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Um estudo publicado pela Century 21 sustenta estes números. Loulé é, sem surpresas, o mercado mais valorizado do Algarve - com uns impressionantes 1.917 euros o metro quadrado - ou não fosse este o concelho que alberga conceituados destinos turísticos como a Quinta do Lago ou Vilamoura.
Exemplificando, e se imaginarmos um imóvel de 90 metros quadrados, este custa, em média, 172,5 mil euros no concelho de Loulé, bem acima do que aconteceria em Portimão (em que a mesma casa custaria 125,5 mil euros) ou mesmo no Porto onde o valor médio ronda os 165 mil euros mas, claro, muito abaixo do valor médio em Lisboa para a mesma tipologia (305,5 mil euros).
Mas deixemos por momentos os valores médios e olhemos para os máximos. Um outro estudo feito este ano pelo site de imobiliário Idealista sobre as ruas mais caras para comprar casa em Portugal concluiu que é precisamente na Quinta do Lago - concelho de Loulé - que estão as casas mais caras, no Aldeamento Vilar do Golf. Neste empreendimento comprar uma casa custa, em média, mais de 2,89 milhões de euros, diz a empresa.
Loulé está mesmo entre os concelhos do país com maior taxa de esforço para compra de habitação, juntamente com Lisboa, Lagos, Tavira, Albufeira e Cascais. No entanto, se no caso da capital, por exemplo, os preços elevados se devem sobretudo ao desequilíbrio entre a oferta e a procura, explica a Century21, nos concelhos algarvios como Loulé, a razão é outra. Além de existir uma esperada pressão sobre os preços resultante da procura turística, o Algarve é uma das regiões do país com rendimentos familiares mais baixos, o que, em conjunto, origina taxas de esforço mais elevadas.
CEO da Century 21 Portugal
De acordo com os dados da Informa D&B, relativos a 2017, a maior empresa do concelho, em termos de volume de exportação, é mesmo uma construtora, a CV Sarrea. Em oitavo lugar surge uma outra empresa desta área, a DarkGlobe.
No entanto, ainda que do ranking das dez maiores continuem a constar duas empresas de construção, o cenário é bem diferente do vivido antes de a crise financeira rebentar em todo o mundo ocidental e, sobretudo, desde que Portugal teve de receber ajuda externa, em 2011. "A crise matou parte da estrutura produtiva de obras públicas do País", recorda o presidente da Câmara Municipal de Loulé ao Negócios, tendo a região do Algarve sido uma das grandes afetadas.
De resto, é no concelho de Loulé que estão alguns dos casos mais mediáticos no que a projetos imobiliários diz respeito, pelas piores razões. Vale do Lobo tem estado no olho do furacão nos últimos anos por conta do financiamento concedido pela Caixa Geral de Depósitos (CGD) antes da crise da dívida soberana e que acabou por "implodir" nas mãos do banco público, gerando prejuízos estimados em mais de 200 milhões de euros. Mas não foi caso único.
Com a crise a chegar aos mercados britânico e sobretudo irlandês, foram muitos os projetos imobiliários que sofreram o impacto e muitos foram os "resorts" em Portugal, nomeadamente no Algarve, que não resistiram ao embate. A Quinta do Lago, por exemplo, foi uma das sobreviventes. Seria preciso esperar por 2015 para a retoma se começar a fazer sentir.
Para o CEO da Century 21 Portugal esses tempos fazem parte do passado: "o Algarve é um mercado muito ativo, em particular o concelho de Loulé, com projetos de obra nova, com a procura nacional e internacional, e com os preços a refletirem essa dinâmica". Em declarações ao Negócios, Ricardo Sousa diz que, para 2020, é expectável uma estabilização de preços.
Presidente da Câmara Municipal de Loulé
Questionado sobre os efeitos no concelho de Loulé do arrefecimento no mercado imobiliário nacional, o responsável da Century 21 Portugal recorda que "o concelho de Loulé, em particular Quarteira e Vilamoura, foi das primeiras zonas do Algarve a registar um aumento de procura, com o consequente aumento dos preços. É, portanto, natural que também sejam as primeiras zonas a estabilizar".
Há falta de oferta de habitação em Loulé
Depois do impacto da crise, que pôs em causa um grande número de projetos imobiliários, o problema é, nesta altura, o inverso, defende o presidente da Câmara Municipal de Loulé.
Há "uma carência enorme de habitação", denuncia Vitor Aleixo. "Não há para alugar nem para comprar", disse o autarca na entrevista ao Negócios.
A explicar esta realidade está, em grande medida, a falta de mão de obra que afeta vários setores, entre os quais o da habitação, depois de muita gente ter emigrado para outras paragens na altura da crise. Por outro lado, e ainda que seja preciso esperar pelos novos Censos à população para ter dados concretos, Vitor Aleixo diz que o aumento de população é visível pela chegada de novas crianças às escolas do concelho.
"Por motivos relacionados com a qualidade de vida, a segurança e a tranquilidade têm chegado famílias, muitas do Brasil mas também da Venezuela", diz o autarca. Em 2018 o município abriu onze salas do ensino básico. Este ano outras treze.
O Algarve já não é só terra de ingleses
Fora do mercado de primeira habitação, esta região historicamente atrativa para os ingleses, tem sido alvo do interesse, nos últimos anos, de franceses e italianos, que escolhem o concelho para segunda residência. "Loulé tem atraído muitos compradores que vêm de França, de Itália", diz o presidente da Câmara.
Essa mesma leitura é corroborada pelo CEO da Century 21 Portugal: "os franceses foram, claramente, a tipologia de cliente internacional que mais cresceu, nos últimos anos.
O Negócios tentou obter os comentários da Remax e Era mas, até ao fecho da edição, não foi possível obter uma resposta.