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HTA Helicópteros: Pelos céus da Península Ibérica

A HTA é a segunda maior exportadora do concelho de Loulé. Orgulha-se de não depender de financiamento bancário e tem no apoio ao combate a incêndios a sua principal fonte de receita.

01 de Janeiro de 2020 às 14:00
Foi no heliporto Miguel Barros, batizado em homenagem ao filho que partiu em 1998, que o Negócios foi recebido na viagem ao negócio da HTA. Filipe Farinha
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A HTA Helicópteros surgiu em 1996 e está entre as principais empresas do concelho de Loulé em termos de volume de exportações.

De acordo com os dados mais recentes da Informa D&B, relativos a 2017, é mesma a segunda maior com um volume de negócios que, no final de 2018, atingiu os 6,09 milhões de euros.

Apesar de próspera e saudável financeiramente, a sua génese é tudo menos feliz. Dois anos depois do surgimento da HTA, o único filho dos donos da empresa, para quem esta tinha sido criada, faleceu num acidente de helicóptero, transporte pela qual este era apaixonado.

A família fez questão de levar avante o projeto do filho e, vinte anos volvidos, a HTA tem dez helicópteros e atua em Portugal e Espanha em áreas tão diversas como o transporte de doentes, o apoio ao combate de incêndios, a formação de pilotos, o transporte turístico ou as filmagens aéreas para cinema e televisão. Em 2018, a empresa lucrou 604 mil euros, que comparam com os 77 mil euros do ano anterior.

Foi precisamente no heliporto Miguel Barros, batizado em homenagem ao filho que partiu em 1998, que o Negócios foi recebido pelo atual diretor de operações da HTA, Iñigo Renom. A empresa tem também uma operação permanente no aérodromo municipal de Cascais.

Estamos sempre a realizar investimentos. Todos os nossos helicópteros estão pagos.

Somos os únicos não espanhóis nas Canárias [no combate a incêndios].
Iñigo Renom
Diretor de operações da HTA Helicópteros

Este espanhol, que se deixou conquistar por Portugal, está à frente da gestão desde o final de 2003, tendo sido contratado para levar a cabo uma maior profissionalização e crescimento do negócio numa empresa que é 100% familiar.

A filosofia da família de Miguel Barros é de reinvestimento na própria empresa dos lucros gerados, nomeadamente na compra e manutenção de helicópteros. Acresce que os meios financeiros da família dão uma ajuda, o que significa que todos os investimentos e aquisições da HTA têm acontecido sem necessidade de recurso à banca. Isto significa que aos valores faturados na sua atividade, a empresa não tem de abater custos com financiamento bancário.

Um negócio que está longe de ser uma mina de ouro

"Estamos sempre a ter de realizar investimentos. Todos os nossos helicópteros estão pagos", diz Iñigo Renom, que garante que a HTA, por força dos acionistas que tem e de uma política conservadora de gestão, é uma exceção à regra. "As empresas desta área estão quase todas em falência técnica", assegura.


O diretor de operações da HTA explica que este é um negócio muito competitivo, de capital intensivo em que as empresas têm uma carga considerável de endividamento bancário, praticando depois preços baixos nos serviços prestados procurando obter pela via da escala o que não conseguem ganhar em margem.

A aposta no apoio ao combate aos incêndios

Com a entrada de Iñigo Renom na HTA veio o surgimento de uma nova área de negócios até então não explorada: o combate aos incêndios florestais.

Atualmente é, de resto, daqui que vem a maior fatia das receitas da empresa. Para além do trabalho feito em Portugal, a HTA está igualmente presente em Espanha, nas Canárias. "Somos os únicos não espanhóis", adianta. Apesar de ser espanhol de gema, critica sem rodeios o protecionismo do seu país de origem onde, explica, ter sido muito complicado conseguir entrar.


6,09
Faturação
O volume de negócios registado no ano passado pela empresa foi de 6,09 milhões.

10
Helicópteros
São 10 os helicópteros que compõe a frota. Dois foram adquiridos no ano passado.

604
Resultados
O lucro em 2018 foi de 604 mil euros, o que compara com os 77 mil euros de 2017.

17
Trabalhadores
A estrutura da HTA é de 17 pessoas. Seis são pilotos e outros seis mecânicos.

Quanto às filmagens aéreas, o surgimento dos drones tirou algum do negócio, mas há trabalhos em que o helicóptero não é substituível. Por razões que vão desde a maior autonomia de um helicóptero à personalização que se consegue. Assim acontece no trabalho para a indústria cinematográfica ou em eventos especiais cobertos pelas televisões como as principais provas de atletismo e ciclismo, caso da Volta a Bicicleta ou, no automobilismo, do Rally de Portugal.

A HTA presta ainda serviços no transporte de doentes - por contratação particular - e começou há alguns anos a prestar formação. Quanto às viagens turísticas, fazem pontualmente alguma coisa mas o custo deste tipo de passeios faz com que a procura seja diminuta.


Perguntas a Iñigo Renom
Diretor de operações da HTA Helicópteros

"Gerimos ao tostão e estamos sempre a reinvestir na empresa"

Iñigo Renom entrou em 2003, contratado pelos acionistas para desenvolver o negócio. O diretor de operações da HTA lamenta ainda não ter "luz verde" para expandir o heliporto de Loulé.

As vossas instalações são bastante exíguas. Bastam para a vossa atividade?
Desde 2011 que temos o projeto de arquitetura feito para o novo hangar e queremos fazer o maior heliporto do país, acrescentando mais 70 hectares aos atuais 55.

Porque é que isso ainda não avançou?
Tudo isto está numa área de reserva agrícola. Precisámos de autorização para a impermeabilização das terras. Quanto ao novo hangar, estamos dependentes da aprovação do novo PDM [Plano Diretor Municipal], desde 1995 sem "luz verde".

Em que medida é que esta espera afeta a vossa atividade?
Estamos há dez anos à espera de poder avançar com o novo hangar, o que condiciona o nosso crescimento. Com o novo hangar vai ser possível, por exemplo, aterrar de noite ou fazer manutenção de aparelhos, até espanhóis.

Quantos helicópteros têm na vossa operação?
Temos dez. O mais antigo é de 1981, adquirido por nós em 1998. Estes veículos têm, por regra, doze anos de vida útil, prolongáveis. A francesa Airbus é a nossa fornecedora. Comprámos dois no ano passado e estamos sempre a reinvestir. Já gastámos mais de quatro milhões de euros em máquinas.

Qual a estrutura de pessoal da HTA?
Somos 17, dos quais seis são mecânicos e seis são pilotos. Temos sempre, em permanência, um mecânico e um piloto.

Praticamos um preço justo para podermos tratar bem quem aqui trabalha e trazer dinheiro para Portugal.


Como definiria a vossa política de gestão?
Gerimos ao tostão e estamos sempre a reinvestir na empresa. Reinvestimos para criar riqueza. E praticamos um preço justo nos serviços que prestamos para podermos tratar bem quem aqui trabalha e trazer dinheiro para Portugal.

Sendo o combate a incêndios a principal fonte de receitas, dão também formação a pilotos. Os vossos alunos são particulares ou sobretudo empresas?
Particulares faz-se muito pouco. Estamos vocacionados para o mercado profissional. Sobretudo formação para "upgrades".

Que peso têm as viagens turísticas no vosso volume de negócios?
Menos de 5%. É um transporte muito caro.

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