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Londres e Bruxelas passam culpas por negociação "dececionante" do Brexit
Terminou mal a terceira ronda negocial entre o Reino Unido e a União Europeia com vista à negociação dos termos da relação futura entre os dois blocos. Londres fala em "muito poucos progressos" e Bruxelas em negociação "dececionante".
Tal como esperado, a exigência da UE sobre a garantia de condições equitativas - o chamado "level playing field" - entre as partes mantém-se como o maior obstáculo a um acordo. Em reação à inexistência de avanços, a libra perde quase 1% para o euro.
Por seu turno, o responsável máximo europeu pela negociação, Michel Barnier, caracterizou a ronda de negociações desta semana como "dececionante" e lamentou a "ausência de ambição do Reino Unido". A pandemia da covid-19, que infetou Barnier e Frost, constitui um obstáculo adicional às já complexas negociações.
Here is my statement for the UK following the conclusion of the third Round of talks with the EU today. pic.twitter.com/fKtTFV72DE
— David Frost (@DavidGHFrost) May 15, 2020
A garantia de condições equitativas na relação futura continua a emperrar as conversações, sendo os pontos de maior fricção os direitos de pesca no mar britânico (no caso o acesso por parte dos pesqueiros europeus) e a garantia londrina de que estará alinhada com as regulamentações comunitárias e sob jurisdição do Tribunal de Justiça da UE. Já o Reino Unido rejeita tal proximidade argumentando que, por exemplo, a UE fechou um acordo comercial com o Canadá que não implica laços tão próximos.
"Quanto mais rápido a UE admitir que não iremos concluir um acordo nesta base, estaremos em condições de alcançar progressos", afirmou David Frost ao final desta manhã. O britânico avisou que é necessária uma "mudança de abordagem" da parte da UE na próxima ronda e garantiu o compromisso de Londres em "trabalhar arduamente com vista a um acordo enquanto houver um processo construtivo".
Sobre este último ponto, Barnier acusou o Reino Unido de nem sequer ter "entrado numa discussão real". "Não vamos regatear os nossos valores europeus para beneficiar da economia britânica", declarou frisando que relações económicas e comerciais justas é algo de que Bruxelas não abdicará.
"Não é uma questão de 'ser bom ter', é de 'ter de ter'", rematou.
A quarta ronda de negociações está prevista começar a 1 de junho próximo. O primeiro-ministro Boris Johnson assegurou, em fevereiro, um mandato negocial que estabelece que se até ao final do mês de junho as partes não tiverem conseguido avançar de modo a tornar possível um acordo final até setembro, então o Reino Unido abdicará de prosseguir conversações com Bruxelas para iniciar desde logo a preparação de um cenário de "no deal" a partir a 1 de janeiro de 2021.
É que o período de transição definido no acordo de saída termina a 31 de dezembro deste ano e a prorrogação do mesmo só pode acontecer se validada por ambas as partes durante o mês de junho.
Londres rejeita prolongar a transição, período durante o qual o Reino Unido continua dentro do mercado único e da união aduaneira, embora já sem representação nas instituições comunitárias.