Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

Puigdemont entre exigência de indendência da CUP e oferta de diálogo de Rajoy

Se o presidente do governo catalão estava já entre a espada dos avisos de Madrid e a parede das exigências da ala mais radical dos separatistas catalães, Puigdemont vê esse espaço encurtar. A CUP exige o levantamento da suspensão da declaração de independência e o governo espanhol insiste que a pergunta é simples: "Declarou a independência, sim ou não?"

Reuters
13 de Outubro de 2017 às 17:51
  • ...

Quando faltam já menos de três dias completos para terminar o primeiro prazo limite definido pelo governo espanhol para receber uma clarificação sobre se a Generalitat declarou ou não a independência, o presidente do governo autonómico da Catalunha está sob crescente pressão dos aliados nacionalistas mais à esquerda.

 

Esta sexta-feira, 13 de Outubro, a Candidatura de Unidade Popular (CUP, partido de extrema-esquerda que apoia, no parlamento catalão, o governo protagonizado pela aliança soberanista Juntos pelo Sim) dirigiu uma missiva a Carles Puigdemont em que exige ao presidente da Generalitat que retire a suspensão da declaração unilateral de independência (DUI) anunciada no início desta semana.

 

A CUP argumenta que a intenção do governo catalão de anunciar a DUI com efeitos suspensos para viabilizar um diálogo mediado com Madrid saiu gorada, pelo que defende o regresso a uma via de desobediência aberta face aos normativos constitucionais.

 

A força herdeira do histórico anarquismo catalão diz que Puigdemont não deve recuar por receio da retaliação do governo de Mariano Rajoy. "Se pretendem prosseguir com a aplicação do artigo 155 da Constituição espanhola que o façam já com a república [catalã] proclamada", lê-se na carta citada pelo La Vanguardia.

 

Na noite desta quinta-feira, a Assembleia Nacional Catalã (ANC, movimento favorável à independência de que é originária Carme Forcadell, presidente do parlamento catalão) também já havia instado Puigdemont a concretizar a DUI.

 

É cada vez menor o espaço de manobra do líder do governo autonómico catalão. A Esquerda Republicana da Catalunha (ERC, que junto ao PDeCAt de Puigdemont integram a aliança Juntos pelo Sim), através do porta-voz Sergi Sabrià, defende que na resposta ao governo chefiado por Rajoy o governante catalão "deve deixar claro que a independência está declarada".

 


O requerimento enviado pelo governo de Espanha, instando a Generalitat a esclarecer se declarou efectivamente a independência de forma unilateral, prevê que até segunda-feira o governo autonómico esclareça a ambiguidade do anúncio feito na passada terça-feira por Puigdemont.

 

Estabelece ainda um segundo prazo, a próxima quarta-feira, para a Generalitat voltar à legalidade renunciando definitivamente à DUI e às leis do referendo e da desconexão aprovados em Setembro pelo parlamento, e logo declaradas nulas pelo Tribunal Constitucional de Espanha.

 

Artur Mas, ex-presidente da Generalitat e figura principal na via de ruptura adoptada pela Catalunha nos últimos anos, veio entretanto em auxílio do sucessor Puigdemont, lembrando que é ele quem preside ao governo regional e não a CUP nem a ANC.

 

"Se pensamos que a independência da Catalunha advém simplesmente da proclamação de uma república, é porque não conhecemos a realidade", sustentou Artur Mas que se mostrou pouco confiante nas possibilidades de sucesso da DUI. "O reconhecimento externo é essencial", notou Mas aludindo ao facto de vários países e a própria União Europeia terem alertado que não reconhecerão uma Catalunha independente.

 

Madrid lembra que ainda é possível evitar retaliação

 

À medida que Puigdemont se vê cada vez mais pressionado internamente, o governo espanhol veio dizer que se a Catalunha renunciar à ilegalidade podem ser evitadas medidas de retaliação. Madrid diz que só assim será possível evitar a activação do artigo 155 da Constituição, isto depois de o requerimento enviado para Barcelona na quarta-feira ter sido o passo prévio ao efeito accionar da "bomba atómica".

 


"A pergunta é muito simples. Declarou a independência, sim ou não", questionou esta sexta-feira Soraya Sáenz de Santamaría, vice-presidente do governo espanhol.


A número dois de Rajoy, que falava no final do segundo encontro do conselho de ministros realizado esta semana, recupera a ideia de que tudo dependerá da resposta que vier a ser dada por Puigdemon. "Tem uma oportunidade para evitar as medidas do [artigo] 155", disposto que permite ao governo central suspender a autonomia catalã para restabelecer o "interesse geral".

Santamaría insiste na necessidade de regresso "ao sistema democrático e de direito" e no restabelecimento do diálogo - via até aqui sempre rejeitada por Rajoy -, o que, no seu entender, deve ser feito no Congresso espanhol (parlamento) dado ser a câmara onde está "representado todo o povo espanhol".

A demonstração governamental de abertura à negociação ficou patente na disponibilidade do primeiro-ministro, revelada por Pedro Sánchez, secretário-geral do PSOE, de iniciar um processo de discussão sobre uma reforma constitucional. Rajoy sempre recusara a proposta de Sánchez tendente a um modelo territorial de tipo federal. Cenário que já mereceu também a abertura do Cidadãos de Albert Rivera. 


Em termos figurados poder-se-ia dizer que Puigdemont está à beira de dois precipícios. Se na terça-feira estava à beira do precipício e optou por fazer marcha atrás anunciando a DUI com efeitos suspensos, agora qualquer que seja a sua resposta a Madrid haverá repercussões.

 

Se disse que "sim", que houve DUI, o governo central vai agir dando início a um processo que dificilmente teria um final que não fosse o de eleições antecipadas na Catalunha. Se disse "não" abre uma ainda maior fissura no bloco soberanista catalão, cuja unidade vem sendo minada pelos acontecimentos dos últimos dias.

Ver comentários
Saber mais Catalunha Espanha CUP Juntos pelo Sim Carme Forcadell Carles Puigdemont Mariano Rajoy ANC ERC Albert Rivera Artur Mas Generalitat
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio