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05 de Dezembro de 2008 às 12:00

Bombaim e as novas alianças económicas dos EUA

A reacção dos EUA e, em particular, do seu presidente eleito, Barack Obama, aos ataques terroristas de Bombaim, na Índia, não deve ter apanhado de surpresa quem andasse atento ao que Obama escreveu ao longo dos últimos anos em diversos periódicos. Em particular, a aposta estratégica dos EUA na Índia ...

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Em particular, a aposta estratégica dos EUA na Índia é enunciada de forma quase explícita num artigo do passado mês de Fevereiro no India Abroad, uma publicação editada em Nova Iorque, assinado pelo então candidato à nomeação presidencial democrata.

É aliás, em grande medida, inocente presumir o facto de o Paquistão ter sido o único país nomeado por Barack Obama quando, em "A audácia da esperança", o seu segundo livro de memórias, falou em acções directas, unilaterais contra campos terroristas da Al-Qaeda. Não se trata de guerras preventivas, à la George W. Bush, mas antes ataques ditos preventivos. Obama sabia que a Índia e os EUA partilham um interesse estratégico comum: têm como inimigo o terrorismo islâmico, que no caso da Índia é suportado pela ocupação de parte do território de Caxemira, de maioria muçulmana. E apoiado pela Al-Qaeda e pelos Talibã. No artigo do India Abroad, Obama considera que os dois países devem unir esforços na perseguição desses braços terroristas do fundamentalismo islâmico.

Poder-se-á perguntar se esta opção estratégica de Barack Obama não estará antes relacionada com o fracasso do Paquistão em ter movido, desde 2001, uma perseguição capaz aos foragidos Talibã que entraram no país pela sua extensa e montanhosa fronteira com o Afeganistão. Afinal, o General Pervez Musharraff foi sustentado no poder com auxílio americano, em troca de uma cooperação na luta contra o terrorismo com poucos efeitos práticos.

A meu ver, Obama viu mais longe do que isso. A Al-Qaeda e os Talibã são um problema conjuntural. Estrutural será a nova ordem económica mundial que terá necessariamente que emergir da passagem da crise económica e financeira em que os EUA estão mergulhados. E nessa Nova Economia, há três actores chave, os que estão na vanguarda da tecnologia e da Investigação & Desenvolvimento. Falamos, claro está, dos EUA, da Índia e da China.

Os EUA perderam parte do seu pioneirismo científico em função das guerras à ciência movidas pela Administração cessante: parte delas traduzidas em cortes de verbas que inviabilizavam a investigação básica em áreas como energias renováveis ou alterações climáticas. Mas são obviamente a primeira potência na matéria. O que dizemos é que a ascendência ao mesmo campeonato da Índia e da China é indisputável. No mesmo livro de memórias, Obama confessava antecipar que a guerra com a China nunca seria bélica, mas sempre económica.

No artigo do India Abroad, o presidente eleito enaltece o papel dos indianos na economia americana, em particular o seu empreendedorismo tecnológico e aposta na inovação. Fala nos casos de sucesso protagonizados por indianos em Sillicon Valley. E no meio desta clara sedução, vem a explicação da escolha da Índia como parceiro estratégico privilegiado: a partilha de um conjunto de valores entre "a mais velha democracia do mundo", leia-se os EUA, e "a maior democracia do mundo", leia-se a Índia. Se não havia pontos de contacto para alianças com a China, eles existem com a Índia, e Obama chamou-os pelo nome.

Em síntese, se as condolências dos EUA à Índia serão seguramente sentidas, as que partiram de Barack Obama e da sua equipa de transição têm, a meu ver, claramente um segundo objectivo. E que passa de forma inequívoca por desenvolver laços de amizade que potenciem parcerias económicas e tecnológicas. Obama olha para o oriente, como olharão os EUA nos próximos anos.

Desenganem-se os que na Europa pensam que o multilateralismo que ele preconiza será sinal de uma aposta económica no eixo atlântico. Não é na Europa que se pensa quando se tem em mente um parceiro tecnológico que tenha crescido economicamente a taxas impressionantes nos anos de Bush.

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