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EUA querem colocar 300 mil milhões em dívida e precisam da China
A necessidade do Tesouro americano colocar quase 300 mil milhões em dívida soberana surge num momento delicado, com os Estados Unidos e a China em negociações para evitar uma espiral de medidas proteccionistas.
Esta quinta-feira o Tesouro norte-americano planeia colocar 294 mil milhões de dólares em títulos de dívida soberana (de curto prazo e a 10 anos). Segundo a CNN, trata-se do valor semanal mais elevado desde 2008.
A necessidade de garantir um financiamento tão elevado decorre da quebra já verificada na receita fiscal naquilo que leva de 2018, uma diminuição decorrente do enorme corte de impostos aprovado pelo presidente Donald Trump e em vigor desde o início deste ano.
Porém, o timing não parece o melhor, já que a emissão de dívida surge numa altura em que os Estados Unidos vivem uma espécie de guerra comercial com a China, o maior detentor de dívida soberana americana (cerca de 1,7 biliões de dólares).
Na semana passada, Trump anunciou a imposição de novas tarifas alfandegárias sobre as importações de bens chineses num valor que poderá ascender até aos 60 mil milhões de dólares. Apesar das negociações em curso entre Washington e Pequim com vista ao assegurar um maior equilíbrio nas relações comerciais entre as duas maiores economias mundiais – os EUA mantêm um défice comercial de – a China já disse que responderá às políticas proteccionistas de Trump.
Questionado pela Bloomberg sobre se Pequim, perante guerra comercial com os EUA, está disposta a diminuir o volume de compra de dívida americana, o embaixador chinês em Washington assumiu que as autoridades chinesas estão a "avaliar todas as opções".
No entanto, como explica um artigo da CNN sobre o tema, a China deverá continuar a apostar na compra de dívida americana, porque o excedente comercial que mantém em relação aos EUA permite às autoridades chinesas investir em activos considerados seguros, e as obrigações norte-americanas são consideradas um investimento de pouco risco.
Por outro lado, a altura também não é a melhor, já que nas últimas semanas tem vindo a crescer o custo de financiamento da dívida, desde logo porque a normalização da política monetária da Reserva Federal dos Estados Unidos implicou que o banco central tenha deixado de comprar títulos soberanos americanos.
A reforçar a pressão sobre a capacidade de financiamento da maior economia mundial está ainda a lei assinada por Trump na sexta-feira passada num valor de 1,3 biliões de dólares, que assegura o financiamento dos serviços federais ao longo dos próximos seis meses.
O Tesouro americano também fechou o mês de Fevereiro com um défice corrente de 215 mil milhões de dólares, o maior em seis anos, o que segundo o Comité de Responsabilidade do Orçamento Federal poderá atirar o défice em 2018 para mais de 1 bilião de dólares.