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09 de Julho de 2007 às 13:59

23. O número da sorte

A primeira semana correu bem. Faltam agora 23 para o fim. Embora falte bastante menos para se chegar ao dia 23 deste mês. Data em que arrancam os trabalhos da Conferência Intergovernamental na qual Portugal vai apresentar um novo Tratado. Tipo chave-na-mã

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Se esse dia 23 correr bem, as 23 semanas que, agora, faltam, da presidência portuguesa da União correrão bem também.

O Governo agiu como devia agir. Primeiro, pedindo um mandato claro. Obteve-o. Segundo, dizendo que um mandato é um mandato e um Tratado é outra coisa. Os louros do mandato são para a Alemanha, os que houver que invocar pelo Tratado serão para Portugal. Terceiro, elencando as principais iniciativas da presidência mas chamando a atenção para o facto da prioridade das prioridades ser o Tratado. Com ele e por ele se desbloqueará o que está bloqueado há muito tempo na União. É clássico nas organizações internacionais ser rapidamente esquecido o que as presidências, para mais quando ainda são rotativas fazem por elas. Sobretudo quando fazem pequenas coisas que a voragem dos dias consome com uma enorme celeridade. Vale mais escolher uma prioridade, a prioridade, do que apontar três ou quatro que depois são nada. Porque não ficam na memória das pessoas. E a história é, essencialmente, memória. É claro que o que vem de ser dito vai logo por água abaixo se a prioridade fracassar.

Mas não é isso que, neste caso, é expectável. A equipa dos Negócios Estrangeiros responsável pelas negociações já fez saber que pretende acelerar o processo para controlar possíveis obstáculos que o tempo potencie. Essa é uma medida sensata. Quanto mais depressa se fechar o assunto, maior é a probabilidade de se chegar a bom porto. Por outro lado, Portugal já fez saber que não reabre, em caso algum, o que ficou acordado no Conselho Europeu de Bruxelas que fechou a presidência alemã. O que é outra posição sensata. Permitir a reabertura dos assuntos é convidar a caixa de pandora a estrepitar de felicidade. Quer isto dizer que a presidência portuguesa quer, sobretudo, fazer uma avaliação correcta das circunstâncias que terá pela frente. O que é outra vez sensato, até duplamente sensato. Porque se é assim para qualquer homem que o é mais as suas circunstâncias, por maioria de razão o é quando se trata de assuntos europeus. Do que se trata, portanto, é de minorar, por todos os meios, os focos de instabilidade decorrentes dos imprevistos.

Há, todavia, uns imprevistos que se podem quase prever. Mais do que outros. A Turquia pode querer acelerar as suas ambições e estragar tudo, mas não é crível que a presidência portuguesa não consiga colocá-las em banho-maria. Os Balcãs são sempre complicados, mas não é crível que surja grande turbulência se o Kosovo estiver mais ou menos calmo. O Líbano, complicado é, mas se os homens no terreno conseguirem serenar a situação não é crível uma turbulência fatal. E há, depois, os imprevistos propriamente ditos, impossíveis de antecipar. No mundo actual podem vir de qualquer lado. E podem estragar tudo. Sobretudo os imprevistos piores de todos que são os ataques terroristas. Mas até aqui as coisas podem estar no bom caminho. Porque, em Inglaterra e na Escócia, Gordon Brown, apenas cinco dias após tomar posse, segurou as pontas com mestria e firmeza. Se a ideia dos ataques era testar o novo PM, então o teste está feito. Com louvor para Brown. E porque este facto pode desencorajar, para já, mais acções terroristas. E mesmo que as haja, o que há a fazer é seguir o exemplo inglês.

Sócrates afirmou e bem que a presidência portuguesa recebeu "um mandato para fazer um tratado e não para rever o mandato". Teimoso como é não se vai esquecer disto e está determinado a que, no fim, nasça o "Tratado de Lisboa". O tempo de gestação já começou a contar. Parto induzido para meados de Outubro. Ou para aquilo a que antigamente, quando ainda existia, se chamava de Outono.

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