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BPI: Pedido de protecção de credores da ESI tem "impacto neutral" no BES. Angola traz "sentimentos mistos"

O aumento de capital que o BES tem de realizar e o pedido de protecção de credores da ESI são notícias com um impacto "neutral" no BES, na óptica do BPI. A intervenção no Panamá é claramente "negativa". A garantia de Angola traz "sentimentos mistos".

Miguel Baltazar/Negócios
21 de Julho de 2014 às 10:15
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As notícias em torno do Banco Espírito Santo continuam a aparecer a alta velocidade. Os últimos dias não foram excepção: desde a garantia angolana sem condições ao aparecimento de interessados no BES, passando pela intervenção na unidade do Espírito Santo Financial Group no Panamá. A unidade de investimento do BPI, na sua nota diária de recomendações aos seus clientes, analisa as informações que vão aparecendo.  

 

A garantia angolana e o impacto do BESA no BES

 

O BPI Equity Research vê com "sentimentos mistos" a garantia, sem condições, dada pelo Estado angolano ao Banco Espírito Santo Angola, em que o BES tem 55,7% do capital. Não é novo que esta garantia existe – desde Fevereiro que ela é noticiada. Mas o Expresso deste sábado, 19 de Julho, indica que não há condições impostas para executar a garantia de 5,7 mil milhões de dólares (4,2 mil milhões de euros) a favor do BESA, cerca de 70% da carteira de crédito do banco.

 

"Por um lado, esta notícia parece excluir a possibilidade de o BES enfrentar perdas relativas à linha de crédito de 3 mil milhões de euros à sua subsidiária angolana, o que é positivo para os bancos", comenta o especialista Carlos Peixoto na nota de "research" desta segunda-feira, 21 de Julho.

 

Mas há um "outro lado" – e daí o "misto" na leitura –, que tem que ver com o facto de a notícia sugerir "que a linha de crédito vai levar algum tempo a ser paga, o que pode significar perdas" para o banco no que diz respeito ao valor futuro do "cash flow" gerado (o dinheiro que entra e sai).

 

O que é dito no Expresso é que o BESA vai pagar os 3 mil milhões de euros emprestados pelo BES "aos poucos", substituindo essa linha de crédito por outras fontes de financiamento. Para isso, a garantia tem de continuar activa (a actual termina em Junho de 2015). No entanto, como dá conta a publicação, não haverá intenção de utilizar tal garantia estatal: o objectivo é que os investidores saibam que ela existe. O Banco Nacional de Angola vai preparar um aumento de capital no BESA que irá levar, como já havia sido noticiado, a uma diluição da posição do banco português. Os parceiros angolanos deverão assumir a necessidade de reforço de capital no BESA, sendo que o objectivo do governo de José Eduardo dos Santos poderá mesmo ser a criação de um banco de fomento a partir do BESA.

 

De qualquer forma, e durante o tempo em que a filial angolana continua sob incerteza, "está em causa a capacidade do BES cumprir as metas definidas durante o aumento de capital, em que o banco tinha o objectivo de um retorno de capitais próprios [ROE] de 12%, com 45% dos resultados vindos da actividade internacional".

 

"Com Angola a representar 72% dos resultados da divisão internacional, parece pouco provável que as metas sejam atingidas no actual contexto", frisa o analista do BPI Equity Research. Na sexta-feira passada, o governador do Banco de Portugal admitiu que havia incertezas no BESA mas referiu que não espera um "impacto negativo" no banco nacional devido à situação na filial.

 

Aumento de capital é "neutral". "Por agora"

 

Também no passado sábado, e novamente no Expresso, foi avançado que o BES poderá emitir 2 mil milhões de euros em acções preferenciais para cumprir as necessidades de capital do banco agora sob o comando de Vítor Bento (na foto). O jornal menciona 2 mil milhões de euros, o que fica dentro do que já era apontado pela unidade de investimento do BPI. "Contudo, a possibilidade de a recapitalização ser feita através de acções preferenciais é uma surpresa, dado que preferíamos a emissão de instrumentos elegíveis" para o rácio de capital Core Tier 1, que mede a solidez dos activos.

 

"Neutral por agora" é o impacto previsto, até porque não se conhece o impacto nos actuais accionistas no BES. Entretanto, foi noticiado pelo Económico que houve cinco instituições financeiras sondadas pelo Banco de Portugal para assumir uma posição no BES. O Santander e o Bradesco são as instituições mencionadas pelo jornal esta segunda-feira. Carlos Costa tem assegurado que há investidores interessados no BES mas que só esperam entrar após a resolução das incertezas, como é o caso de Angola.


Para "avaliar as oportunidades de melhorar a estrutura do seu balanço", o BES está a finalizar a contratação de uma "reconhecida instituição financeira internacional como seu conselheiro financeiro especializado".

 

Protecção de credores da ESI não tem impacto no BES

 

Um impacto "neutral" no BES tem também o pedido de gestão controlada, a protecção de credores no Luxemburgo, da Espírito Santo International, sociedade do Grupo Espírito Santo que controla a Rioforte, que detém o Espírito Santo Financial Group, com uma posição de 20,1% no BES. "A imprensa já tinha noticiado que o pedido estava iminente". Foi na ESI que foram detectadas irregularidades contabilísticas "graves".

 

"O BES não tem exposição directa à ESI. Contudo, o banco tem exposições indirectas de 255 e 511 milhões de euros de papel comercial da ESI que foi vendido aos seus clientes de retalho e institucionais, respectivamente", relembra Carlos Peixoto. Há uma provisão de 700 milhões de euros para cobrir a exposição do BES aos clientes de retalho, constituída pelo Espírito Santo Financial Group. Mas o BPI Equity Research lembra que o ESFG "pode enfrentar dificuldades em cumprir todas as suas obrigações". O BES tem uma exposição global directa a sociedades do Grupo Espírito Santo superior a mil milhões de euros.

 

O pedido de protecção de credores da ESI não afectará os clientes de retalho do BES, tendo em conta que há essa provisão, especifica o Negócios esta segunda-feira.

 

Panamá tem impacto "negativo"

 

A leitura mais negativa por parte do BPI está relacionada com a intervenção do regulador do Panamá no ES Bank, unidade do ESFG naquele país (que é autónoma do BES).

 

"Esta notícia não tem um impacto directo no BES mas pode levar ainda a dúvidas adicionais relativas à capacidade do ESFG em honrar todas as suas obrigações", indica a unidade de investimento do BPI. O ESFG, apesar de cotado em bolsa, está suspenso da negociação, a pedido próprio, desde 10 de Julho. A justificação para esse pedido era a incerteza em torno da ESI. 

 

Nota: A notícia não dispensa a consulta da nota de "research" emitida pela casa de investimento, que poderá ser pedida junto da mesma. O Negócios alerta para a possibilidade de existirem conflitos de interesse nalguns bancos de investimento em relação à cotada analisada, como participações no seu capital. Para tomar decisões de investimento deverá consultar a nota de "research" na íntegra e informar-se junto do seu intermediário financeiro.

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