez, que vai para o ar esta segunda-feira no site do Negócios e nas principais plataformas, sobre o projeto do Parque Cidades do Tejo.
Com uma dimensão equivalente a 55 vezes a Parque Expo, o projeto urbanístico e de infraestruturas que envolve as áreas do Arco Ribeirinho Sul, Ocean Campos, aeroporto Humberto Delgado e a futura cidade aeroportuária é, para o gestor, "uma proposta séria para uma área que representa cerca de 30% da criação de riqueza nacional e que transforma definitivamente Lisboa numa cidade de duas margens".
O projeto irá envolver investimentos na ordem dos 15 mil milhões de euros, a executar ao longo das próximas décadas, prevendo a construção de 25 mil casas, a reabilitação de antigas áreas industriais, novas travessias do Tejo e a expansão das redes de transporte público.
À semelhança do papel que teve António Mega Ferreira na Expo 98, António Ramalho não tem dúvidas que o Parque Cidades do Tejo "vai precisar de vários mentores que acreditem muito e que, para além do sonho do projeto, tenham a racionalidade de o tornar rentável". Em sua opinião, ele "vai ter uma atração muito grande para os privados".
Já Gonçalo Moura Martins sublinha que as duas margens do Tejo "vivem hoje separadas, quer pela penosa mobilidade, quer por algum preconceito social". A ideia da integração urbanística, social e económica da bacia do Tejo, frisa, "não é nova", mas "é revitalizada neste novo projeto, que parece ambicioso, moderno e visionário".
Em sua opinião, esta "é uma oportunidade única", mas, avisa, "nada vai ser possível fazer se não se resolver o problema da mobilidade", e as novas travessias do Tejo são "as âncoras do desenvolvimento". "Ninguém vai começar a desenvolver habitação, infraestruturas culturais, sociais ou industriais do outro lado do rio - como este plano prevê - se não souber à partida quando é que vai ter um túnel ou uma nova ponte", avisa. Para o gestor, a falta de "guidance" é "onde o plano peca".
Outra crítica que Moura Martins faz ao projeto é por prever a construção de apenas 25 mil novas casas, um número "manifestamente insuficiente para um plano desta dimensão".
O responsável salienta ainda que "é necessária vontade e determinação política de um conjunto muito alargado de poderes centrais e autárquicos e de investidores privados" frisando que o grande tempo de realização "não é apelativo a consensos tão duráveis". Lembra também que no passado outros planos, como este, "acabaram por resvalar na volatilidade dos ciclos políticos e na própria realidade". Se for agora também este caso, "teremos mais uma oportunidade perdida", avisa.
"Dissemos há um ano que a opção por Alcochete para a localização do novo aeroporto era uma alteração do modelo de desenvolvimento para Portugal. Agora, o Parque Cidades do Tejo é a concretização dessa inevitabilidade para abrir uma discussão muito interessante", conclui António Ramalho.