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Wolfgang Münchau: "A ideia de que podemos retaliar as tarifas é realmente muito estúpida"

Desta vez, Wolfgang Münchau acredita que as ameaças constantes de Donald Trump são para levar muito a sério e admite que do lado de cá do Atlântico, ninguém estava realmente preparado para esta nova forma de fazer política, porque sempre subestimaram o novo inquilino da Casa Branca. Está convencido de que a Ucrânia já perdeu a guerra e que a União Europeia pouco ou nada poderá fazer. A questão é saber a forma como vai ser reconhecida essa derrota.


Bilhete de Identidade
Idade: 64 anos
Formação: Matemática pela Universidade de Hagen
Cargo: Jornalista e comentador especializado em economia europeia. É diretor do Eurointelligence, um serviço noticioso que acompanha assuntos europeus e da Zona Euro.


"Kaput" é uma das palavras mais curtas da língua alemã e, por isso, foi também a escolha do jornalista e comentador Wolfgang Münchau para o novo livro sobre a economia germânica. Mas significa mais do que isso: representa um estado de não retorno, muito semelhante a quando também usamos a expressão para descrever algo que está irremediavelmente "quebrado", "estragado" ou "destruído". E é assim que Münchau vê a economia do motor europeu, um país que ainda pensa em termos analógicos, como se estivesse ainda na transição entre a máquina de escrever e os modernos computadores pessoais. E para Münchau ninguém sai ileso do que está acontecer. Os políticos, diz, estão "mais interessados em gerir o declínio do modelo económico tradicional" do que em encontrar soluções para um problema que já começou no final do século passado. Esta entrevista decorreu poucas horas antes do incidente diplomático entre o Presidente e vice-presidente dos EUA na Sala Oval, na Casa Branca com o homólogo ucraniano Volodymyr Zelensky. Esse dia marcou uma viragem do que representa o apoio de Washington a Kiev e forçou uma reação da Europa. Wolfgang Münchau acredita que a Ucrânia já perdeu a guerra, muito pela simples mudança de administração norte-americana com Donald Trump. E desta vez, as ameaças do novo inquilino da Casa Branca, diz, são para levar muito a sério.

 

Ao ler o livro "Kaput: o fim do milagre alemão", ficamos com a sensação de que está bastante pessimista em relação à Alemanha e à capacidade de o país se reinventar. Esta é realmente diferente de outras crises que o seu país enfrentou no passado?

Sim, é diferente e em muitos aspetos. Anteriormente, tratava-se de uma crise de competitividade em que os produtos eram bons e só precisava de se reduzir o preço. A última crise foi em 2003. Quando aprovaram reformas sob Gerhard Schroeder, com as famosas reformas da Agenda 2010, reformas do Estado Social. Mas também houve uma série de outras coisas que aconteceram ao mesmo tempo que tornaram as empresas muito competitivas. O mais importante foi o alargamento da União Europeia, que permitiu às empresas alemãs diversificar as suas cadeias de abastecimento. A segunda foi a crise da Zona Euro porque, curiosamente, levou a uma verdadeira desvalorização real. A terceira, e talvez a maior, foi a China que se tornou complementar à Alemanha, por via das exportações. E em quarto, o gás russo, que se tornou uma fonte barata de fornecimento de energia que a Alemanha precisava para manter a produção.

 

Mas também muita inovação tecnológica.

Os carros alemães naqueles anos estavam no topo da cadeia de tecnologia. Eram os melhores carros do mundo. Os alemães otimizaram a engenharia técnica nos anos 1980, 1990. Veja-se os motores diesel: o exemplo clássico em que muitas das fortunas da indústria automobilística alemã assentaram.

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