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24 de Fevereiro de 2017 às 10:17

O despautério

Nem tudo é permitido em democracia, a não ser que os agentes deste desconforto desejem, eles mesmo, destroçar o que, há pouco mais de quarenta anos, foi edificado com esforço inaudito.

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A luta que Pedro Passos Coelho trava para que Mário Centeno seja corrido do Governo tornou-se num cansativo exercício de despautério. As razões pretendidamente fundas para desmantelar o Governo não só são fatigantes como resultam no destapar do feio rosto de uma manobra tenebrosa. Nem tudo é permitido em democracia, a não ser que os agentes deste desconforto desejem, eles mesmo, destroçar o que, há pouco mais de quarenta anos, foi edificado com esforço inaudito. O antigo primeiro-ministro está desarvorado e as sondagens, tomando-as como válidas, são suficientemente esclarecedoras. Esta experiência governamental, por única no panorama democrático português, é suficientemente reveladora do que tem acontecido noutras "freguesias." E explica as razões fundas que conduzem ao ludíbrio. Mas a verdade é que jogadas desta natureza estão a ser rudemente castigadas, um pouco pela Europa. Bem sabemos o custo material que implicam, o desgosto que provocam e a fadiga que despertam. Sabemos, porém, que os povos aturam os golpes mais tenebrosos quando as contas atingem os limites máximos.

Os quase cinquenta anos que antecederam o 25 de Abril constituíram um preço elevadíssimo, cujas consequências ainda hoje se sentem. E não esquecemos os trezentos anos de Inquisição, que dizimaram os valores mais altos da ciência, do conhecimento e da liberdade. A luta do povo português é um episódio dos mais relevantes, conquistados na nossa História, e cuja dimensão tem sido ocultada por aqueles cuja consciência possui o valor de um caco.

Essa batalha insana tem-nos conduzido ao sítio onde estamos. Difícil, demorado, infatigável, porém não desmerecedor daqueles cujo único fito era o de conhecer os benefícios da liberdade, e que, para isso, oferecem tudo, até a vida. Dizem, para nos aquietar as ânsias de sonho, que ser livre sai muito caro. Claro que sim, quando os inimigos que se lhe opõem possuem tudo, até os artifícios do embuste. Seria curioso e instrutivo saber-se o que está por trás de muitos jornais e publicações circulantes, o que pretendem na realidade, manipulando consciências e, no fundo, ocultando, com hábeis mentiras, a verdade dos factos.

A economia, nobre ciência, tem possibilitado a ascensão de uma casta que proclama a ascensão de novos valores. Mas o que surdamente prognosticam é a ascensão desse mundo flutuante, flexível e vão, no qual os valores que nos impõem fertilizam certa ignorância e o descuido pelas dificuldades circundantes, e pouco reveladas. Portugal, pelos antecedentes conhecidos, tem sido um terreno fácil ao avanço dessas manigâncias. E não esqueçamos as políticas de-senvolvidas por Passos Coelho, acolitado por um ministro desarvorado, cujo nome conscientemente apago e vitupero, quando atiraram para o desespero e para o estrangeiro milhares de jovens altamente qualificados.

A luta sem regras contra o ministro Centeno é um dos episódios mais tenebrosamente sinistros ocorridos na história democrática do nosso país. E a tentativa do arrastar de Marcelo, para o pântano criado por Pedro Passos Coelho, constitui outro incidente que marca o propósito social-democrata vilipendiado até ao ultraje. A base política e ideológica do PSD estará disposta a consenti-lo? É o que veremos.


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