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"Que sera, sera". Lagarde não se compromete com cortes de juros futuros
A presidente do Banco Central Europeu (BCE) repetiu várias vezes que as decisões vão ser tomadas reunião a reunião, com base nos dados que vão sendo conhecidos.
Foi em espanhol que Christine Lagarde respondeu à grande questão: o futuro vai trazer novos cortes das taxas de juro do Banco Central Europeu (BCE)? "Que sera, sera", afirmou a presidente da autoridade monetária, na conferência de imprensa que se seguiu à reunião do conselho, na qual os governadores decidiram - de forma unânime - diminuir a taxa de referência em 25 pontos base.
A líder da autoridade monetária clarificou que a avaliação do conselho tem por base as perspetivas de inflação, a dinâmica da inflação subjacente e a força da transmissão da política monetária. Face aos dados que foram sendo conhecidos ao longo do verão, o grupo anunciou que é "apropriado dar mais um passo" no sentido de moderar o grau de restritividade da política monetária. Esse passo foi descer a taxa de juro dos depósitos para 3,5% - a segunda diminuição depois de uma pausa em julho. No mês anterior tinha sido anunciado o primeiro corte de juros na Zona Euro desde setembro de 2019.
Esta redução é justificada pelo "outlook" para os preços e acompanhada por novas projeções do "staff" do BCE: a inflação esperada para este ano mantém-se em 2,5%. Em agosto, a inflação na Zona Euro cedeu para 2,2%, o nível mais baixo desde julho de 2021. A energia regressou a valores negativos, enquanto os serviços e bens alimentares voltaram a subir. Contudo, para a economia, os economistas de Frankfurt estão mais pessimistas, esperando agora que o PIB avance 0,8% este ano, 1,3% no próximo e 1,5% em 2026.
Lagarde sublinhou o compromisso com o mandato do banco central, dizendo que estão "determinados" a assegurar que a inflação regressa "atempadamente" ao objetivo de médio prazo de uma inflação de 2%. E é por isso que quer ter flexibilidade para ir ajustando a política monetária consoante a evolução dos dados económicos.
"Continuaremos a seguir uma abordagem dependente dos dados e de reunião para reunião para determinar o nível e a duração adequados da restrição", afirmou a francesa. "Em particular, as nossas decisões relativas às taxas de juro basear-se-ão na nossa avaliação das perspectivas de inflação à luz dos dados económicos e financeiros que nos chegam, da dinâmica da inflação subjacente e da força da transmissão da política monetária".
Para já, a pesar no sentido de manter as taxas de juro estão as preocupações quanto aos aumentos salariais e o impacto que pode ter na inflação (pelos preços dos serviços, que "ainda estão a crescer a um ritmo elevado").
Por outro lado, e a pressionar novas reduções, o BCE admite que os custos laborais "estão a abrandar" - e esse abrandamento será mais visíveil a partir do próximo ano - e que a actividade económica está "a fraquejar". Foi nesse sentido também que o 'staff' reviu em baixa as estimativas de crescimento para este ano e os dois próximos (em apenas 0,1 pontos percentuais).
Ainda assim, e por três vezes, Lagarde garantiu: "Não nos comprometemos previamente com uma determinada trajetória de taxas." Antes do encontro, o mercado atribuiu uma probabilidade de 40% de um corte de juros em outubro, sendo visto como provável apenas mais uma diminuição este ano, em dezembro.
Nem o corte de juros nem a falta de detalhes sobre os próximos passos surpreendeu o mercado. O euro segue praticamente na linha de água face ao par norte-americano, a ceder 0,05% para 1,1034 dólares, enquanto as bolsas europeias seguem em terreno positivo. As "yields" das dívidas europeias agravam-se, com as Bunds alemãs a 10 anos a negociar com um juro de 2,148%. No caso de Portugal, o agravamento é de 2,1 pontos base para 2,735%.
(Notícia atualizada com mais informação às 15:15)