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De Lisboa ao Porto num autocarro chinês 100% elétrico? Alemã Flixbus lança nova rota com apoio da EDP
Trata-se de um projeto em parceria com a Auto Viação Feirense, que conta também com o apoio da EDP. Com uma autonomia para cerca de 400 quilómetros, este veículo irá realizar duas viagens por dia, uma em cada sentido, todos os dias da semana (num total de 14 viagens).
Agora já é possível fazer a viagem entre Lisboa e o Porto, e vice versa, num autocarro movido a energia elétrica. O veículo da marca chinesa Yutong tem vindo a ser testado nos últimos meses nas estradas portuguesas, em termos de autonomia das baterias que alimentam o motor e performance rodoviária - mais especificamente na A1, a auto-estrada que liga as duas maiores cidades do país - chegando agora o momento de a operadora alemã de transporte de passageiros FlixBus (que opera em Portugal desde 2017) anunciar que vai passar a operar a rota Lisboa-Porto com este autocarro 100% elétrico.
Trata-se de um projeto em parceria com a Auto Viação Feirense, que conta também com o apoio da EDP. Com uma autonomia para cerca de 400 quilómetros, este veículo irá realizar duas viagens por dia, uma em cada sentido, todos os dias da semana (num total de 14 viagens), explica a Flixbus em comunicado. A estimativa da empresa é que o autocarro possa chegar ao destino com 20% da bateria ainda carregada.
Com uma frota de 64 autocarros elétricos (que circulam sobretudo em percursos urbanos e cuja compra foi subsidiada), a AV Feirense comprou este veículo à chinesa Yutong (que fabrica cerca de 500 destes autocarros por dia) há um ano e meio, num investimento que rondou os 500 mil euros (sem qualquer apoio estatal ou europeu), ou seja, mais do dobro do que um autocarro igual a diesel.
A empresa já comprou entretanto mais dois destes veículos de transporte de passageiros 100% elétricos da mesma marca chinesa, mas a sua integração na frota e circulação nas estradas portuguesas está dependente ainda de como correr a operação desta nova rota entre Lisboa e o Porto em parceria com a Flixbus.
"A operação de autocarros elétricas em longas distâncias ainda não é competitiva face ao diesel", disse ao Negócios Gabriel Couto, presidente da AV Feirense, explicando que o veículo da Yutong tem baterias com uma capacidade de 425 kWh, gastando 1 kWh por cada quilómetro percorrido. Já para carregar, demora cerca de uma hora para ter energia necessária para percorrer 100 quilómetros.
Do lado da Flixbus, a operadora alemã não dispõe de frotas próprias nos países em que opera, mas a ambição de ter viagens operadas com autocarros elétricas existia já desde 2018, vindo agora a cumprir-se em Portugal.
"Este é um projeto único na Península Ibérica", disse Pablo Pastega, diretor-geral da FlixBus em Portugal, pedindo ao Governo mais apoios à compra de veículos elétricos pesados de passageiros e outras ajudas à descarbonização das viagens, que poderiam passar pela isenção do pagamento de portagens para os autocarros da marca. Mais postos de carregamento para autocarros de longas distâncias e carregadores mais potentes são outros pedidos da empresa à tutela.
"Há ainda um longo caminho a percorrer. A começar, por exemplo, pela rede de postos de carregamento. Sem eles, a eletrificação da frota dos chamados expressos não será possível. Depois, a questão dos apoios também é fundamental, já que estas abragem apenas a renovação das frotas de autocarros urbanos, excluindo os expressos", frisou Pastega perante a secretária de Estado da Mobilidade.
O carregamento das baterias elétricas deste novo autocarro elétrico acontecerá então no final de cada viagem, sendo que o mesmo demora demora, em média, quase três horas (2h45, dos 20% aos 100%), num carregador ultra rápido de 120 kWh por hora. A EDP apoiará o projeto com o fornecimento de eletricidade através de um ponto de carregamento nas instalações da EDP Labelec em Sacavém. No Porto, o autocarro carregará nas instalações da AV Feirense, que dispõe de vários carregadores para a sua frota elétrica.
Há dois anos a FlixBus testou em Portugal o primeiro autocarro de longa distância 100% elétrico, num percurso de 300 quilómetros, mas este acabou por fazer menos viagens do que as inicialmente previstas, já que não havia condições para o seu carregamento. "É impossível, para um investimento desta dimensão, levarmos seis ou oito horas a fazer uma carga completa. É um fator que tem de ser considerado em futuros investimentos nas redes de carregamentos para veículos pesados", explica Pablo Pastega.
