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Protegido de Ghosn é o maior beneficiário da prisão do seu mentor
Saikawa defendia que a Nissan deveria ter mais poder na aliança com a Renault. Com a detenção de Ghosn o seu poder aumentou.
Muito antes da queda do seu mentor, Carlos Ghosn, o CEO da Nissan Motor, Hiroto Saikawa, começou a pressionar para que a fabricante de automóveis japonesa tivesse mais poder na sua aliança com a Renault. Agora Saikawa tem a oportunidade de fazer exactamente isso.
Saikawa, de 65 anos, revelou-se o principal beneficiário da surpreendente prisão de Ghosn, o "chairman" da Nissan, por alegados delitos financeiros. A prisão coloca-o em posição de reequilibrar o que ele e outros na empresa japonesa consideram uma parceria cada vez mais desigual. Não está claro de que forma isso poderá ocorrer, mas a ideia de uma fusão entre a Renault e a Nissan - um acordo que Ghosn defendia em oposição a Saikawa e outros - quase de certeza que morreu.
"É um golpe. A era de Ghosn acabou", afirmou Tatsuo Yoshida, analista da Sawakami Asset Management e ex-funcionário da Nissan. "Saikawa está numa posição de representar o sentimento anti-Ghosn que se tem acumulado há anos dentro da Nissan."
Saikawa, que sempre trabalhou na Nissan e foi promovido a CEO quando Ghosn se afastou do cargo no ano passado, tem a reputação de ser um feroz defensor dos interesses da Nissan nos seus negócios com a Renault. As empresas são parceiras há quase 20 anos, unidas por uma rede complexa de participações cruzadas e plataformas de fabrico conjunto - mas, acima de tudo, por Ghosn, um carismático cidadão do mundo que era frequentemente citado como o executivo estrangeiro mais bem-sucedido na história do Japão.
Mas, a partir do momento em que Ghosn foi levado sob custódia pela polícia japonesa, Saikawa agiu rapidamente para mostrar que estava no controlo. Saikawa apareceu sozinho numa entrevista colectiva, poucas horas depois da prisão, ignorando o gesto de curvar-se profundamente como pedido de desculpas, que é costume quando as empresas japonesas admitem irregularidades. Em vez disso, Saikawa condenou frontalmente o suposto comportamento de Ghosn, dizendo que este era "o lado sombrio do longo reinado de Ghosn" e lamentando que "tanto poder estivesse concentrado nas mãos de um indivíduo".
Medidas decisivas
Sob o comando de Saikawa, a Nissan tomou medidas muito mais decisivas contra Ghosn do que a Renault, onde Ghosn actuava como "chairman" e CEO.
A administração da empresa japonesa decidiu por unanimidade demitir Ghosn do cargo de presidente, apesar dos pedidos dos líderes da Renault de esperar mais informações, segundo pessoas a par da situação.
O rápido afastamento de Ghosn pela Nissan gerou dúvidas sobre o papel de Saikawa na queda do seu chefe. Questionado directamente na entrevista colectiva se havia um "golpe" em andamento na Nissan, Saikawa respondeu: "Esse não é o meu entendimento. Não dei essa explicação e acho que não se deveria pensar dessa maneira."
Saikawa ainda não consolidou totalmente o poder. Antes da reunião do conselho de administração, foi amplamente divulgado na imprensa japonesa que seria nomeado presidente interino. Em vez disso, o conselho optou por criar um comité formado por directores independentes para escolher o próximo presidente. Saikawa será um candidato, mas poderão optar por dividir o cargo.
Ghosn, que não foi visto em público desde a sua prisão, não comentou nenhuma das alegações. De acordo com os procuradores de Tóquio, é acusado de não declarar integralmente o seu rendimento e de usar fundos da empresa de modo indevido, embora os detalhes não sejam claros. A Renault, que não tinha sido informada da investigação conduzida pela Nissan e pelas autoridades japonesas, que durou meses, exigiu mais informações antes de tomar medidas para afastá-lo dos seus cargos na marca francesa.
(Texto original: The Big Winner From Carlos Ghosn's Arrest? His Protégé)