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Negociações com a Grécia entraram no contra-relógio final

Alexis Tsipras está a caminho de Bruxelas onde estará pronta uma proposta comum do FMI e dos pares europeus com metas menos exigentes mas que Atenas ainda rejeita. Berlim permanece cautelosa. Já Hollande não exclui um acordo "nas próximas horas".

03 de Junho de 2015 às 17:11
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O primeiro-ministro grego Alexis Tsipras reúne-se ao fim do dia com Jean-Claude Juncker em Bruxelas, onde as equipas técnicas da troika terão finalizado uma proposta de assistência financeira para a Grécia que, se for aceite, aprovada no parlamento e progressivamente cumprida, permitirá libertar a última fatia do segundo resgate, de 7,2 mil milhões de euros, e garantir financiamento ao país durante o futuro mais próximo, provavelmente através da transferência para o Estado de parte dos 11 mil milhões de euros do pacote financeiro internacional que ainda estava reservado para a recapitalização da banca.

 

Ao fim de quase quatro meses de impasse, o jantar de trabalho servirá para Juncker apresentar a Tsipras a oferta comum e final de europeus e FMI à Grécia. Esta oferta terá sido já avaliada na segunda-feira na mini-cimeira que teve lugar na Alemanha no quadro da preparação do G7, e que juntou Angela Merkel, François Hollande, Mário Draghi, Christine Lagarde e o próprio Juncker. Em Atenas, Tsipras assegurou ter enviado nesta mesma segunda-feira uma contra-proposta realista que afasta o risco de um "Grexit", numa sequência de acontecimentos que sugere que negociações com a Grécia entraram mesmo no contra-relógio final. Amanhã, Tsipras reúne-se com a bancada parlamentar do Syriza, onde muitos têm defendido a necessidade de convocar um referendo ou eleições antecipadas se o acordo com a troika exigir reformas nas pensões, no IVA ou avanços nas privatizações, algumas das "linhas vermelhas" traçadas pelo partido.

 

O programa de assistência expira no fim deste mês, depois de a sua validade ter sido prolongada por quatro meses em Fevereiro. A pressão voltou a aumentar nesta semana à medida que se aproxima mais um desembolso ao FMI. Na sexta-feira, Atenas tem de pagar mais 300 milhões de euros devidos pelo primeiro empréstimo recebido em 2010, e todos os dias surgem declarações contraditórias sobre a sua capacidade de o fazer ou se acabará por pedir um adiamento. O último pagamento de 750 milhões de euros foi feito ao FMI com dinheiro depositado na própria conta de emergência junto do FMI, e representa uma gota de água quando comparado com os quase nove mil milhões que a Grécia tem de devolver ao Fundo e ao BCE durante este Verão.

 

Um acordo com a troika afastaria o risco iminente de bancarrota, que pode acabar por atirar a Grécia fora do euro, mas exige reformas e metas orçamentais que Atenas ainda não parece estar na disposição de viabilizar.

 

Segundo escreve o "Financial Times", Comissão Europeia, FMI e BCE chegaram a uma posição comum sobre um novo programa que assenta em metas menos exigentes e que reflectem a vertiginosa degradação da economia grega nestes últimos meses (a OCDE baixou hoje de 1,8% para 0,1% a previsão de crescimento para 2015). Para continuar a financiar a Grécia, a troika exige um excedente primário (receitas superiores às despesas, excluindo juros da dívida) equivalente a 1% do PIB neste ano, de 2% em 2016, de 3% em 2017 e de 3,5% do PIB em 2018, refere o jornal britânico. Estas metas são muito menos exigentes do que as definidas há um ano – para 2015 estava fixado um excedente de 3% - mas ficam ainda acima do superavit de 0,8% e de 1% que Atenas diz aceitar, respectivamente para 2015 e 2016.

 

Antes de partir para Bruxelas, para um "jantar privado" com o presidente da Comissão Europeia a convite deste, Alexis Tsipras fez uma declaração transmitida pela televisão pública, na qual voltou a considerar que a Grécia já fez a sua parte em prol de um entendimento e que são agora os parceiros europeus que têm de fazer cedências ao "realismo". "Hoje é mais necessário do que nunca para as instituições - e para liderança política da Europa - que percebam o realismo com que este governo actuou nos últimos três meses". "Temos de evitar divisões" e "estou certo de que a liderança da Europa fará o for necessário", acrescentou Tsipras.

 

O governo Syriza/Anel pretende evitar mexidas nas pensões, quer fazer regressar os acordos colectivos ao mercado de trabalho, travar as privatizações, evitar uma subida do IVA e renegociar a dívida pública.  Tudo "linhas vermelhas" que, ao longo da campanha eleitoral de Janeiro último, a coligação de esquerda radical prometeu não pisar. Já os credores têm uma visão muito distinta do que é preciso fazer para que a Grécia se torne um país viável.

 

Em Frankfurt, Mário Draghi avisou nesta quarta-feira que o BCE só normalizará as operações com a banca se houver um "acordo sólido" – que garanta crescimento e justiça social, mas também sustentabilidade orçamental e estabilidade financeira, explicou – e após dinheiro fresco ser transferido para os cofres helénicos. "A Grécia é uma economia viável se as políticas correctas forem implementadas", disse. Caso Atenas falhe o pagamento devido ao FMI na sexta-feira, o BCE discutirá na próxima semana a possibilidade de aumentar o desconto ("hair-cut") sobre o valor dos activos gregos dados como colateral, o que dificultaria ainda mais o acesso da banca a liquidez.

 

Em Berlim, Wolfgang Schaüble mostrou-se cauteloso, ao dizer que ainda não vê nada de muito diferente no quadro das negociações, que têm sido marcadas por propostas irreconciliáveis da troika e de Atenas. Já em Paris, François Hollande acredita que um entendimento está mais próximo e pode até surgir "nas próximas horas".

 

Também a ministra Maria Luís Albuquerqure afirmara esta manhã, em Paris, que um acordo entre os credores internacionais e a Grécia pode "chegar brevemente". No mesmo sentido, foram as palavras do ministro espanhol das Finanças, Luis de Guindos, que disse estar "totalmente seguro" de que um acordo vai ser alcançado e que a Zona Euro é um clube no qual se "pode fazer o 'check in' mas não o 'check out'". "Queremos ter uma lista de reformas que aumente as taxas de crescimento da Grécia. No passado mostramos flexibilidade e estamos totalmente disponíveis para mostrar essa flexibilidade no futuro. O principal objectivo de todos é fazer com que a Grécia cresça novamente. Se não alcançarmos esse objectivo, todos vamos falhar", acrescentou.

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