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Maomé também é Charlie na próxima edição do "jornal dos sobreviventes"

Esta quarta-feira chega às bancas a primeira edição do Charlie Hebdo depois do ataque terrorista que matou redactores e cartoonistas da publicação. Foi por uma caricatura de Maomé que morreram, e é com uma caricatura de Maomé que vão voltar à vida.

13 de Janeiro de 2015 às 09:32
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Charlie Hebdo estará nas bancas já amanhã. Como todas as quartas-feiras, de todas as semanas. E, para surpresa de muitos, o "jornal sem medo" traz na capa mais uma caricatura de Maomé. Desta vez, o profeta aparece num fundo verde, de lágrima no canto do olho, segurando um cartaz onde se pode ler "Je suis Charlie", a frase que galgou as fronteiras de Paris nos últimos dias, e foi bandeira em quase todo o mundo. E, para que não restem dúvidas, a manchete do semanário satírico, que foi brutalmente atacado na semana passada, esclarece: "Tudo é perdoado".

 

A capa do primeiro jornal depois do ataque à redacção, que vitimou metade da equipa, foi divulgada esta terça-feira, pelo francês Libération, que cedeu as suas instalações aos sobreviventes do satírico para que continuassem o seu trabalho. Excepcionalmente, a edição número 1178 terá uma tiragem de três milhões de exemplares, traduzidos em 16 línguas. A revista desta semana terá seis a oito páginas, em vez das habituais 16.

 

"Não será um tributo de espécie alguma", sublinhou Richard Malka, advogado e porta-voz do Charlie Hebdo em declarações à rádio France Info. "Seremos fiéis ao espírito do jornal: fazer as pessoas rir".

 

A circulação da revista tem caído nos últimos anos. Embora as edições com as caricaturas de Maomé tenham vendido cerca de 100 mil cópias, a tiragem habitual é de 60 mil exemplares e, muitas vezes, as vendas não superam os 30 mil.

 

Não será um tributo de espécie alguma. Seremos fiéis ao espírito do jornal: fazer as pessoas rir.
 
Richard Malka, advogado e porta-voz do Charlie Hebdo

Após o ataque terrorista da passada quarta­-feira, o ministro da Cultura francês Fleur Pellerin destinou 1,2 milhões de euros de verbas públicas para ajudar a publicação. A Google prometeu dar 250 mil euros e o diário britânico, The Guardian, mais 125 mil.  Já a imprensa francesa abriu uma conta para angariar donativos do público para os cofres do jornal.

 

O Charlie Hebdo tem saído para as bancas todas as quartas-feiras dos últimos 22 anos. Religião, sexo, morte, políticos - nada e ninguém esteve a salvo dos lápis afiados dos seus cartoonistas. Cinco dos melhores – Char, Honore, Cabu, Wolinski e Tignous – morreram no ataque terrorista, mas os sobreviventes não querem que o medo fale mais alto. E tal como "anunciaram" na primeira capa depois do ataque às instalações, em Novembro de 2011, "o amor é mais forte que o ódio". Foi por uma caricatura de Maomé que morreram, e é com uma caricatura de Maomé que vão voltar à vida.

 

Je suis Charlie "não é só um slogan, tens de vivê-lo", explicou Malka. "É a nossa luta. E não vamos desistir, porque se não, tudo isto teria sido em vão".

 

No dia 7 de Janeiro, dois homens armados saíram das instalações do jornal francês anunciando "Matámos o Charlie Hebdo". Mais que tudo, a edição de amanhã quer provar que eles não tinham razão.

 

 

 

 

 

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