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Como é que Ghosn conseguiu esconder 70 milhões de dólares

As regras internas da Nissan Motor deram poderes invulgares ao seu ex-presidente, uma celebridade empresarial que recebia deferências extraordinárias por ter resgatado a fabricante da ruína financeira.

Bloomberg
09 de Dezembro de 2018 às 09:30
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Como é que um dos funcionários com maior visibilidade do mundo conseguiu esconder 70 milhões de dólares em salários e benefícios que recebeu de uma das maiores empresas do mundo, sem que a empresa percebesse?

 

Duas semanas após Carlos Ghosn ter sido preso pelas autoridades de Tóquio por supostamente ter declarado uma remuneração inferior à que recebia, esta pergunta continua sem resposta.

 

O que é certo é que as próprias regras de governança corporativa da Nissan Motor deram poderes invulgares ao seu ex-presidente, uma celebridade empresarial que recebia deferências extraordinárias por ter resgatado a fabricante da ruína financeira. Estas faculdades incluíam um poder de decisão quase total sobre quanto - e como - recebia, de acordo com as próprias regras internas da Nissan.

 

Várias pessoas próximas do trabalho do Ministério Público dizem agora que a investigação parece depender de um ponto relativamente obscuro da contabilidade - se os pagamentos de reforma foram registados correctamente. Independentemente de Ghosn ter infringido ou não a lei de valores mobiliários do Japão informando números inexactos ao conselho da Nissan e aos seus contabilistas (sobre isto, as acusações não foram comprovadas), o especialista em governança corporativa Jamie Allen diz que a grande pergunta é como alguém pode ter conseguido fazer algo assim.

 

"Tudo remonta à falta de controlos internos", disse Allen, director da Asian Corporate Governance Association, com sede em Hong Kong. "Se o conselho realmente não sabia que a informação da sua remuneração era inexacta, isso não diz muito bem da governança. E se eles sabiam, deveriam assumir a responsabilidade colectiva pelo erro."

 

Lutas

As lutas sobre remunerações foram uma constante para Ghosn quase desde o momento em que assumiu o cargo de director operacional da fabricante japonesa, na altura em crise, em 1999. Desde o início Ghosn foi criticado por recompensar os gerentes seniores da Nissan pelo desempenho e não pela antiguidade.

 

Mais tarde, em 2010, quando as novas regras do Japão sobre a divulgação de renumeração dos executivos revelaram que Ghosn era o chefe mais bem pago do país, ele voltou a ser alvo de críticas. Os 10 milhões de dólares que, segundo o que foi informado, Ghosn ganhou naquele ano podem estar dentro dos padrões ocidentais, mas causaram irritação no Japão, onde o audacioso executivo franco-brasileiro recebeu seis vezes o que o presidente da Toyota Motor ganhou.

 

Parece agora que até estes números foram subestimados. O salário de Ghosn era muito maior antes de a divulgação pública ter sido exigida; para minimizar as críticas, foi elaborado um plano para diferir cerca de metade do seu salário anual até depois da reforma, o que manteve os números fora dos livros, segundo pessoas a par da investigação.

 

Ghosn negou que tenham sido infringidas regras sobre compensação diferida, disseram pessoas com conhecimento directo do caso. A sua defesa é que o montante deste pagamento não era seguro e que, portanto, era apropriado omiti-lo dos registos de valores mobiliários, disseram. Ghosn não teve a oportunidade de responder publicamente porque está preso e a lei japonesa permite manter as pessoas presas durante semanas sem acusações.

 

(Texto original: How Ghosn May Have Hidden $70 Million From Those Who Paid Him)

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