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Santos Ferreira: "Direção de risco da CGD elencava várias condições. Umas eram acomodadas, outras não"

O antigo presidente da CGD defende que a não aceitação de todas as condições propostas pela direção de risco, na concessão de crédito, era uma prática normal.

30 de Abril de 2019 às 17:55
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A direção geral de risco (DGR) da Caixa Geral de Depósitos (CGD) propunha, por várias vezes, uma série de condições à aprovação de determinadas operações de crédito. Contudo, a administração do banco público ignorava, por várias vezes, estas condições. Carlos Santos Ferreira, o antigo presidente da Caixa, admite isto mesmo, mas defende que esta é uma prática normal. "Sempre assim foi, em todos os créditos".

"As condições da DGR não eram um bloco para pegar ou largar. A DGR elencava uma série de condições e, dessas, algumas eram acomodadas e outras não eram acomodadas. Sempre assim foi em todos os créditos", afirmou Carlos Santos Ferreira, que está a ser ouvido, esta terça-feira, 30 de abril, na segunda comissão parlamentar de inquérito à recapitalização da CGD e à gestão do banco.

O antigo presidente do banco público respondia assim à deputada Mariana Mortágua, que levantou várias questões sobre o crédito concedido pela CGD à Metalgest, empresa de Joe Berardo, durante o mandato de Carlos Santos Ferreira. Na altura, a DGR elencou várias condições que deveriam ser asseguradas para que o banco avançasse com esta operação, mas quase nenhuma foi seguida pela administração. Ainda assim, Santos Ferreira defende a decisão.

"A direção de gestão de risco, relativamente a esse cliente, dizia que não existia nenhuma exposição direta a esse cliente. Por outro lado, a ligação desse cliente a uma outra personalidade, que tinha vindo a obter resultados aceitáveis nos seus investimentos bolsistas, bem como os capitais próprios de 260 milhões de euros, levam a que seja possível conceder crédito com uma série de condições. O parecer é razoavelmente claro: conclui que é possível conceder o crédito", frisou Santos Ferreira.

Para além disso, acrescentou, "a Metalgest era uma holding, uma SGPS, consolidava integralmente algumas empresas, consolidava parcialmente outras empresas e tinha alguns ativos para venda. Consolidava integralmente empresas de moagens, tinha 85% da Bacalhoa, tinha parte do Savoy (que comportava cinco hotéis) e a Quinta do Carmo".

Assim, quando, em 2008, "foi necessário obter mais crédito para um aumento de capital do [BCP], foi vendido um ativo e foi diminuído o valor da dívida à CGD", referiu ainda.

Perante a insistência da deputada do Bloco de Esquerda, o antigo presidente da Caixa elencou quais as condições propostas pela direção de risco, revelando que várias não foram cumpridas. "Era necessária a apresentação de aval por parte do comendador Joe Berardo [que não existiu], era necessário um rácio de cobertura mínimo de 120% [que também não existiu], a prévia aprovação dos títulos a adquirir pelo cliente, uma condição que foi substituída por uma lista de títulos a adquirir, a obtenção de informação económico financeira previamente à aprovação da operação e a aplicação dos dividendos à redução da dívida".

"Lucros prodigiosos" compensam créditos ruinosos
"Se fala em créditos ruinosos, faça-me o cumprimento de dizer também que estes são dois anos de lucros prodigiosos. São os maiores lucros da Caixa". Carlos Santos Ferreira respondeu, desta forma, ao deputado comunista Paulo Sá, que o questionou sobre o facto de a sua administração ter aprovado a concessão de tantos créditos que vieram a revelar-se ruinosos para o banco público.

O antigo presidente da Caixa rejeita a expressão "ruinosos", mas reconhece que, no período em que presidiu à instituição, "vários empréstimos houve que tiveram maus resultados".

Mas, mais uma vez, volta a defender-se com a crise financeira mundial. "Nos casos em que o parecer de risco era favorável, tivemos mais perdas do que naqueles em que o parecer era desfavorável. Mais de 90% dos pareceres eram condicionados. O risco não conseguiu prever o imprevisível: num determinado momento, aconteceu em Portugal, na Europa, nos EUA, no mundo, uma crise financeira transversal. Se calhar o problema não foi só da crise, mas o risco não podia prever o imprevisível", frisou.
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