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Elsa Roncon saiu da DGTF porque não queria trabalhar sob dois secretários de Estado

A entrada de Álvaro Novo no Governo dividiu o Tesouro e as Finanças. Com 66 anos, a directora-geral não tinha "força anímica" para iniciar um novo ciclo com "tutela bicéfala". Elsa Roncon recusa qualquer ligação entre a demissão e a polémica da CGD.

12 de Fevereiro de 2017 às 16:15
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Foi a entrada de um novo secretário de Estado no Ministério das Finanças que motivou a saída de Elsa Roncon Santos da liderança da Direcção-Geral do Tesouro e Finanças (DGTF). Quem o admite é a própria economista, em declarações ao Negócios, recusando qualquer ligação com a polémica da Caixa Geral de Depósitos.

 

"Tive uma excelente relação com o secretário de Estado Adjunto do Tesouro e das Finanças, Dr. Ricardo Mourinho Félix. Com a perspectiva de voltar a ter uma tutela bicéfala senti-me sem força anímica para iniciar um novo ciclo", respondeu ao Negócios, por e-mail, Elsa Roncon Santos, retribuindo o elogio que o governante lhe havia feito no comunicado em que foi anunciada a demissão.

 

A DGTF vai passar a estar sob a alçada de dois secretários de Estado: Mourinho Félix fica concentrado nas Finanças (sector financeiro e a dívida pública) enquanto Álvaro Novo, que deixa de ser economista-chefe do gabinete de Mário Centeno para transitar para secretário de Estado, passa a ter como responsabilidade o Tesouro (um dos temas quentes, como o Negócios já deu conta, é o do sector empresarial do Estado).

 

Ora, esta divisão não satisfez Elsa Roncon Santos que optou por sair de funções, com efeitos esta segunda-feira, 13 de Janeiro. "Tenho 66 anos e estou a quatro meses da reforma", diz, enumerando o cansaço com o período em que liderou a DGTF.

 

"Estive cinco anos e meio à frente da DGTF, passei pelo período da troika, acumulando funções no Fundo de Resolução. Vivi de perto os problemas do sistema financeiro com o caso do BES e Banif", lembra, sublinhando ser também a representante de Portugal no Banco Europeu de Investimento (BEI) desde 2015. "Sou desde 2012 representante efectivo do Sector Empresarial de Estado no Conselho Económico e Social", continua, a que acrescenta ainda o facto de ser membro do Conselho Consultivo das Fundações.

 

Demissão sem relação à polémica da CGD

 

Enquanto directora-geral do Tesouro e das Finanças, Elsa Roncon Santos também teve um papel nas negociações para a entrada em funções de António Domingues enquanto presidente da Caixa Geral de Depósitos. Na última semana, o seu nome surgiu como uma das personalidades que trocou a correspondência que foi divulgada pelo jornal Eco. Segundo aquele jornal, a DGTF foi contactada em Maio pelo Governo, para delinear o que seria preciso para que a CGD deixasse de se enquadrar no Estatuto do Gestor Público. O parecer daquela direcção alertou para o facto de a excepção ao banco público poder abrir controvérsia, nomeadamente por conta de outras empresas públicas que também queriam excepções remuneratórias.

 

"Não há qualquer relação entre o meu pedido e estas circunstâncias", ressalva Elsa Roncon Santos em resposta a uma eventual ligação entre a divulgação das missivas e a demissão. A economista é vice-presidente da mesa da Caixa Geral de Depósitos mas relembra que o pedido de cessação da comissão de serviço foi a 6 de Fevereiro, pelo que há uma "coincidência" temporal entre a saída e a divulgação das cartas. 

 

A nomeação para o BEI

 

Elsa Roncon Santos é a representante portuguesa no BEI, para a qual foi nomeada em Janeiro de 2015, quando Maria Luís Albuquerque era ministra das Finanças. Na altura, Elsa Roncon substituiu Pedro Machado, que havia sido chefe de gabinete de Vítor Gaspar e depois director-adjunto do departamento de supervisão prudencial do Banco de Portugal.

 

Pedro Machado saiu desse cargo no final de 2014, acompanhando o director do departamento, Luís Costa Ferreira, em direcção à PwC (Luís Costa Ferreira regressou agora ao mesmo cargo no regulador da banca). Quando abandonou o Banco de Portugal, Machado saiu também do BEI, tendo, então, sido nomeada Elsa Roncon Santos.

 

Os "swaps" e a primeira demissão

 

Saindo agora da DGTF, Elsa Roncon Santos volta ao "lugar de origem", a CP, segundo diz ao Negócios, onde foi administradora financeira entre 1996 e 2000, segundo o curriculum que está disponível no BEI. Aliás, a economista passou por mais empresas do sector ferroviário na sua carreira, como o Metropolitano de Lisboa e a Refer.

 

Na Refer, foi administradora com o pelouro financeiro (CFO) entre Julho de 2001 e Outubro de 2002, onde estava Maria Luís Albuquerque, que era, aí, directora financeira. No período, a Refer, antiga gestora da rede ferroviária nacional (agora integrada na Infraestruturas de Portugal) havia contratado "swaps" mas os produtos subscritos pela empresa foram considerados simples e não especulativos pela StormHarbour, boutique financeira contratada pelo IGCP para analisar o dossiê. Os contratos classificados como especulativos motivaram a demissão de gestores públicos como o então presidente da Carris, José Silva Rodrigues. "Houve uma coisa que todos percebemos. A Refer só tomou boas decisões", chegou a ironizar Silva Rodrigues.

 

Se na Refer era superior hierárquica de Maria Luís, quando foi nomeada para a DGTF, em 2011, Elsa Roncon passou a responder à então secretária de Estado. A 1 de Julho de 2013, com o pedido de demissão de Vítor Gaspar, a governante foi promovida a ministra. Escolheu para a secretaria de Estado do Tesouro Joaquim Pais Jorge (que sairia pouco depois também devido ao caso dos "swaps", por alegadamente ter tentado vender produtos ao Estado quando estava no Citi). Segundo o jornal Público noticiou naquele Verão, Elsa Roncon teria aspirações àquele cargo, mas não fora nomeada.

 

Em 2013, a economista afirmou, quando foi chamada à comissão de inquérito aos "swaps", ter saído por "motivos pessoais" e recusou qualquer divergência com Maria Luís, como noticiado não só pelo Público como pelo Correio da Manhã. A demissão foi pedida mas Elsa Roncon voltou a ser nomeada para a DGTF no ano seguinte, onde permaneceu até 2017, mesmo com a mudança do Executivo e com a saída de Maria Luís Albuquerque do Governo. Como há três anos e meio, o pedido de demissão ocorre com alterações nas secretarias de Estado da tutela.

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