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Draghi: "Queremos que a Grécia fique no euro, mas tem de haver um acordo forte"

O acordo entre credores e a Grécia tem de garantir o crescimento e a justiça social, mas também a sustentabilidade orçamental e a estabilidade financeira. Estas são condições do BCE para um "acordo forte".

03 de Junho de 2015 às 14:30
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O Conselho do BCE quer que a Grécia permaneça na Zona Euro, mas não a todo o custo, avisou  Mario Draghi na conferência de imprensa após a habitual reunião do BCE sobre política monetária que decorreu esta quarta-feira, dia 3 de Junho. Bombardeado pelos jornalistas sobre as negociações gregas, o presidente da instituição avisou que um acordo tem de ser forte, garantindo condições de crescimento e de justiça social, mas também de sustentabilidade orçamental e de estabilidade financeira. Tsipras e Juncker reúnem-se esta noite, num encontro em o BCE não participará.

 

"O Conselho quer que a Grécia permaneça na Zona Euro, mas deve haver um acordo forte" afirmou Mario Draghi, concretizando depois que um acordo deve garantir condições "para crescimento e justiça social, mas deve também garantir a sustentabilidade orçamental e lidar com os factores de instabilidade financeira que ainda permanecem".  "Estas são as componentes de um acordo forte", realçou. Para o presidente do BCE essa é a prioridade: "deveríamos concentrarmo-nos em conseguir um acordo forte. Estou certo que tudo o resto [necessário para estabilizar a Grécia e ultrapassar a crise] decorreria facilmente".

 

Um acordo sólido, explicitou mais tarde, tem de o ser "tanto por design, como por implementação".

 

Ou seja, em termos de desenho, o acordo tem de garantir as condições de crescimento e justiça social, mas sempre dentro de um enquadramento macroeconómico que garanta a sustentabilidade orçamental – "e algumas das propostas dos últimos meses eram claramente insustentáveis", avisou.

 

"Em segundo lugar, o acordo tem de ser forte na implementação" e isso significa que terão de existir "medidas prioritárias". Esta é uma expressão que os portugueses se habituaram a ouvir aplicada ao programa de ajustamento nacional para definir as medidas essenciais para libertar os pagamentos da troika, e que Mario Draghi caracterizou como "medidas que têm de chegar ao terreno mais cedo do que tarde".

 

Com estas condições num acordo, "o financiamento apareceria" e não haveria lugar a quaisquer problemas de pagamento por parte da Grécia, garantiu.

 

BCE espera para ver

 

Numa conferência de imprensa com poucas novidades sobre a condução da política monetária, o presidente do BCE foi confrontado com múltiplas questões relativas às negociações gregas: como estão a correr, quais os riscos e consequências de um incumprimento grego no pagamento devido ao FMI na sexta-feira, pode o BCE passar a exigir mais garantias (colateral) pelo financiamento de emergência aos bancos helénicos, quando poderá ser levantando o limite de compras de bilhetes do Tesouro por parte dos bancos helénicos.

 

Draghi preferiu "não comentar" aspectos específicos da negociações, nem "especular sobre cenários", mas lá foi deixando algumas pistas sobre a posição do BCE.

 

Em primeiro lugar, um falhanço nas negociações e uma falha de pagamento ao FMI pode, efectivamente, levar a um aumento do colateral (garantias) exigido aos bancos gregos em troca de financiamento do banco central, mas tal carece de uma avaliação sobre os impactos no mercado de tais eventos, e em particular dos impactos sobre a dívida grega e a estabilidade das instituições financeiras.  

 

"Teríamos de avaliar numa próxima reunião quais as evoluções e quais os impactos na qualidade da dívida grega" para decidir, por exemplo, se o colateral exigido aos bancos gregos (em grande parte dívida publica) poderia ser aumentado. No limite, caso a avaliação do BCE considere que os bancos estão em situação de  insolvência, pode mesmo cancelar o financiamento de emergência (ELA), que ascende a quase 80 mil milhões de euros.

 

"Nós fazemos estas avaliações regularmente: consideramos os desenvolvimentos nos mercados e como afectam a qualidade no nosso colateral, nomeadamente a qualidade das obrigações gregas. Se as condições mudarem, poderemos rever a nossa decisão", afirmou Draghi. Um aumento do colateral poderia deixar os bancos sem capacidade de emprestarem à economia e até de ser verem forçados a devolver dinheiro ao BCE.

 

A área em que Mario Draghi foi mais claro foi a condição necessária para aumentar o limite de Bilhetes do Tesouro que o BCE aceita como colateral em troca de financiamento aos bancos – e que está definido em 3,5 mil milhões de euros. O limite foi imposto nos últimos meses para evitar que as instituições financeiras comprassem BT para entregar no BCE, financiando indirectamente o Estado grego – o que é proibido pelo Tratado da UE. O limite será levantando quando ocorrer "um pagamento à Grécia" por parte  dos credores, disse Draghi. Esta é a tradução prática de uma condição anterior que Draghi já havia formulado:  a "necessidade de uma perspectiva credível de conclusão bem sucedida do programa de ajustamento".

 

(Notícia actualizada às 15h30 com mais informação)

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