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Londres e Bruxelas passam culpas por negociação "dececionante" do Brexit

Terminou mal a terceira ronda negocial entre o Reino Unido e a União Europeia com vista à negociação dos termos da relação futura entre os dois blocos. Londres fala em "muito poucos progressos" e Bruxelas em negociação "dececionante".

EPA
15 de Maio de 2020 às 16:32
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Com o prazo limite (junho) para serem alcançados os avanços necessários a um acordo a chegar ao fim, o Reino Unido e a União Europeia fecharam a terceira ronda negocial sobre a relação futura com acusações mútuas sobre a responsabilidade de mais uma conversação gorada.

Tal como esperado, a exigência da UE sobre a garantia de condições equitativas - o chamado "level playing field" - entre as partes mantém-se como o maior obstáculo a um acordo. Em reação à inexistência de avanços, a libra perde quase 1% para o euro.

Pelo lado britânico, o chefe da missão negocial, David Frost, constatou que esta nova ronda terminou com "muito poucos progressos" e responsabilizou Bruxelas por insistir em que, para aceder ao mercado único, o Reino Unido terá de ficar sob jurisdição comunitária e respeitar as regras europeias. Frost sublinhou ainda que a intenção comunitária de aceder às águas britânicas é "incompatível" com a política pesqueira e marítima preconizada pelo governo chefiado por Boris Johnson.

Por seu turno, o responsável máximo europeu pela negociação, Michel Barnier, caracterizou a ronda de negociações desta semana como "dececionante" e lamentou a "ausência de ambição do Reino Unido"A pandemia da covid-19, que infetou Barnier e Frost, constitui um obstáculo adicional às já complexas negociações. 

A garantia de condições equitativas na relação futura continua a emperrar as conversações, sendo os pontos de maior fricção os direitos de pesca no mar britânico (no caso o acesso por parte dos pesqueiros europeus) e a garantia londrina de que estará alinhada com as regulamentações comunitárias e sob jurisdição do Tribunal de Justiça da UE. Já o Reino Unido rejeita tal proximidade argumentando que, por exemplo, a UE fechou um acordo comercial com o Canadá que não implica laços tão próximos. 

"Quanto mais rápido a UE admitir que não iremos concluir um acordo nesta base, estaremos em condições de alcançar progressos", afirmou David Frost ao final desta manhã. O britânico avisou que é necessária uma "mudança de abordagem" da parte da UE na próxima ronda e garantiu o compromisso de Londres em "trabalhar arduamente com vista a um acordo enquanto houver um processo construtivo".

Já depois do comunicado de Frost, Barnier deu uma conferência de imprensa em que apesar do desfecho negativo do diálogo desta semana apontou ainda assim alguns pontos positivos como no comércio bilateral de bens. No entanto, o dirigente europeu reconheceu que em questões determinantes como as pescas e a garantia de condições equitativas não houve quaisquer avanços. 

Sobre este último ponto, Barnier acusou o Reino Unido de nem sequer ter "entrado numa discussão real". "Não vamos regatear os nossos valores europeus para beneficiar da economia britânica", declarou frisando que relações económicas e comerciais justas é algo de que Bruxelas não abdicará. 

"Não é uma questão de 'ser bom ter', é de 'ter de ter'", rematou. 


A quarta ronda de negociações está prevista começar a 1 de junho próximo. O primeiro-ministro Boris Johnson assegurou, em fevereiro, um mandato negocial que estabelece que se até ao final do mês de junho as partes não tiverem conseguido avançar de modo a tornar possível um acordo final até setembro, então o Reino Unido abdicará de prosseguir conversações com Bruxelas para iniciar desde logo a preparação de um cenário de "no deal" a partir a 1 de janeiro de 2021. 

É que o período de transição definido no acordo de saída termina a 31 de dezembro deste ano e a prorrogação do mesmo só pode acontecer se validada por ambas as partes durante o mês de junho.

Londres rejeita prolongar a transição, período durante o qual o Reino Unido continua dentro do mercado único e da união aduaneira, embora já sem representação nas instituições comunitárias.
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