"Depois de um projeto-piloto que desenvolvemos em 2022, entre o Porto e Bragança, este é o primeiro autocarro de longa distância 100% elétrico a operar em Portugal entre Lisboa e Porto, naquele que é um dos mais concorridos corredores rodoviários do país. Ainda que pequeno, é um passo histórico para a descarbonização do transporte de passageiros de longa distância em Portugal", assinalou o responsável, em comunicado, acrescentando que tal só é possível com o apoio da AV Feirense e da EDP, "que disponibiliza um ponto de carregamento e eletricidade".
Com a operação programada pela Flixbus, a emprsa estima que este autocarro 100% elétrico permira evitar a emissão de, no mínimo, 150 toneladas de CO2 por ano, em comparação com a mesma viagem realizada com um autocarro a combustão, e considerando o mix energético de produção em Portugal continental (dados REN/ APREN), garante a empresa.
Neste momento, a Flixbus realiza cerca de 120 viagem diária entre Lisboa e Porto, sendo que apenas duas delas serão agora alimentadas com eletricidade da EDP. A empresa soma mais de 60 destinos em Portugal e 250 ligações de autocarro em todo o país.
EDP vê potencial de negócio no carregamento elétrico de autocarros
Do lado da EDP, esta parceria permite "evitar emissões de carbono numa das rotas mais utilizadas diariamente no nosso país. É fundamental que haja cada vez mais parcerias entre empresas que querem contribuir para uma mobilidade sustentável em Portugal", destacou Carlos Moreira, administrador da EDP Comercial com o pelouro da mobilidade.
"É o primeiro autocarro elétrico, mas temos centenas de outros para eletrificar e continuar a fazer este caminho de investimento na transição energética", disse o responsável ao Negócios, acrescentando: "Agora já podemos fazer viagens sem emissões entre Lisboa e o Porto de carro, comboio e também de autocarro".
"Este piloto é um primeiro passo para, por um lado, mostrar que a tecnologia funciona e, por outro lado, dar confiança também às empresas, seja do setor privado, seja do setor público, de que podem fazer esse investimento", acrescentou.
Quanto ao potencial de negócio para a EDP, o administrador da EDP Comercial diz que existe. "Neste momento estamos numa fase ainda de piloto, de aprendizagem, de mostrar a tecnologia. Mas, naturalmente, vai haver necessidade de investimento em infraestrutura, postos de carregamento ultra-rápidos que permitam que viaturas como esta carreguem no menor curto de espaço possível".
Na mobilidade elétrica, a empresa conta já com mais 3.300 pontos de carregamento contratados na rede pública em Portugal (e mais 2.000 es Espanha), com opções disponíveis em todos os distritos e em mais de metade dos concelhos do país, com mais de dois milhões de sessões de carregamento já realizadas.
A ambição é chegar aos 7.000 pontos de carregamento até 2026, disse ao Negócios Carlos Moreira.
O responsável garante que o custo da eletericidade para a mobilidade elétrica continua a ser competitivo (em casa e na rede pública), mas reconhece a necessidade de simplificar as operações de carregamento e o pagamento das mesmas para os portugueses que optem por um carro elétrico. No verão, em junho e julho, a EDP reduziu os seus preços de eletricidade para a mobilidade em 11%. "Vamos sempre acompanhando aquilo que são as condições de mercado".
Flixbus já de olho nos autocarros a hidrogénio
Para a Flixbus, o novo autocarro 100% elétrico a circular entre Lisboa e Porto insere-se no compromisso de descarbonização total da frota na Europa até 2040. A operadora alemã quer aumentar a utilização de tecnologias e combustíveis alternativos, a fim de reduzir progressivamente a pegada de carbono da frota dos seus parceiros.
"Embora ainda não esteja disponível uma tecnologia definitiva, neutra em termos de carbono, para operações de autocarros de longa distância, a empresa adotou uma abordagem diversificada, e nos últimos anos tem vindo a testar cinco tecnologias alternativas de combustível e de propulsão, com mais de 10 projetos-piloto na Europa e nos EUA, nomeadamente com autocarros elétricos a bateria, Bio-CNG e Bio-LNG, biodiesel e painéis solares", diz a empresa no mesmo comunicado.
A Flixbus planeia também lançar em breve o primeiro projeto de pilha de combustível de hidrogénio da Europa, um projeto em parceria com a Freudenberg Fuel Cell e-power Systems e a ZF Friedrichshafen AG.