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A Universidade que trata as empresas por tu

A Universidade de Aveiro nasceu e cresceu com os olhos postos nas empresas. Hoje, com mais de 14 mil alunos, a instituição desenvolve produtos para todos os sectores, desde impressão 3D de cerâmica a paredes que se limpam sozinhas.

24 de Fevereiro de 2015 às 00:01
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Leire Buruberri veio do País Basco para Aveiro em 2013 e acabou a fazer cimento para a Portucel. Tudo porque o seu projecto de mestrado foi usar os resíduos da papeleira para produzir clínquer, o componente principal do cimento. "Pegámos em três resíduos que a Portucel gera em grandes quantidades e fizemos várias formulações, até chegar à formulação óptima, para obter o clínquer", contou Paula  Seabra, que além de ser equiparada a investigadora trabalha desde 2011 no gabinete "universidade-empresa" da Universidade de Aveiro (UA) que tem como objectivo estreitar esta ligação.


Faz sentido que tudo isto aconteça no departamento de Engenharia de Materiais e Cerâmica, que é dos mais antigos da UA, tal como o  das telecomunicações, que nos anos 70 constituíram a matriz da universidade e a lançaram na direcção do mundo empresarial. "Nascemos fisicamente no que

Somos a única [Universidade] em Portugal que não tem faculdades. Portanto temos uma estrutura muito plana e matricial. O que está inerente a isto é a capacidade de resposta.
Esta agilização
da resposta é uma vantagem. 
Manuel Assunção,
Reitor da Universidade
de Aveiro

hoje são instalações da PT Inovação. Esta relação está lá desde o primeiro momento", adiantou Manuel António Assunção, reitor da UA desde 2010 e membro desta comunidade quase desde o primeiro dia, há 40 anos.


A cerâmica fazia todo o sentido nessa altura e continua a fazer. Entre os projectos que o departamento de Paula Seabra está a desenvolver, conta-se um "material com uma superfície auto-limpante e que pode ser usado como descontaminante gasoso", refere a professora. Ou seja, não só a sujidade não agarra como ainda ajuda a descontaminar o ar. É um revestimento exterior para edifícios feito em parceria com a Recer. Outro dos projectos é um  material que ajuda a aumentar ou a diminuir a temperatura das casas e assim tornar os consumos energéticos mais sustentáveis, uma parceria com a Cinca.

 

Impressão de cerâmica

 

Qualquer pesquisa sobre a UA num motor de busca na internet  gera centenas de resultados sobre produtos inovadores e parcerias com empresas para desenvolver novas soluções.


Um das últimas foi a impressão de louça de porcelana, um  processo que pode parecer estranho, mas já é possível, graças ao "PrintCer3D".  O projecto tem como objectivo a produção de produtos de louça utilitária em porcelana. Para isso, os investigadores da UA usam uma pasta de porcelana própria para fazer a impressão tridimensional destes produtos.


Este método permite fazer pequenas séries de louça, mas muito rapidamente. Este é apenas um dos muitos projectos que estão a ser desenvolvidos nos vários departamentos da Universidade e que depois acabam por chegar ao mundo empresarial. Desde códigos ADN para marcas, que ajudam a provar a autenticidade de um produto, passando por uma técnica de ultracongelação de pastéis de nata que preserva as suas características originais, ou uma rolha inteligente, que avalia a qualidade do vinho.

 

Um cluster à volta da UA

 

É difícil medir quantitativamente o impacto da UA na região de Aveiro. O seu reitor acredita que é elevado e dá o exemplo da PT Inovação e do que gerou à sua volta. "Começou com as empresas a trabalhar como ‘outsourcing’ da PT Inovação, mas o mercado existe, as aplicações diferenciam-se. Este cluster hoje é enorme e trouxe fixação de emprego. Isto é um exemplo de que as competências atraem". A Nokia Networks é outro dos parceiros da Universidade que dá emprego na região e que está a captar jovens para Aveiro.


A UA conta com mais de 14 mil estudantes em vários graus, sendo que, desta população, 11% são estrangeiros. A UA tem sido classificada em rankings internacionais como  uma das preferidas de quem vem estudar de fora. "Somos a única [universidade] em Portugal que não tem faculdades. Portanto funcionamos com uma estrutura muito plana e matricial. Temos o nível da reitoria e das unidades orgânicas, que são todas departamentos", explicou o reitor. A UA gere ainda quatro escolas politécnicas e vários cursos e formações mais viradas para o ensino profissional.


Manuel António Assunção garante que esta estrutura agiliza a capacidade de resposta e diminui burocracias, o que faz com que professores, alunos e investigadores possam dar o seu contributo para vários departamentos.


Esta lógica pode em breve ganhar outra dimensão, com o lançamento de um consórcio das universidades do Centro e que contará com as instituições de Coimbra, Beira Interior e Aveiro. "Temos condições para em seis meses lançar [o agrupamento]. Mas há coisas que acontecem há muito tempo, como um curso de empreendedorismo de base tecnológica, envolvendo as três universidades", explicou o reitor da UA.


Além disso, na preparação para as candidaturas aos novos fundos comunitários do "Centro 2020" "houve um conjunto de actividades e um trabalho concertado que foi feito" e que resultou  "num trabalho de identificação potencial de colaboração entre as três entidades que servirá para memória futura", garantiu Manuel António Assunção.


O objectivo é que um dia as instituições possam aproveitar as sinergias que conseguirão obter.

 

 

 

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