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Berardo: "Pessoalmente não tenho dívidas"
O comendador garante que tem tentado ajudar e que, pessoalmente, não tem dívidas.
"Pessoalmente não tenho dívidas." A afirmação é de José Berardo na comissão parlamentar de inquérito à gestão da Caixa Geral de Depósitos (CGD). O comendador pediu um empréstimo de 350 milhões de euros ao banco estatal para comprar ações do BCP, dando os títulos como garantia. Mas estes acabaram por desvalorizar, provocando perdas acentuadas para a Caixa.
Questionado pela deputada do Bloco de Esquerda Mariana Mortágua porque não paga as suas dívidas, isto depois de várias demonstrações da sua riqueza, nomeadamente quando mostrou uma mansão num programa televisivo, reforça: "Tenho tentado ajudar. Pessoalmente não tenho dívidas".
Já Cecília Meireles, do CDS, diz que o comendador pode não ter dívidas pessoalmente, mas que a Fundação Berardo tem e "não são poucas".
A auditoria da EY à gestão da Caixa Geral de Depósitos, e que analisa o período entre 2000 e 2015, revelou que o banco público tinha uma exposição a Joe Berardo e à Metalgest, empresa do seu universo, de mais de 300 milhões de euros.
Os empréstimos a Joe Berardo serviram para financiar a compra de ações do BCP cuja garantia eram as próprias ações. Títulos que acabaram por desvalorizar de forma acentuando, gerando perdas significativas para o banco estatal.
Estes créditos acabaram por levar a Deloitte, auditora da CGD, a fazer vários alertas tanto à administração como ao Banco de Portugal, tal como o Negócios avançou. Estes avisos começaram em 2008 e repetiram-se ao longo dos anos.
"Bancos só têm títulos da Associação"
A CGD, BCP e Novo Banco entregaram no Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa uma ação executiva para cobrar dívidas de Joe Berardo, de quase 1.000 milhões de euros. A ação tem como executados o empresário José Manuel Rodrigues Berardo (conhecido por Joe Berardo), a Fundação José Berardo, a Metalgest e a Moagens Associadas. Um dos objetivos da ação é aceder às obras de arte da Coleção Berardo, sobre a qual o empresário tem um acordo com o Estado que determina que as obras de arte estejam em exposição no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, até 2022, não podendo ser vendidas.
Berardo garante, contudo, na comissão de inquérito, que os bancos "têm apenas os títulos" da Associação. "Eles sabem disso", reforça. "Um dia quando decidir vender os títulos, logo se vê o que acontece. Não vou acrescentar mais do que isso".
As obras de arte de Joe Berardo foram alvo de uma avaliação por parte de uma galeria de arte estrangeira, em 2009, que concluiu que valiam mais de 500 milhões de euros. Isto depois de a Christie's ter avaliado as mesmas obras, em 2006, em 316 milhões de euros.