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Entre o errático e o vazio

O congresso do PSD, em Pombal, revelou, uma vez ainda, que a Direita continua entre o errático e o vazio. Nem uma ideia que corporize o indispensável (e desejável) combate político à maioria do PS.

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Inesperadamente, Luís Filipe Meneses, espécie de imagem desfocada de Santana Lopes, obteve expressivo número de apaniguados. Significa isto que o populismo não foi atirado para o desvão, e que Luís Marques Mendes caminha em terreno armadilhado.

A personagem talismânica de António Borges acabou por nada dizer de palpitante, e deixou quem o rejubilava numa espécie de paradoxo melancólico. Não se percebeu o que deseja este homem grave, de porte árduo e frase inócua. Dizem-me que tecnicamente está bem apetrechado. Dizem-me que politicamente é nada. A atmosfera continua rarefeita no PSD. E é significativo que alguns dos seus militantes mais responsáveis se remetam a um silêncio deliberado, ou mantenham uma distanciação manifestamente crítica.

Numa demonstração simplificada, é evidente que Marques Mendes possui mais forte estrutura de político do que Luís Filipe Meneses, blá-blá-blá. Porém, a reduzida margem de votos por Mendes obtida, em comparação com o autarca de Gaia, induz-nos a pensar que toda a concepção de manobra está seriamente agrilhoada. Os inimigos de Mendes não lhe perdoam muita coisa. O antisantanismo impiedoso, a coragem de dizer que o rei ia nu, o facto de conhecer a fundo o «aparelho», a capacidade de relacionamento com figuras decisivas na comunicação social - e, sobretudo, a engenhosa cooptação, para o seu lado, de grandes nomes do partido.

Habilíssimo negociador, pouco dado a especulações da imaginação, ele «tutelou», firmemente e sem tréguas, a Imprensa do Estado, quando Cavaco mandava no País e, apesar do odioso do papel, não criou inimigos na classe, caso raríssimo.

Que vai fazer Luís Marques Mendes, no interior de um PSD abalado por surdas batalhas, e não recomposto da hecatombe de Fevereiro? Ainda por cima, sob a atalaia daqueles que «vão andar por aí», e remoem surdas vinganças e recalcitrantes verdetes. Num breve comentário ao conclave de Pombal, o excelente António José Teixeira escreveu [«Jornal de Notícias», 11 de Abril]: «Sem sombra de pudor, Santana Lopes foi parte activa no processo de escolha do seu sucessor [Meneses], tomou partido, tentou condicionar o congresso e foi juiz em causa própria. Não conseguiu impedir a vitória clara de Luís Marques Mendes, mas limitou bastante a reflexão sobre o trajecto recente do PSD».

É a questão fundamental do partido: o debate acerca da linha ideológica; a recomposição da trajectória centro-esquerda; a recuperação de muitos daqueles que constituíram a fisionomia política do PSD, afastados por Durão e ignorados por Santana; e a abertura do discurso às novas exigências do tempo. Mendes não vai transformar o PSD num partido objectivamente social-democrata, o que quer seja o significado actual da expressão. Todavia, pode e deve coarctar o vínculo de extrema-direita que parecia ser, ultimamente, a rota definida.

A ver vamos?

APOSTILA 1 - Alguns (não todos) dos meus correspondentes electrónicos são incapazes de conversar. Gesticulam entre a traquinice da insolência e o insulto desaforado. Nada de estimulante sai daquelas cabecinhas. Prosa mal escanhoada, ocas ideias. Quem pensa fora dos moldes - é comunista. Eis o «Diário da Manhã» redivivo; ou seja: alguns representantes da Direitona em todo o esplendor. Se me entristece esta carência de senso e de argumentos, regozija-me o facto de aquilo que escrevo atingir o alvo. Continuem: não me intimidam, não me atemorizam e nem sequer provam a razão que desejariam assistir-lhes. Gostaria, isso sim, é que raciocinassem bem e escrevessem melhor.

APOSTILA 2 - O acima dito aplica-se, por inteiro, a um senhor, certamente estimável, que, no «Diário de Notícias», de 12 de Abril, escreveu um indescritível texto, no qual solta um chorrilho de tolices espaventosas, procurando atingir-me com pequenas aleivosias. Recortei o artigalhaço, pesaroso por um jornal como aquele acolher um dislate de tal jaez, mas ao mesmo tempo feliz por tanto me ter divertido. J. M. de Morais Cabral é o autor. Espero que nada tenha a ver com o meu velho camarada de Imprensa e querido amigo, Morais Cabral, que foi um dos mais distintos redactores do matutino da avenida.

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