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Aveiro dá "cabazada" na estatística desportiva

Pelos discretos escritórios da RunningBall Portugal passa todos os meses o acompanhamento de oito mil jogos de várias modalidades, fornecendo dados em tempo real às casas de apostas e aos "sites" de notícias.

24 de Fevereiro de 2015 às 00:01
Paulo Duarte
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A manhã solarenga de Inverno está ainda longe de chegar ao fim e Joana Morais já acompanhou dois jogos de voleibol feminino da Coreia do Sul. Em tempo real, segundo a segundo, com a ajuda de dois monitores e equipamento informático de ponta, recolheu e inseriu no sistema de gestão os pontos, a maneira como foram executados, as rotações e os descontos de tempo de cada equipa, entre outras informações estatísticas pedidas pelos clientes.


Com formação em Desporto e Gestão Desportiva, começou a trabalhar na RunningBall um mês depois de sair da universidade. "Enquanto não aparecia mais nada, achei que era uma boa oportunidade para aprender mais", relatou a jovem aveirense de 25

A Polónia é o único país que luta bastante connosco nesta área. As nossas vantagens são os preços do aluguer, da energia, da internet, e o custo e a competência
da mão-de-obra. 
Diogo Cardoso,
CEO da RunningBall Portugal

anos, reconhecendo "alguma pressão" neste acompanhamento em directo, que é supervisionado e pontuado pelo serviço de qualidade da empresa.


Joana Morais é uma das 112 pessoas que, a partir daqueles escritórios de 1.100 metros quadrados instalados numa discreta galeria comercial na base de um prédio de habitação, fornecem dados sobre desporto em tempo real para todo o mundo. Uma parte da carteira mensal de oito mil jogos de várias modalidades – futebol, basquetebol, voleibol, andebol, voleibol de praia, hóquei no gelo e snooker – é acompanhada remotamente.


Na maioria dos jogos, porém, há gente espalhada pelos estádios e pavilhões de todo o mundo (também há 30 em Portugal para as ligas de futebol e basquetebol), que recolhem as informações nas bancadas. No escritório aveirense, que quase nunca fecha as portas, é feita a filtragem e supervisão, uma espécie de primeira camada de controlo de qualidade que neste momento representa 80% da actividade.


As maiores casas de apostas desportivas e órgãos de comunicação social, como a Sky e o Record, são clientes da multinacional de origem austríaca, que em 2012 foi comprada pela gigante britânica Perform. O centro operacional português é responsável por 80% da cobertura total da empresa, que tem "hubs" noutros países. O CEO da RunningBall Portugal, Diogo Cardoso, frisa que só a Polónia compete em eficiência com as condições portuguesas.


Como vantagens competitivas, Diogo Cardoso aponta os preços do imobiliário, energia e internet, e o custo e a competência da mão-de-obra. Muitos dos que ali trabalham, com a idade média a rondar 26 anos, são estudantes universitários ou recém-licenciados, que possuem as essenciais ferramentas informáticas e linguísticas – há quem fale russo e chinês –, além de conhecimento prévio dos desportos.

 

 
Tome nota: Do telefone aos quatro ecrãs de computador
Para encontrar a origem do que é hoje a RunningBall Portugal é preciso recuar quase uma década. Ao tempo em que Diogo Cardoso, recém-licenciado em Economia, cria o pequeno negócio com um amigo.
 

Um nicho "arcaico"...
Ainda longe de imaginar o que poderia ser este nicho de mercado e como a informação poderia ser vendida, em 2006, Diogo Cardoso criou com um amigo um pequeno negócio de estatística desportiva, instalado no centro de Aveiro, que funcionava num "método muito arcaico": tinha pessoas nos estádios de futebol em Portugal e fazia a recolha de informação pelo telefone. Nem sabia bem o que é que os clientes, sobretudo pessoas relacionadas com fóruns de apostas, faziam com ela. Devido ao "delay" existente entre o tempo real e as imagens na televisão, começaram a receber solicitações para fazer a cobertura de jogos noutros países.

 

...engolido por um gigante austríaco...
Quando se preparava para iniciar uma estrutura para a América do Sul, mercado ainda por explorar, a austríaca RunningBall englobou-os na sua estrutura. O acordo firmado em Outubro de 2007 levou ao grande salto tecnológico – a automatização da recolha de informação – e comercial, que resultou numa poupança de recursos e criação de economias de escala. Em vez de uma pessoa fazer um jogo para um cliente, a cobertura era feita para todos os possíveis. Mais tarde, a informação passou a ser colocada no "site" dos clientes, sejam de apostas ou de comunicação social, e a cobertura virou global.

 

...que deixou de ser só um intermediário
Mais recentemente houve uma alteração estratégica que direccionou a acção do "hub" português para a área da supervisão e filtragem da informação – além da cobertura remota de alguns jogos, que continua a fazer –, deixando de ser apenas um ponto de contacto e uma espécie de intermediário entre a empresa e as pessoas no estádios.

 

 

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