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19 de Janeiro de 2009 às 13:00

As novas energias e a poupança energética

Numa altura em que as empresas portuguesas se viram fortemente para o mercado das energias alternativas e em que o pacote de incentivos à economia do novo presidente dos EUA dedica a investimentos nesta área montantes impensáveis, vale a pena fazer uma breve análise das potencialidades do sector.

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Sabemos já bem que a poupança energética não passa somente pela substituição de energias não renováveis por energias renováveis. O programa norte-americano, num dos poucos aspectos em não tem sido emulado deste lado do Atlântico, compreende uma aposta forte nas tecnologias energeticamente eficientes, ainda que continuando a operar à base de combustíveis fósseis, como o carvão e o petróleo. Há aqui duas realidades a considerar. No caso do carvão há possibilidade de o converter numa forte de energia limpa, se for possível criar uma forma lucrativa de usar as chamas tecnologias de carvão limpo.

Essencialmente estão em causa processos de sequestro de carbono e do seu armazenamento no subsolo, evitando emissões atmosféricas, ou processos de gasificação em que os resíduos de carvão são usados indirectamente na produção de mais energia. Em todo o caso, esta é uma investigação em curso. Há um projecto na Alemanha nesta área, que procura verificar a segurança do armazenamento de carbono liquefeito no subsolo. Depois de a FutureGen, um programa de fronteira dos EUA na área, ter sido criado e extinto pela administração Bush sem real possibilidade de avaliação. O custo das tecnologias do carvão limpo, designadamente ao nível dos consumos de energia nos processos de sequestro de carbono, levanta, contudo, ainda sérios desafios de rentabilização.

O caso do petróleo é mais complexo. Evidentemente que as tecnologias que poupam o consumo final de energia acabam por diminuir o consumo de petróleo usado na sua obtenção. E o programa norte-americano de reconversão de edifícios públicos para poupança de energia tem um potencial que merecia ser estudado. Estima-se que, em média, 1/3 do consumo de energia nos EUA seja proveniente de edifícios. E operações como a substituição de janelas, sistemas de aquecimento e ar condicionado, e mecanismos de armazenamento e reaproveitamento de electricidade – projectos particularmente promovidos pela nova secretária do Emprego, Hilda Solis, enquanto membro da Câmara dos Representantes – têm potencial de criação de emprego e de promover a reanimação da economia no imediato, enquanto se traduzem em ganhos reais de poupança de combustível. A instalação de redes digitais de distribuição de electricidade oferece também a possibilidade de uma gestão mais eficiente da energia obtida a partir de centrais termoeléctricas. Em todo o caso, são projectos com ganhos somente no médio e longo prazo. Embora existam experiências interessantes já testadas na Holanda e no Noroeste dos EUA.

No que toca às energias renováveis propriamente ditas, existe um potencial enorme que não está a ser aproveitado de horas de exposição solar anual. Nem aproveitado na América nem em países europeus como Portugal ou a Grécia. O problema fulcral passa por o custo da electricidade obtida por esta via ser ainda mais cara que a resultante do consumo de combustíveis fósseis. Contudo, há investimentos em I&D nesta área (designadamente no laboratório de Berkeley, até recentemente dirigido por Steven Chu, o novo Secretário da Energia da Administração Obama), que procuram melhorar os processos de conversão da luz solar em electricidade, aplicando nanotecnologia ao nível das próprias células fotovoltaicas. Não sabemos obviamente se o caminho será este. Mas existem ganhos claros já registados quando a I&D é dirigida ao campo das energias renováveis: o velho problema do ruído das turbinas ao nível das estações de captação de energia eólica, gerando distúrbios na agro-pecuária, foi claramente superado por esta via, com as novas gerações de turbinas silenciosas.

Em síntese, existe um campo vasto, com margens de rentabilidade por explorar no domínio das energias renováveis. Nem todos os projectos correm da melhor forma, como qualquer manual de gestão da inovação demonstra, e como o exemplo da produção de etanol a partir de milho evidenciou recentemente nos EUA. Não deixa, no entanto de ser verdade que os biocombustíveis têm outros percursos de exploração. E que contrariamente ao que chegou a ser anunciado, não é propósito da nova administração americana abandonar a aposta no nuclear. Nem Steven Chu, um homem que fez a sua carreira na área da energia nuclear e da Física Atómica, entraria nesse delírio. O desafio é a o tratamento dos resíduos nucleares, para minimizar o risco da contaminação por fugas tóxicas.

Valeria a pena pensar seriamente em algumas destas medidas quando se equaciona o problema de uma nova subida dos preços do petróleo. É que o problema é de simples oferta e procura. No caso, oferta de um recurso que não durará muito mais. E se alguém quiser ver preços de crude espectaculares, será esperar pelos últimos anos do petróleo, sem que se tenham feito os necessários investimentos em energias alternativas. Se alguma destruição criativa, na terminologia de Schumpeter pode resultar da actual crise, passa muito pela exploração destas fontes renováveis (toda esta temática é aprofundada em “E agora, Obama?”, livro a aparecer no mercado no início de Fevereiro).

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