Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Opinião
12 de Fevereiro de 2009 às 11:46

Análise do plano de Timothy Geithner

O plano Geithner foi anunciado como de ruptura face ao TARP de Henry Paulson. E Geithner insistiu, na conferência de imprensa desta terça-feira, nessas diferenças, entendendo que o seu era um plano mais compreensivo e menos casuístico que o do seu antecessor.

  • 2
  • ...
O plano Geithner foi anunciado como de ruptura face ao TARP de Henry Paulson. E Geithner insistiu, na conferência de imprensa desta terça-feira, nessas diferenças, entendendo que o seu era um plano mais compreensivo e menos casuístico que o do seu antecessor. E que pretendia devolver confiança aos mercados.

Nesse ponto há que lhe dar alguma razão. A forma como Paulson geriu a primeira tranche do TARP passou pela distribuição de verbas consoante as dificuldades das instituições financeiras, sem nenhum critério de selecção. No meu livro "E agora, Obama?" discrimino os destinos, mas basta frisar que 168 mil milhões de dólares foram distribuídos sob a forma de cheques enviados pelo tesouro a 116 bancos! Ao definir um critério de alocação de fundos no novo plano, baseado num "stress test", para aferir quais os bancos com capital próprio suficiente para suportarem um agravamento sério das condições económicas, encontrou-se um mecanismo de definição dos bancos que precisam de reforço de capital. Os bancos com capital superior a 100 mil milhões de dólares e que falharem o "stress test" terão acesso a capital proveniente do Tesouro para passarem a dispor de um "buffer" de segurança face a essas circunstâncias económicas adversas. Geithner afirmou que tais bancos deveriam procurar o "buffer" no mercado, mas que o Tesouro estaria disponível para o disponibilizar, designadamente com verbas do TARP, como contrapartida de acções preferenciais convertíveis.

Onde este primeiro vértice do plano merece ser criticado é na indefinição de dois aspectos fundamentais para os contribuintes: os dividendos a pagar por essas acções preferenciais, e o preço de conversão em acções comuns (embora se indique como referência um desconto modesto face ao preço em 9 de Fevereiro de 2009).

O ponto mais débil do programa de Geithner passa pela sua obsessão em não criar um "bad bank" público que comprasse activos tóxicos às instituições financeiras e os revendesse no mercado. Em lugar disso, o Tesouro propõe-se criar um fundo com capitais públicos e privados que comprará esses activos aos bancos. São três os problemas que se identificam aqui. Por um lado, parece claro que a dificuldade de avaliação destes activos, que já existia no plano Paulson, permanece. Estes activos só raramente são hoje em dia transaccionados. E a falta de mercado impede que tenham um preço de referência. O que nos conduz ao segundo problema: os bancos com activos tóxicos tipicamente discordarão dos preços que são oferecidos, por os acharem demasiado baixos. Diversos analistas, como David Rubenstein, co-fundador do grupo Carlyle, temem que daqui resulte um mercado onde os vendedores podem demorar vários meses a surgir - tornando a medida pouco operacional porque os activos tóxicos permaneceriam nos bancos. O terceiro problema resulta da falta de precisão de termos dessa parceria com os privados. A questão não passa por saber se existe dinheiro privado disponível. Passa antes por muitos se perguntarem se o dinheiro privado se atreverá a embarcar numa aventura destas, num contexto em que a avaliação de activos assentes em créditos é pura adivinhação. Nesse sentido, a parcela de financiamento público poderá acabar por ser muito elevada. Uma solução de nacionalização temporária, como na Suécia nos anos 90, tenderia a ser mais eficaz.

O terceiro vértice do programa com um custo estimado de um milhão de milhões de dólares passa por revitalizar o crédito comercial. Entendendo que este só é concedido a empresas e particulares quando existe um vibrante mercado secundário que compre crédito titularizado, o Tesouro propõe-se participar nesse mercado secundário. Esta medida não comporta títulos referentes a crédito hipotecário. Esse será o quarto vector do plano: 50 mil milhões de dólares, com o intuito de compensar os bancos por alterarem as condições de créditos individuais existentes, em termos ainda a definir, mas que se antecipa passem pela alteração de taxas e prazos de pagamento.

Os principais problemas macroeconómicos do plano são claros. Em primeiro lugar, a quantidade de títulos do tesouro, que inundará o mercado, significará uma queda dos preços desses títulos e uma subida das taxas de juro a longo prazo. Alternativamente, a possibilidade de financiamento do Estado pela Reserva Federal é historicamente perigosa. Ademais, o problema de saber quem comprará os títulos está por resolver. A solução proposta no meu livro, envolvendo o FMI, parece provável, já que os credores externos usuais dos EUA estão eles próprios em crise financeira. Por fim, a medida que maior apoio suscitou, o terceiro vértice, exige muito mais que uma regulação bancária. Só títulos com "rating" AAA deverão ter, segundo Geithner, compra assegurada pelo Tesouro, mas como discuto em "E agora, Obama?", algumas MBS com essa classificação provaram não a merecer. Para evitar uma nova crise do crédito, os mecanismos de supervisão sobre as próprias agências de "rating" têm que ser melhorados, evitando fraudes passadas. O plano Geithner é omisso neste ponto.
Ver comentários
Mais artigos do Autor
Ver mais
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio