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10 de Abril de 2008 às 13:59

Telemóveis chegam ao céu

Uma das coisas que mais aprecio quando viajo de avião é a possibilidade de gozar umas horas de sossego, poucas que sejam, de ler os meus papéis, livros ou pura e simplesmente pôr as ideias em ordem através de um olhar perdido pela espuma das nuvens. Isto

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Por isso, o anúncio da Comissão Europeia da adopção de regras harmonizadas no sentido de possibilitar as comunicações móveis a bordo das aeronaves, deixou-me quase em estado de choque, na previsão de que quando a medida entrar em vigor, o meu sossego poderá vir a ficar comprometido até nos aviões. Não nos podemos esquecer que o espaço entre passageiros é cada vez mais exíguo, logo a intimidade é, se não forem praticadas algumas regras de cortesia e de civilidade, praticamente inexistente e, antes pode-se assistir ao fenómeno inverso de uma invasão quase promíscua.

É que há pessoas que passam a vida, compulsivamente, ao telefone ou numa troca, por vezes quase insana, de mensagens escritas. Aqueles toques improváveis e irritantemente estridentes dos telemóveis, conjugadas com vozes que afinam pelo mesmo diapasão e cujas agendas e compromissos são desfiadas perante os nossos pobres ouvidos para o ano inteiro, configuram um cenário, no mínimo, dantesco.

O que a Comissão Europeia anunciou agora é que, na sequência da sua decisão, 90% dos passageiros aéreos já estarão contactáveis durante os voos, excepto nas descolagens e nas aterragens. Para isso foram adoptados dois actos comunitários, no caso uma decisão que adopta parâmetros técnicos harmonizados para os equipamentos de bordo o que implica um reconhecimento mútuo das licenças por todos os Estados-membros, sem prejuízo ou risco para as redes móveis terrestres. A Comissão adoptou, igualmente, uma abordagem harmonizada destinada a promover o reconhecimento mútuo das licenças nacionais susceptíveis de serem exploradas nas comunicações móveis dos aviões.

Pode concluir-se, assim, que se os passageiros, sobretudo nas viagens de negócios e de longo curso podem estar potencialmente nesta evolução tecnológica, as indústrias que a exploram devem estar muitíssimo mais.

Para já uma questão importante que se coloca é de saber quanto vai custar falar dos céus, sendo que o regulamento atinente ao roaming diz respeito apenas às redes terrestres, pelo que caberá ao prestador do serviço decidir o respectivo tarifário. Claro que os níveis de preços que irão cobrados serão, quase de certeza, num primeiro momento, deveras exorbitantes, ou não se trate de um serviço quase de luxo que é necessário rentabilizar. Embora a Comissão se diga atenta aos níveis de preços que irão ser facturados, o que é facto é que não parece que, só por isso, as coisas se passem em suavidade, à semelhança do que se aconteceu com o roaming terrestre em que foi necessária uma intervenção bastante musculada desta instituição comunitária.

Aproveitando o balanço os legisladores da União Europeia pretendem, na sequência, construir um sonho antigo que é um mercado único de telecomunicações no espaço europeu, o qual vai permitir uma maior coordenação dos países e, o que não é irrelevante, dos reguladores nacionais na preparação da oferta de serviços transnacionais ou pan-europeus ao nível comunitário.

Porém, a questão mais importante diz respeito às questões de segurança aérea, designadamente dos equipamentos e dos voos, mas também aos aspectos mais sensíveis que são os securitários ligados, designadamente à utilização que as actividades terroristas podem fazer destas novas funcionalidades das redes móveis.

Independentemente de todas estas questões mais nobres proponho, pragmaticamente, à semelhança das zonas de fumadores e de não fumadores que se crie, numa qualquer zona das aeronaves, também um espaço destinado, e passe o neologismo, aos novos telefonadores.

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