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O que têm em comum a nova basílica do Santuário de Fátima, o hospital de Cascais, a remodelada Torre dos Clérigos, a Pousada da Serra da Estrela e os hotéis Hilton, na Nova Zelândia, e Ritz Carlton, no Dubai? Os sistemas de instalação sanitária da OLI (Oliveira & Irmão), desenvolvidos e fabricados em Aveiro, que estão também "no interior" de dois terços das sanitas que se vendem na Escandinávia, sobretudo na Suécia e na Finlândia.
Depois de produzir 25 milhões de autoclismos desde 1980 e ter facturado 43 milhões de euros no ano passado, a empresa prepara-se para entrar nos Estados Unidos em 2015 e projecta também a abertura de fábricas no Leste europeu e no Médio Oriente.
difíceis e caros
de transportar, justificando-se produzir localmente alguns componentes para sermos competitivos.
Estamos a amadurecer esta ideia.
Presidente da OLI
Criada há 61 anos para comercializar ferragens e produtos para canalizações no mercado nacional, a crise de divisas nos anos 1970 complicou as importações e levou os irmãos António e Saul a produzir parcialmente os autoclismos que importavam de Itália.
Preparada no final da década, a fábrica arrancou em 1981 com três máquinas – hoje tem uma centena e emprega 345 pessoas. Por outro lado, beneficiou da "insípida tentativa" do governo da altura de fomentar a indústria nacional. Começou a fabricar alguns componentes, passou a produzir as peças que importava e depois a exportá-las, até vender autoclismos no exterior.
Foi pela mão do filho de um dos fundadores, também baptizado com o nome António, que foram dados os primeiros passos industriais. O presidente da empresa, que actualmente exporta 80% dos autoclismos interiores e exteriores, placas de comando, torneiras de bóia e válvulas de descarga, para 60 países dos cinco continentes, recorda que só com "muito trabalho e rigor" o negócio floresceu e aguenta hoje o embate com a concorrência da Alemanha e Suíça. E se foi a primeira intervenção do FMI a estimular a produção industrial, foi a troika do século XXI que a "empurrou" mais para o Norte e para fora da Europa, pela "desaceleração muito grande" no Sul do Velho Continente.
O Médio Oriente, em particular a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, foi a região em que a líder ibérica mais cresceu (33%) em 2014. Este ano pretende entrar na Índia, Singapura e nos Estados Unidos, sendo este último o mais adiantado nas negociações, que decorrem há um ano. António Oliveira conta realizar as primeiras vendas na maior economia do mundo em meados do ano, depois de terminar o exigente processo de certificações e o desenvolvimento de produtos específicos para uma indústria de cerâmica norte-americana, que vai equipar parte das suas louças com autoclismos aveirenses.
Fábrica no estrangeiro
Apesar do esforço de diversificação – e é nessa prospecção de clientes em novos mercados e no aumento do portefólio de produtos que assentam as estimativas de crescimento de 10% da facturação no final deste ano –, é ainda na Europa que a OLI realiza 64% das vendas. Um em cada quatro euros chegam de Espanha e Itália, que dominam o "ranking" dos melhores destinos, sendo a liderança transalpina. É lá que tem a maior filial comercial – a outra, mais recente, está na Rússia – e que mora a Fondital, o grupo industrial que detém 50% da OLI desde 1993.
A moderna fábrica em Aveiro, que trabalha ininterruptamente 24 horas por dia e sete dias por semana, ainda está longe da capacidade máxima. É por motivos logísticos que a OLI está a avaliar a criação de "alguns focos de produção em pontos estratégicos", como o Médio Oriente e o Leste europeu. "Alguns dos nossos produtos são difíceis e caros de transportar e, portanto, justificar-se-á, se os mercados tiverem o desenvolvimento que se espera, produzir localmente alguns dos componentes para sermos competitivos", explicou o empresário, detalhando que este é "um processo que está a ser amadurecido".
António Oliveira considera que os transportes são "um dos grandes problemas da indústria portuguesa", que está cada vez mais longe do centro de gravidade europeu, que se tem deslocado para Leste. Além de periféricos, há uma "extrema dependência" do camião – a taxa de utilização ronda 80% –, seja na importação das matérias-primas, seja na exportação do produto acabado. A ferrovia não passa de um oásis e o marítimo só é competitivo para colocar a mercadoria junto a um porto de mar. Como exemplo de um "absurdo que custa muito dinheiro" mas para o qual não há alternativa, os autoclismos seguem para a Rússia em camião.